sexta-feira, 11 de maio de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 07/04/2017
Rádio Universidade FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

GIULIO GRANATI QUARTET - LIVE AT MOODS  

Quando os primeiros músicos de jazz americanos levaram o novo estilo para a Europa no início do século 20, poucas pessoas podiam apostar no crescimento do interesse do europeu pela nova música. A Europa era musicalmente setorizada, com cada país desenvolvendo seu sentimento próprio até que o jazz foi tomando conta e globalizou todo o continente, fazendo franceses, alemães, italianos e todos os povos pudessem dialogar na mesma linguagem musical. Um belo exemplo dessa atitude é o pianista italiano Giulio Granati, que fez da Itália, Alemanha e Suiça o seu palco predileto e aqui se apresenta com seu quarteto trazendo um jazz de vanguarda com muita música autoral ao lado de uma surpreendente interpretação intimista da tradicional "Over the Rainbow". A gravação foi feita ao vivo em Zurique no ano de 2003.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini
                                                                                                                                    








A SÃO PAULO DE ADONIRAN BARBOSA
Parte 1

(Publicado no site da Academia Poética Brasileira)

Meu São Paulo
foi da garoa, tempo frio que já mudou.
Cantada pelo filho do italiano
está mais quente a cada ano,
é o samba urbano que chegou.
Bexiga, Barra Funda, Lapa e Mooca,
e a maloca que, saudosa,
hoje não existe mais,
porém a caravana colorida
evolui na avenida
evocando os bons tempos do Brás

Com empolgação,
meu São Paulo é um poema
de Malvina, Adoniran,
Mato Grosso e Iracema.

Trem das onze,
as mariposas vão sambando na estação,
lembrando da moçada o sacrifício,
a derrubada do edifício,
o antigo Albion.
Acende o candeeiro de mansinho,
traz de volta o cavaquinho
pra encantar meu bem querer.
Cidade de trabalho e de progresso,
seu poeta e seu sucesso
nós vamos cantar outra vez
...”

(“A São Paulo De Adoniran Barbosa – de Augusto Pellegrini)

Esta é a letra de um samba que eu fiz em homenagem a Adoniran Barbosa no ano de 1975 para concorrer à escolha do samba-enredo para o carnaval de 1976 pela G.R.E.S. Pérola Negra, Vila Madalena, São Paulo, cujo tema era exatamente “A São Paulo de Adoniran Barbosa”. A música concorreu, não ganhou, mas eu me senti premiado por ter convivido com o poeta, ainda que por breves instantes, pois isso enriqueceu a minha alma.
Gostaria de ter absorvido mais um pouco da sensibilidade de Adoniran, mas o nosso tempo foi muito curto. Enfim, como ele mesmo dizia – “mas isso num faz mal, num tem ‘portança’...”
                                                                 -0-

Desde muito jovem a música sempre me encantou.
Talvez por isso eu gostasse de exercitar o meu lado compositor, na maioria das vezes fazendo sozinho a letra e a melodia da música, mesmo não conhecendo coisa alguma sobre teoria musical nem tendo a prática de executar qualquer instrumento.
A música era produzida dentro da minha cabeça e, na ausência de um gravador, eu tinha que a cantarolar dezenas de vezes para não esquecer a linha melódica. Enquanto isso, o arranjo e a orquestração – violão, violinos, metais, piano, percussão – iam tomando sua forma definitiva, mas sempre dentro da minha cabeça.
Os compositores leigos, como eu, sabem do que eu estou falando.
Isto causava sérios problemas quando eu queria cantar as minhas composições acompanhado por algum instrumentista, pois evidentemente a harmonia que ele extraía do instrumento era bem diferente daquela que eu havia concebido.
Quando comecei as minhas tentativas, fui influenciado pela música brasileira da época – coisas de Dolores Duran, Tito Madi, Antônio Maria, Alberto Ribeiro, Fernando Cesar, Klécius Caldas, Armando Cavalcante, Henrique Lobo e Luiz Bittencourt, todos autores de sambas-canções que tinham como intérpretes cantores como a mesma Dolores, o próprio Tito Madi, e também Nora Ney, Agostinho dos Santos, Dóris Monteiro, Lucio Alves, Cauby Peixoto, Dick Farney e alguns outros tantos.
Mesmo assim, a minha música não possuía as características específicas do samba-canção e não obedecia à configuração tradicional dos seus versos, uma sequência simples de primeira estrofe-segunda estrofe, pois o samba-canção convencional quase não utiliza refrãos.
Além do mais, eu “quebrava” a melodia às vezes de forma inusitada, coisa típica – de acordo com a opinião de músicos e especialistas – de quem não é engessado pela teoria e sente mais liberdade para simplesmente expor seus sentimentos.

Sozinho pela madrugada
não procuro amigos,
só procuro paz.
Partiu, não me disse nada,
não deixou resposta, não,
isso não se faz...

Eu tenho um pressentimento que me fala
mais alto que o desalento que em mim cala.
Nunca mais encontrarei quem me consola,
e dos sonhos que sonhei eu vivo agora
...

Sozinho pela madrugada,
não procuro amigos,
só procuro paz.
É muito fácil compreender,
mas é difícil resistir.
Sozinho pela madrugada,
vou ficando triste,
vou ficando só
...”

(“Sozinho Pela Madrugada – de Augusto Pellegrini)

Mas logo chegou a bossa nova, e eu incorporei o estilo às minhas composições, sem abandonar o jeito da canção e do samba-canção. E continuei distante daquilo que João Gilberto chamava de “samba autêntico” – tipo Ary Barroso, Assis Valente, Ataulfo Alves, Dênis Brean – como também do samba-canção tipo deprê, conhecido por “dor-de-cotovelo” – músicas de Lupicínio Rodrigues, Fernando Lobo, Herivelto Martins, Jair Amorim – que abordava o romantismo de forma dramática, como o tango, e dos quais eu até gostava, mas não me identificava a ponto de compor coisas do gênero.
A bossa nova me mostrou que a gente podia fazer poesia com as coisas mais simples do dia-a-dia e da natureza, sem necessidade de utilizar parnasianismos ou erudição nas palavras.

Descanso,
é gostoso de ver
as nuvens brincando,
e figuras formando
bem alto, no alto do céu,
não penso,
quero fugir da vida
como o dia perdido
no qual eu fugi de ti.

Morreu o sol,
escurece depressa
igual ao momento
em que escureceu
o dia sem luz que eu vivi.
Desperto,
meu descanso não era,
era sonho, quimera,
eu não fujo, eu não posso fugir
...”

(“Descanso” – de Augusto Pellegrini)

SEGUE

terça-feira, 8 de maio de 2018






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 10/02/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

PHIL WOODS & THE FESTIVAL ORCHESTRA - NEW CELEBRATION 

O jazz das grandes orquestras, conhecidas como "big bands", pode fazer com que a liberdade de improviso dos solistas se misture com a rigidez da música de partitura dos membros da orquestra, criando uma situação onde a personalidade do maestro arranjador entra em choque com a personalidade do solista. Isto não ocorre quando o compositor, o maestro, o arranjador e o solista principal são a mesma pessoa, como no caso deste álbum que apresenta Phil Woods, uma das maiores expressões do sax-alto, do sax-soprano e da clarineta. Nestas gravações feitas em 2013, Woods presta uma homenagem a músicos eloquentes como Hank Jones, Art Pepper, Charlie Parker e Alvin Stoller, em composições e interpretações que vão do coruscante ao lírico, sempre com a marca registrada do seu sopro inconfundível.       

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini
                                                                                                                                    




segunda-feira, 7 de maio de 2018





O IMPROVISO NO JAZZ

(Parte 2 - final)

(Artigo escrito para a página da Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/ )


A improvisação é uma forma de o intérprete apresentar a música, na qual ele busca impor uma identidade própria, de acordo com o seu feeling do momento.
Isto significa que dependendo daquele instante, da disposição, do humor e do estado de espírito em que se encontra, o mesmo intérprete pode apresentar diferentes maneiras de se expressar em diferentes ocasiões, exibindo improvisos diferentes para a mesma música. Isto significa também que um improviso quase nunca é repetido nos detalhes pelo mesmo músico quando de diferentes apresentações da mesma música, mesmo se ele estiver se apresentando com os mesmos músicos.
Como já foi ressaltado, a improvisação pode nascer tanto da habilidade técnica e da sensibilidade que o músico tenha para executar sua interpretação, como de alguma dificuldade que ele possa ter para desenvolver ipsis litteris aquilo que foi escrito pelo compositor. Assim, ele acaba alterando a linha melódica original, e ao fazê-lo acaba muitas vezes, com a sua releitura, compondo uma nova melodia, diversa daquela que foi escrita, embora feita sobre a mesma base harmônica.
Ao contrário do que muita gente pode pensar, a improvisação não acontece apenas com o jazz ou com a música popular moderna.
Muitas músicas que hoje chamamos de erudita, mas que podiam ser consideradas “música popular” na época em que foram compostas, também são pródigas em improvisação, pois frequentemente sofrem modificações no andamento e na melodia nas mãos dos solistas.
O piano de Lizst, Chopin ou Mozart ou o violino de Paganini frequentemente traduziam diferentes variações sobre um mesmo tema, podendo tornar a mesma música mais alegre, mais contemplativa, mais agressiva ou mais romântica, dependendo do desejo do executante.
Estas improvisações, no entanto, nada tinham de jazzistas e muitas vezes não eram exatamente improvisações, mas formas estudadas de executar a melodia e de explorar o mesmo tema em tonalidades maior/menor em diferentes situações.
No jazz isto não acontece, pelo simples fato de que o intérprete jazzista, por mais que memorize certas improvisações, sempre adicionará ou omitirá algum detalhe, levando em consideração o seu “mood” no momento da execução, a interação com os outros instrumentos e a sua criatividade pessoal.
Isto porque o jazz baseia a sua sonoridade em uma peculiaridade que o diferencia dos outros gêneros musicais, tendo como base dois elementos importantes que não existiam na música erudita e não estão presentes em boa parte das músicas modernas: as blue notes (algumas notas diminuídas na escala diatônica tradicional, conferindo à interpretação uma nova escala) e o off-beat (inversão na batida convencional, provocando uma acentuação rítmica não convencional).
Estas são algumas características do jazz, e o músico que não se identifica com elas jamais produzirá o verdadeiro jazz.
O jazz precisa ter também um balanço todo especial, que conhecemos por swing. Além do mais, ele também necessita de espontaneidade, vitalidade e de um correlacionamento entre os executantes que dispensa, embora não exclua, uma regência ou partituras escritas.
Finalmente, o jazz necessita de um fraseado e de uma sonoridade que espelhem a individualidade de cada músico, quer nos solos quer nas intervenções em conjunto.
O músico de jazz precisa possuir estas características, isto é, ter muita alma e muito “feeling”. Isto significa ter uma sensibilidade aguçada que extrapola o puro e simples conhecimento técnico na execução do instrumento ou na interpretação vocal. E é esse swing, essa interação e essa sensibilidade que propiciam o improviso do músico.
O jazzista deve “sentir” cada passagem da melodia de uma maneira muito particular e expressar o seu sentimento em termos de música obedecendo não apenas o que lhe diz o seu instinto, mas também o que determina a concepção do verdadeiro jazz.
O estilo conhecido como “swing” ou o jazz das “big bands”, que possuem como uma das características a formação de naipes de instrumentos que produzem sons harmônicos dotados de blue notes e de off-beats, têm como base arranjos escritos em partituras, o que evita sons desencontrados de instrumentos do mesmo naipe e valoriza a linha harmônica dos instrumentos quando executados em conjunto. No entanto, os solos individuais permitem que os músicos desenvolvam os seus improvisos dentro de um determinado número de compassos que lhes forem designados, mesmo obedecendo ao que foi estabelecido pelo arranjador.
Os temas construídos para o jazz tradicional e para o bebop também obedecem a linhas melódicas rígidas, mas os solos individuais se libertam da rigidez do tema e dão luz aos improvisos.
  




O DIA MAIS LINDO

(Augusto Pellegrini)

O dia mais lindo do pobre
É o feriado
Ele pode descansar
Falou com os amigos
Dormiu de madrugada
Não tem que levantar
Esquece o relógio do ponto
Esquece o olhar do patrão
Esquece a sineta do almoço
Esquece a produção

Da porta do bar vê passeando na avenida
A gente bonita que tem alta posição
Vive imponente, a na certa anda esquecida
Que os dois vão repousar no mesmo chão

O dia mais lindo do pobre
É o feriado
Ele pode descansar
Ganhando no mole
O dinheiro miserável
Que a lei mandou pagar
Feriado de santo de igreja
Ou com desfile militar
Mas vem a danada certeza
Do dia se acabar

O dia mais lindo do pobre
É o feriado
Cada jogo uma emoção
Chutou muita bola
No terreno do lado
Fez gol de seleção
Feriado de santo de igreja
Ou com desfile militar
Mas vem a danada certeza
Do dia se acabar

1968