quinta-feira, 16 de outubro de 2014




O OURO DO SOL NASCENTE 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 16/10/2014) 

O Brasil encerrou com méritos a sua aventura asiática que, somada à recente aventura nas terras do Tio Sam, lhe confere quatro vitórias com o placar agregado de 8x0, como se costuma dizer, o que resgata um pouco da nossa autoestima.
Parece que começamos a colocar a casa em ordem ao vencer, pela ordem, a Colômbia, o Equador, a Argentina e o Japão, restando de significativo o triunfo sobre os “hermanos” a quem, como afirma o trêfego Galvão Bueno é sempre bom vencer.
O futebol apresentado pela seleção cresceu nas últimas duas partidas se começarmos a contar a partir do vigésimo minuto do primeiro jogo, quando Tardelli anotou 1x0. Até então a atuação da seleção havia sido tão pífia como nos 180 minutos contra colombianos e equatorianos, dois jogos que vencemos, mas não convencemos.
Há que se notar que na era Dunga os gols estão sendo anotados por atacantes – Neymar fez quatro contra o Japão, Tardelli fez dois contra a Argentina, Neymar fez outro contra a Colômbia e Willian fez o gol dele contra o Equador. De negativo, fica a quase certeza de que o Brasil é só Neymar, autor de cinco dos oito gols anotados e melhor jogador do time nas duas excursões – América e Ásia – como, aliás, era de se esperar. 
Se a vitória contra a Argentina foi comemorada como um feito importante, posto que os nossos vizinhos são atualmente os vice-campeões do mundo e bateram a campeã Alemanha há quarenta dias, a goleada sobre o Japão não passou de um dever de casa cumprido.
Os japoneses são nossos tradicionais fregueses e sempre deram a impressão de que para eles é uma honra nos enfrentar... e perder.
O jogo contra os nipônicos foi mamão com açúcar e serviu para Dunga por os nervos no lugar, transparecer um pouco do polimento que ele não tem e testar seu sistema de jogo.
Contra a Argentina o time bateu muito e jogou no erro do adversário, mas contra o Japão ele aproveitou o modo de jogar aberto dos asiáticos, que cometeu o erro de tentar jogar de igual para igual e caiu de quatro.
Mas o futebol do Brasil ainda está carente de uma melhor organização na armação das jogadas e da excessiva necessidade de contar com o futebol de Neymar, como já foi enfatizado alguns parágrafos atrás.
A metáfora sobre o ouro do sol nascente tem lá a sua lógica, posto que as partidas foram disputadas no outro lado do mundo, lugar onde – dizem os poetas – nasce o sol. Além disso um dos protagonistas dos embates – o Japão – é conhecido como “O País do Sol Nascente”.
A Argentina entra de graça no jogo de palavras porque apesar de não ter nenhuma relação quanto ao nascimento do Astro-Rei, tem a cara do sol estampada na sua bandeira.
E o ouro, que faltou no Campeonato Mundial, está regiamente presente no cachê recebido pela CBF pelos jogos realizados em Pequim e Cingapura, o que justifica a expressão de que a corrida ao ouro (do sol nascente) foi bastante proveitosa.
É claro que a entidade não revela os valores, mas o leitor pode calcular o cachê resultante desses dois jogos com a chancela da seleção brasileira, pois ela ainda desperta total interesse no mundo, mesmo com o fiasco da Copa no Brasil.

 

 

 

terça-feira, 14 de outubro de 2014





BRASIL VENCE DO OUTRO LADO DO MUNDO 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 14/10/2014) 

Três meses após o vexame da Copa do Mundo, a CBF fez a seleção cumprir um amistoso de risco contra a Argentina. Foi um negócio da China, se considerarmos o valor arrecadado pela entidade e o local do embate. E foi um amistoso de risco porque aparentemente prematuro: o Brasil está começando uma nova fase e deveria fazê-lo com muita calma e prudência.
José Maria Marin nunca escondeu o desejo de apagar de vez o trauma dos 7x1 contra a Alemanha, porque considerou o desastre apenas um simples acidente de percurso. Para ele, todas as coisas na Copa foram bem planejadas e feitas com perfeição, e somente uma dose de má sorte cavalar poderia ter eliminado o Brasil da competição da forma como eliminou.
Para acabar com a má impressão deixada pelo ocorrido, ele arregaçou as mangas e substituiu o técnico perdedor num piscar de olhos, sem avaliar criteriosamente o mercado nem levar em conta as razões do fracasso.
Dunga e Gilmar Rinaldi foram colocados nos lugares de Felipão e Parreira e com isso Marin contava com uma reviravolta no panorama. Até agora, deu certo.
Marin continua vivendo num mundo de faz-de-conta onde tudo é cor-de-rosa, e nem passa pela sua cabeça que está na hora de uma reformulação total de ideias, incluindo aí os modernos métodos de gestão utilizados por empresas vencedoras. Como, porém, o futebol vive de resultados, ele vai faturando seus pontos, com três vitórias e nenhum gol sofrido na nova era Dunga.
A partida contra a Argentina tinha vários aspectos para serem levados em conta: em primeiro lugar, tratava-se do nosso maior adversário, contra o qual disputamos 100 partidas, ganhando 40, perdendo 36 e empatando outras 24; além disso, estava em disputa uma taça, que representa o Superclássico das Américas e vai enriquecer a sala de troféus da CBF; finalmente, o Brasil precisava voltar a ser respeitado pelo resto do mundo.
Numa análise fria da partida, podemos dizer que o Brasil jogou com inteligência, aplicando uma tática de time pequeno até fazer o primeiro gol, numa falha da zaga argentina muito bem aproveitada por Diego Tardelli, naquilo que foi o primeiro chute da nossa seleção a gol. Depois, jogou no erro e no nervosismo do adversário, tentando explorar as jogadas individuais de Neymar – duramente marcado – e de Willian, que tinha muito espaço pela direita devido aos avanços do lateral Rojo e às dificuldades de cobertura da zaga central, Demichelis e Fernández, muito lentos e pesados.
O segundo gol veio também através de uma falha defensiva e do oportunismo de Tardelli.
De positivo, vimos a vontade de o time se encontrar, a obediência tática dos jogadores ao pragmatismo do treinador, e a volta de Kaká, que no pouco tempo que jogou deu uma consistência diferente para o meio-campo. De negativo, a impressão de que o torcedor brasileiro vai continuar sofrendo com a falta de qualidade do nosso futebol.
Mais negativa ainda continua sendo a atitude do técnico Dunga, que mais parece um cão raivoso. Falta-lhe a postura exigida ao cargo de técnico de uma seleção que ostenta o nome de um país.
Dunga bateu boca inutilmente com o pessoal do banco argentino, falou palavrões para o quarto árbitro e mostrou um sério descontrole emocional durante toda a partida, continuando até depois do final do jogo.
E o seu time ganhou por 2x0! Imaginem se tivesse perdido?
O público chinês fez o que pode para incentivar as duas seleções. Infelizmente, porém, o gramado do Ninho de Pássaros mais parecia o chão de um galinheiro, criando muitas dificuldades para brasileiros e argentinos dominarem a bola e melhorarem a qualidade do espetáculo.