sexta-feira, 14 de agosto de 2015





BOAS E MÁS LEMBRANÇAS 

O Estádio Governador Magalhães Pinto, mais conhecido como Mineirão, vai completar cinquenta anos de existência no próximo mês. A sua inauguração aconteceu no dia 5 de setembro de 1965 e foi marcada por um fato curioso.
Ao invés das autoridades políticas e esportivas programarem um evento que reunisse equipes locais ou mesmo uma seleção mineira competindo com algum adversário, eles optaram por uma partida entre a seleção brasileira e a seleção do Uruguai.
Os uruguaios continuavam atravessados na nossa garganta desde a vitória quinze anos antes no Rio de Janeiro – aquele fatídico 2x1 que nos custou a perda da Copa do Mundo – e os mineiros sonhavam com uma magnífica vingança que pudesse acalmar as dores de 1950, além de augurar para o estádio um futuro promissor de grandes jornadas.
Mas aí o fato curioso não ficou só na ausência do futebol mineiro na inauguração do seu megaestádio.
Como a decisão dos mineiros foi tomada meio em cima da hora, contrariando a sua tradição de agir de forma meticulosa e detalhista, a CBD (antigo nome da CBF) teve dificuldades em formar uma seleção que pudesse minimamente representar o país sem o risco se dar um vexame inauguratório.
Afinal, o Uruguai continuava a ter um time bastante respeitável e havia terminado de forma invicta a sua participação nas eliminatórias para a Copa de 1966.
Os papões do futebol brasileiro no momento – o Santos de Zito, Pelé e Coutinho e o Botafogo de Gerson, Garrincha e Jairzinho – tinham outros planos e não poderiam ceder seus jogadores para formar uma seleção de respeito.
A solução então foi apelar para um único time, com titulares, reservas e comissão técnica para, entrosado, assumir a responsabilidade de encarar as complicações da partida.
O time escolhido para representar o Brasil foi o Palmeiras, único time que naquele dado momento rivalizava com os dois papões, tanto no âmbito doméstico, contra o Santos, como no âmbito nacional, contra o Botafogo.
O alvi-verde, comandado pelo argentino Filpo Nuñez – o único estrangeiro a dirigir uma seleção brasileira em toda a história – tinha uma plêiade de craques que se destacavam com um futebol altamente técnico e competitivo, entre eles Djalma Santos, Ademir da Guia e Julinho Botelho, além de outros que por diversas vezes vestiram a camisa da seleção em outras oportunidades, como Valdir de Moraes, Djalma Dias, Dudu, Zequinha, Germano e Servílio.  
A seleção brasileira, ou melhor, o Palmeiras, exibiu um futebol de alto nível e venceu a Celeste Olímpica por incontestáveis 3x0, gols de Rinaldo, Tupãzinho e Germano e deu um selo de qualidade às festividades da inauguração.
O troféu da partida ficou na sede da CBF por 23 anos, até que em 1988 ele foi entregue para o Palmeiras, numa justa homenagem pela vitória conseguida em nome do escrete.
Quase 50 anos depois, na rodada do último fim de semana o Palmeiras voltou a se apresentar no Mineirão, agora todo reformado dentro do padrão Fifa, para enfrentar o Cruzeiro, pelo Campeonato Brasileiro. Para lembrar a data festiva e ao mesmo tempo homenagear a seleção canarinho, a equipe trajou um uniforme especial, com a camisa no tom amarelo-canário e o calção azul.
Mas a cumplicidade do velho Mineirão com a seleção brasileira, construída de uma forma vitoriosa desde a sua inauguração, parece que foi interrompida com o surgimento do novo Mineirão, reformado para recepcionar a Copa do Mundo de 2014.
Bastou o Palmeiras entrar em campo vestindo o uniforme da seleção para que a síndrome dos 7x1 tomasse conta do espetáculo, e o que se viu foi outra derrota verde-amarela, talvez não tão acachapante, mas definitiva.
Assim, a homenagem palmeirense saiu pela culatra.

 

(Artigo publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 14/08/2015)