DE PERNAS PRO AR
O
São Paulo F.C. sempre passou a imagem de ser um clube organizado e movido pelas
boas regras da etiqueta.
Seus
diretores são chamados pela imprensa e pela torcida de “cardeais”, e a sua
postura sempre foi a de um clube que estava muito além do prosaico futebol.
Mas,
igual com o que acontece com muitos milionários falidos, quer porque não se
adaptaram às novas exigências do tempo, quer porque os filhos plantaram
dissidências internas insuperáveis, o tricolor teve em seus dois últimos
presidentes a quebra total do seu paradigma e começou a ostentar todos os
barracos existentes nos seus rivais diretos no futebol tupiniquim.
Até
que, em meio a uma crise financeira e a uma crise técnica que culminaram com a
saída do treinador e o descontentamento de muitos jogadores do elenco, o que
poderá ainda dar muito pano pra manga, o vice-presidente de futebol meteu literalmente
a mão na cara do presidente do clube em uma reunião realizada num hotel chique
da capital paulista, rompendo com uma lealdade construída em nome da
governabilidade da agremiação e, de quebra, provocando a queda de todo o corpo
diretivo.
Tem
mais: na semana passada, durante uma partida disputada por uma liga amadora de
Minas Gerais, um árbitro sacou de uma arma e ameaçou um jogador, só não
atirando porque foi contido e dissuadido pelos próprios auxiliares e porque os
jogadores, sabiamente, abriram espaço.
As
coisas estão ficando de pernas pro o ar.
Isto
lembra 1967, quando o jornalista João Saldanha se desentendeu com o goleiro
Manga na festa que comemorava o título carioca na sede náutica do Botafogo, no
Mourisco, e sapecou-lhe alguns tiros, fazendo com que o jogador pulasse um muro
de três metros de altura (dizem), assustado, mas satisfeito com a má pontaria
do João Sem Medo.
Mas
isto aconteceu numa época em que o mundo não era ungido pelo espírito da paz e
da fraternidade, como deveria ser hoje em dia.
No
final do século passado, futurólogos, astrólogos, quiromantes e palpiteiros em
geral teciam alvíssaras para o novo século que chegava, começando a contagem
regressiva para a Era de Aquário, mesmo que ela viesse a explodir somente lá
pelo ano de 2150.
A
Nova Era, precedida por muita expectativa e tendo como aval a chegada ao século
21, preconizava a paz e um acelerado desenvolvimento cultural, social,
científico e humanístico que iria colocar a humanidade em patamares nunca antes
vividos.
Pois
bem, o século 21 chegou, e parece que o planeta Terra tomou um porre tão
marcante na noite do seu réveillon histórico que até agora não conseguiu
encontrar o seu rumo.
A
partir daí, o mundo, que já era complicado, desatinou de vez, quer seja pela
vulgarização dos mitos, pelo culto à violência, pela ganância desenfreada ou
pela busca insana por alguma coisa que ninguém sabe ao certo o que seja.
Nunca
se matou tanto por tão pouco e nunca o homem foi tão refém do outro homem.
Nunca a natureza foi tão maltratada.
As
notícias absurdas, algumas inéditas, se sucedem. Somente nos últimos dias a
força militar americana bombardeou um hospital humanitário no Afeganistão, o
governo sírio auxiliado pelos russos desencadeou um bombardeio sem precedentes
no seu próprio território e, na França, operários demitidos de uma montadora
automobilística tentaram linchar toda a diretoria.
No
Brasil, o motorista de um senador agrediu um deputado durante um
desentendimento causado no estacionamento do Congresso.
Parece
que ao invés da era de Aquário nós estamos entrando da Era do Apocalipse.
Com
todos estes indicadores, o esporte não poderia ficar de fora.
Espocam
escândalos em todas as áreas e em todos os países. Nunca antes tantos
dirigentes sérios e sisudos forem desmascarados como escroques e nunca os
esportistas se doparam tanto.
E
diretores de clubes tradicionais, que estão no cargo para manter o equilíbrio e
dar tranquilidade aos jogadores e esperança aos torcedores, trocam tapas entre
si como numa briga de rua.
(Artigo
publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 09/10/2015)