segunda-feira, 14 de outubro de 2013


 
 
VERDE QUE TE QUERO VERDE
Foi com certeza atendendo aos rogos da Federação Amazonense de Futebol, não à verve poética de Federico Garcia Lorca como poderia supor o leitor mais erudito, que a CBF instituiu a Copa Verde, torneio tipo mata-mata que será realizado a cada ano nos meses de janeiro e fevereiro a partir de 2014.
Como o seu nome indica, o torneio visa oxigenar os clubes dos estados esportivamente carentes da Amazônia, com a inclusão de times do Brasil Central (onde o verde é menos verde) e do Espírito Santo, um estado que tende mais para a coloração vermelha, com sabor de óxido de ferro.
Serão ao todo dezesseis clubes, desde o tradicional Remo, do Pará, até o desconhecido Oratório, do Amapá, que irão se eliminado a cada duas partidas.
O custo da empreitada deverá ser dividido entre o Ministério dos Esportes, que aposta em uma maior integração do futebol no Brasil, e a TV Interativa, que, talvez por ser interativa, adquiriu a concessão de transmitir o torneio e já está à cata de patrocinadores (dada à atual gritaria contra o mal uso de dinheiro público, o Ministério nega que esteja participando financeiramente deste projeto).
A Copa Verde seguirá mesmo o modelo da Copa Nordeste, embora esta última seja uma competição mais rentável porque agrupa estados de maior tradição futebolística como Bahia e Pernambuco. Desta forma, considerando que o sul e o sudeste estão bem fornidos na participação dos seus clubes no calendário nacional (tanto que alguns clamam pelo enxugamento de torneios e campeonatos), o Brasil finalmente consegue integrar o futebol de ponta a ponta, cobrindo nosso vasto território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o quinto maior do mundo, desde o Monte Caburaí, no Roraima, até o Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul, e desde a nascente do Rio Moa, no Acre, até a Ponta do Seixas, na Paraíba.
Seria bom se esta integração fosse completa, mas a realidade é diferente.
Inexplicavelmente, os clubes do Maranhão e do Piauí foram excluídos desta geopolítica, pois aparentemente não foram considerados nem verdes nem nordestinos.
Não falo pelo Piauí – igualmente discriminado – mas no nosso caso há muito tempo se discute se o Maranhão pertenceria à região nordeste (pela proximidade territorial com Ceará e Piauí e com a divisão estabelecida no mapa) ou à região norte (pelas características do clima e da vegetação).
Agora que surgiu a oportunidade de colocar as coisas nos seus devidos lugares, pelo menos em termos de futebol, a CBF resolveu o problema usando a jurisprudência de Salomão, que ameaçou cortar uma criança ao meio para oferecer cada parte às duas mulheres que clamavam pela maternidade.
Para a CBF, porém, acomodar a situação não significou nenhuma ameaça. Ela simplesmente resolveu deixar os dois estados de fora, e estamos conversados.
O Maranhão foi excluído porque aparentemente não se sabia onde colocá-lo, e o Piauí, embora considerado definitivamente nordestino, também ficou a ver navios.   
Cabe aos presidentes das federações que foram colocadas à margem do calendário nacional – respectivamente Antônio Américo Lobato Gonçalves e Cesarino Oliveira – lutarem pelo seu direito de participar da festa como o fez o colega manauara, pois independentemente do eventual interesse da televisão ou dos patrocinadores, esta exclusão não tem uma justificativa lógica ou sequer moral.
Afinal, quando falam em “verde”, as federações e a CBF se referem a simplesmente uma metáfora, à riqueza de nossas matas (ainda verdes, embora não se saiba até quando) ou simplesmente à forma figurada de como o vulgo se refere ao vil dinheiro?