COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Parte 6)
(Artigo escrito para a página da
Academia Poética Brasileira – https//www.facebook/com/academiapoetica/. Este
site é uma publicação da Academia Poética Brasileira, da qual sou membro)
Sempre gostei
muito de óperas, operetas e teatro musical.
A integração do
enredo com as músicas compostas exclusivamente para ilustrar as situações mostradas
na trama e o arranjo musical que acompanha a história mantém um desenvolvimento
de ações cuja coesão, somada à interpretação do elenco leva a ópera a emocionar
o espectador mesmo quando os diálogos se desenvolvem em língua estrangeira.
A iniciação
veio ainda quando criança, quando ouvia óperas cantadas nas árias de Puccini,
Verdi e Rossini, compositores italianos escolhidos a dedo pelo avô Pedro
Cantieri, que ia às lágrimas com os dós de peito da soprano e do tenor.
Na agenda, a “Aria
Di Musetta”, da ópera “La Boheme” (Giacomo Puccini), o “Brindisi”, de “La Traviata”
(Giuseppe Verdi) e o “Figaro”, do “Il Barbiere Di Seviglia” (Gioachino Rossini),
com melodias encantadoras e arranjos fantásticos.
Só muito mais
tarde tive a oportunidade de assistir a encenações operísticas ao vivo, o que
apenas fez aumentar o meu entusiasmo pela matéria.
Também
aumentaram o meu entusiasmo as operetas e os musicais que me foram transmitidos
pelo cinema de Hollywood dos anos 1960 – como “West Side Story” (“Amor Sublime
Amor”) de 1961, “My Fair Lady” (“Minha Querida Dama”) de 1965 e “The Sound Of Music” (“A Noviça
Rebelde”), também de 1965, e pelo teatro de vanguarda brasileiro dos anos 1960,
que agregava muita música a muito clamor social e mensagens políticas pungentes
ao mesmo tempo que românticas, dentro de um cenário simples e reduzido – ao
contrário do esplendor das montagens das óperas e dos espetáculos musicais.
Foi levando em
conta tudo isso que eu pretensiosamente resolvi, no final da década de 1960,
escrever uma peça musicada tendo como inspiração as apresentações dos Teatros
de Arena e Oficina, em São Paulo, dos quais eu era frequentador assíduo.
As encenações
do Arena e do Oficina que me serviram de inspiração traziam uma abordagem
diferente, onde a participação do público era mais sentida. Os shows “Opinião“
(1964), dirigido por Augusto Boal, “Arena Conta Zumbi” (1965), com texto de Gianfrancesco
Guarnieri e “Roda Viva” (1967) escrita por Chico Buarque são exemplos de teatro
musical de vanguarda no Brasil.
A minha peça
tinha o pomposo nome de “Ópera do Amor em Tempo de Revolta” e o libreto faz
parte do meu livro “O Fantasma da FM”, lançado em 1992. Escusado dizer que
nunca foi exibida, sequer ensaiada, e que a montagem ocorreu apenas dentro da
minha cabeça.
A peça conta a
história de um rapaz chamado João que trabalha em uma fábrica pertencente a um
industrial cuja filha, Maria, se apaixona por ele – e vice-versa – dando origem
a uma série de situações que incluem uma greve e um final feliz (diferentemente
do que acontece com muitas óperas tradicionais).
Daí surgiram
algumas músicas já divulgadas na minha rede social e no meu blog, cujas letras
podem ter sido a princípio um tanto incompreensíveis ao leitor porque foram compostas
para atender o enredo, isto é, faziam parte de um contexto específico.
Além de João e
Maria, protagonistas, a história tem a participação de Simão (pai de Maria mais
interessado nas suas indústrias do que nos amores da filha), Elisa (a
preconceituosa amiga de Maria, que não entende a sua paixão por um empregado da
fábrica) e um bocado de figurantes.
Estou
transcrevendo nos próximos capítulos as letras de algumas músicas na sequência
em que são apresentadas na peça. As melodias também são da minha autoria,
exceto quando compostas pelo amigo e parceiro Renato Winkler e devidamente
anotado.