quinta-feira, 7 de agosto de 2014






PLIM-PLIM – OS DONOS DO FUTEBOL
 
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 07/08/2014)
 
Se é que havia alguma dúvida sobre quem tem os direitos de administrar o futebol dos clubes brasileiros, a cortina finalmente se abriu e mostrou o que todo mundo já sabia.
A Rede Globo, através da Globo Esportes, na pessoa do seu diretor Marcelo Campos Pinto, convocou os 20 clubes da Série A para uma série de reuniões na sua sede em São Paulo a partir desta quinta-feira, 7 de agosto, para “estreitarmos nosso diálogo com vistas à melhoria do futebol e, em especial, da capacidade de investimento dos clubes na formação dos jogadores”.
A Globo será representada por Roberto Marinho Neto, Renato Ribeiro, Anco Marco Saraiva, Pedro Garcia e Eduardo Gabba, e a CBF também mandará um representante, ainda não definido.
Supostamente, pelo que diz o próprio estatuto da CBF, caberia a ela esta convocação, e não é de conhecimento público que esta tarefa possa ser terceirizada.
Os dirigentes dos clubes ficaram surpresos e com certeza preocupados porque terão que lidar diretamente com o dono do dinheiro e isto pode acabar com certos desmandos, quem sabe os obrigando a uma prestação de contas e a alguma responsabilização civil sobre a verba que a Globo lhes destina. Até porque também estão na pauta de discussões o “processo de gestão dos clubes e das entidades da organização do desporto, a equação financeira e as oportunidades de novas receitas nos estádios”, isto é, a Globo vai entrar de sola no processo de administração do futebol, o que a CBF nunca fez nem pretende fazer, e o Ministério do Esporte não pode fazer porque a CBF não é uma instituição governamental.
Em outros países, a Federação geralmente cuida apenas dos assuntos da seleção, em todas as suas categorias, e existe uma Liga composta pelos clubes que administra as competições dos clubes.
No Brasil, o Clube dos 13 foi criado exatamente para isso, quando em 2000 a CBF desistiu de fazer o campeonato por causa de problemas com a Justiça Esportiva e fez com que ele se transformasse na cinzenta Taça João Havelange, que depois foi reconhecida como válida para efeitos de estatística do Campeonato Brasileiro.        
Mas o Clube dos 13 nunca passou de uma entidade amorfa que jamais se preocupou em administrar o futebol dentro das suas necessidades, preferindo se dedicar apenas à negociação da gorda verba de patrocínio oferecida pela Rede Globo, que a partir daí começou de fato a gerenciar a situação.
Esta convocação visando analisar com profundidade o que está acontecendo com o futebol brasileiro não representa de fato nenhuma novidade, e deve ser vista sob dois pontos de vista críticos diferentes.
Existe um lado assumidamente negativo, pois dá à raposa o direito de vigiar o galinheiro. Se a Rede Globo já pinta e borda à vontade, fazendo com que o futebol brasileiro seja apenas mais um departamento da sua instituição, pois define os horários dos jogos e possivelmente a própria tabela de acordo com seus interesses comerciais, a tendência é que isto se institucionalize. Os clubes que proporcionam maior audiência já são bastante beneficiados pela distribuição desigual da verba de direitos de televisão (que só na Série A será da ordem de um bilhão de reais em 2015), e a tendência é que esta desigualdade aumente dependendo dos rumos e dos humores da emissora.
O lado positivo da história é que alguém está finalmente preocupado em consertar as coisas em termos de organização antes que a CBF e os dirigentes dos clubes, com a sua proverbial incompetência e falta de visão, acabem de vez com o que ainda resta.

terça-feira, 5 de agosto de 2014




                                                              OS GRINGOS
(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 04/08/2014) 
Muito ainda se discute a respeito da contratação de um técnico estrangeiro para modernizar a estrutura tática do futebol brasileiro.
Boa parte da imprensa é a favor, por entender que os treinadores brasileiros estão acomodados, não reciclam os seus conhecimentos nem procuram entender as novidades que estão acontecendo no mundo, especialmente na Europa. O torcedor, no entanto, ainda está um pouco reticente, como se considerasse uma certa falta de patriotismo entregar nossa riqueza futebolística nas mãos de um aventureiro.
Os dirigentes, por seu turno, não querem nem tocar no assunto, e os técnicos desconversam, mas evidentemente temem por uma perda de mercado, que já está um tanto incerto mesmo na competição doméstica pelo cargo.
O Palmeiras resolveu apostar pra ver, e mesmo diante da disponibilidade de diversos profissionais patrícios, alguns mais, alguns menos gabaritados, trouxe o argentino Ricardo Gareca, que tem no seu currículo alguns títulos não muito expressivos dirigindo os clubes Talleres e Vélez Sarsfield, da Argentina e o Universitário, do Peru.
É bem verdade que os treinadores brasileiros, mesmo com a fama e o poderio do futebol pentacampeão também não acrescentaram muito quando foram contratados para trabalhar no exterior. Os mais emblemáticos, Felipão e Luxemburgo, não deram certo em dois dos mais importantes clubes do mundo – Chelsea e Real Madrid – e outros treinadores como Zico, Joel e Parreira não chegaram a efetivamente brilhar nas suas experiências internacionais.
Felipão chegou a dar um certo impulso no futebol português, mas ficou no meio do caminho, até por conta das limitações dos jogadores da terrinha.
Muitos dos nossos jogadores, no entanto, já encantaram o mundo – e a lista é grande, de Julinho a Evaristo, de Falcão a Careca, de Romário a Ronaldo, de Rivaldo a Ronaldinho Gaúcho. Estranhamente, o sucesso dos futebolistas brasileiros sempre se deu na Europa, nunca no continente sul-americano, talvez por questões financeiras, mas também porque na América o seu futebol não seria tão resplandecente, dado o estilo de jogo praticado pelos latinos do lado de baixo do equador.
Mas ao mesmo tempo em que vivemos uma entressafra de exportação, nossos clubes começaram a importar com mais frequência.
Os 12 principais clubes do Brasil (4 de São Paulo, 4 do Rio de Janeiro, 2 de Minas e 2 do Rio Grande do Sul) contam no momento em suas equipes com 36 jogadores estrangeiros, o que dá uma média de 3 jogadores por equipe.
O Palmeiras é o recordista de importações, 6 no total, algumas delas pedidas pelo técnico Gareca, que se sente mais à vontade podendo contar com atletas que ele conhece.
São Paulo e Atlético Mineiro são os que têm menos jogadores estrangeiros na equipe, apenas um cada.
São no total 17 argentinos, 7 paraguaios, 5 uruguaios, 2 colombianos, 2 chilenos, 1 peruano e 1 boliviano, além de Eduardo da Silva, que nasceu no Brasil mas tem nacionalidade croata.
Muitos deles são jogadores de qualidade e titulares indiscutíveis nos clubes brasileiros que defendem.
Os destaques vão para Darío Conca (Fluminense) e Andrés D’Alessandro (Internacional), verdadeiros maestros na organização das suas equipes, e para Paolo Guerrero (Corinthians), Hernán Barcos (Grêmio) e Marcelo Moreno (Cruzeiro) artilheiros que têm feito a diferença nos seus clubes.
É interessante notar que existe uma carência de bons jogadores brasileiros tanto nas funções de meio-campo e assistências aos companheiros (caso de Conca e D’Alessandro) como na definição das jogadas como goleador (casos de Guerrero, Barcos e Moreno), aqui no Brasil e também no exterior.