sábado, 26 de novembro de 2016





A CRIATIVIDADE BRASILEIRA

Na edição de domingo passado O Imparcial publicou na sua Página Três uma interessante matéria sobre invenções brasileiras. Vou mencioná-las novamente aqui, levando em conta que vale a pena refrescar a memória do leitor para as coisas boas num mundo infelizmente infestado de notícias ruins que o jornalismo tem, por missão, a obrigação de divulgar.
Além do mais, após a publicação impressa, Gol de Placa também alimenta meu Facebook e meu blog pessoal, onde tenho diariamente eventuais visitantes virtuais que não são necessariamente leitores do jornal.
A principal maravilha brasileira é o avião de Santos Dumont, cuja paternidade é também reclamada pelos países de língua inglesa, que proclamam os Irmãos Wright como autores da façanha.
Além do aeroplano 14-Bis, outras criações brasileiras ganharam o mundo, eventualmente com uma ou outra ressalva de algum estrangeiro despeitado.
O primeiro balão tripulado (pomposamente chamado de aeróstato) foi a Passarola do padre Bartolomeu de Gusmão. Também levam a assinatura verde-amarela o delicioso doce brigadeiro, de autoria de um confeiteiro desconhecido teve sua receita batizada em homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes, político-militar dos anos 1950,  e o prosaico escorredor de arroz, inventado pela cirurgiã-dentista Therezinha Zorowich. Adicionem-se a estes inventos a máquina de escrever com os seus complicados dispositivos mecânicos (padre Francisco João de Azevedo) e o orelhão (Chu Ming Silveira), atualmente em fase de extinção, além do identificador de chamadas telefônicas – o  bina – (Nélio Nicolai) e a obra prima do engenheiro Aron de Andrade, o coração artificial.
Por último, uma invenção que daria muito que falar, a urna eletrônica, atribuída a um desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina chamado Carlos Prudêncio, datada de 1989.   
Os estádios esportivos também receberam a sua contribuição com a invenção do painel eletrônico patenteada em 1996 pelo cearense Carlos Eduardo Lamboglia.
Apesar de seguir de forma ortodoxa um regulamento que foi criado em 1863, o futebol tem também as suas “invenções” ao longo do tempo, quer por adaptações aos tempos modernos quer por necessidade de aperfeiçoar a didática e a nomenclatura.
Mas aí os brasileiros nem sempre entram com o mérito da invenção.
Hoje tomei conhecimento que o reverente minuto de silêncio imposto pela arbitragem quando do falecimento de algum esportista de renome ou de alguma tragédia coletiva de alta comoção pública foi obra de parlamentares portugueses para prestar uma homenagem póstuma ao brasileiro Barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior).  
Apesar do “gol olímpico” (cobrança direta de um escanteio onde a bola entra no gol sem a participação de nenhum outro jogador), ter nascido na Escócia, tendo como registro histórico da sua autoria o escocês Billy Alston em agosto de 1924, o lance foi batizado como tal num jogo amistoso entre as seleções da Argentina e do Uruguai em  outubro do mesmo ano, no gol anotado pelo argentino Cesáreo Onzari (a Argentina ganhou por 2x1). O nome não teve a intenção de homenagear ninguém, mas sim de ironizar a seleção uruguaia, denominada Seleção Olímpica por ter se sagrado campeã olímpica no mesmo ano em Paris.
Assim como acontece com o avião (e a máquina de escrever), existem muitos candidatos a serem o inventor da “bicicleta”. O brasileiros afirmam que foi Leônidas da Silva, useiro e vezeiro em praticar a jogada, mas os chilenos consideram Ramón Unzaga como o inventor do lance. Para os argentinos e italianos, Luis Indaco e Carlo Parola são respectivamente indicados como os precursores da jogada.   
A “paradinha”, lance em que o atacante atrasa a cobrança do pênalti para obter vantagem sobre o goleiro, já foi autorizada e proibida algumas vezes. Atualmente sua validade depende da interpretação do árbitro. Seu inventor teria sido Pelé, que a utilizou pela primeira vez num amistoso em 1962 contra o River Plate. O lance foi anulado pelo árbitro. O próprio Pelé, no entanto, afirma que ele apenas copiou um lance do comediante Chaves (Roberto Gómez Bolaños), que tinha Quico como goleiro.
Quanto à “cavadinha”, pênalti batido com efeito mandando a bola sem força por cima do goleiro, o inventor seria, por unanimidade, o jogador tcheco Antonin Panenka, em 1976. Mas como Nélson Rodrigues afirmava que “toda unanimidade é burra”, fica valendo uma pesquisa mais apurada...
Por fim, o “gandula” aquele que repõe a bola em jogo com maior ou menor rapidez dependendo do time que está ganhando parece ter o seu nome derivado de um jogador argentino que jogava pelo Vasco em 1939 chamado Bernardo Gandullo, que tinha como hábito correr atrás da pelota quando ela saía do campo de jogo para não retardar o reinício da partida. Há controvérsias.

 (Artigo publicado no caderno de esportes do jornal O Imparcial de 25/11/2016)


domingo, 20 de novembro de 2016





OS ENCANTOS DO ESPORTE A MOTOR

Fugindo às suas características de dar palpites sobre o mundo da bola, Gol de Placa desta sexta-feira vai abordar um assunto que entre os brasileiros se tornou extremamente polêmico. Estou de referindo à Fórmula 1.
“Por que polêmico?” – perguntarão os leitores.
Porque, respondo eu, desde a morte de Ayrton Senna, poucos se interessam em dedicar as manhãs e madrugadas de domingo a ouvir o ronco dos motores, como dizem os locutores especializados.
Talvez falte motivação a esses brasileiros, mas não falta tradição nem história nas corridas automobilísticas, pois desde 1902 os motores roncavam no Hipódromo Paulistano em São Paulo. Durante a primeira década do século 20 outras corridas se realizaram por aqui, mas o esporte se tornou definitivo a partir de 1933 com as corridas no Rio de Janeiro no Hipódromo da Gávea.
A profissionalização de fato aconteceu com o piloto Manuel de Teffé, que veio da Europa com o sonho de organizar as provas automobilísticas no Brasil, o que propiciou o surgimento de pilotos como Irineu Corrêa e Francisco Landi.
O circuito de Fórmula 1 começou  suas aventuras em 1950 em Silverstone, na Inglaterra, tendo como grande nome o argentino Juan Manuel Fangio, cinco vezes campeão e duas vezes vice em oito temporadas.
Foi apenas em 1970, em Brands Hatch, também na Inglaterra,  com a estreia de Emerson Fittipaldi, que o Brasil teve um piloto fazendo parte do chamado circo. Ele seria bicampeão em 1972 e 1974 e saiu da categoria após uma fracassada tentativa de fazer andar nas velozes pistas do mundo um carro de fabricação brasileira, de marca Copersucar, mas foi fazer sucesso na Fórmula Indy.
Foi quando a imprensa esportiva brasileira – radio e televisão – começou a transmitir os Grandes Prêmios, com audiência e patrocinadores garantidos, fazendo surgir uma geração de entusiastas que eram ao mesmo tempo mecânicos, pilotos e inovadores, geração que produziria José Carlos Pace,  Maurício Gugelmin, Roberto Pupo Moreno e outros.
A segunda leva de pilotos brasileiros bem sucedidos teve a participação de Nelson Piquet, que conquistou três títulos, em 1981, 1983 s 1987, e também mereceu os holofotes.
Mas foi a terceira leva, com a chegada de Ayrton Senna, que criou toda uma equipe de fãs, levando ao delírio das manhãs de domingo desde aqueles que realmente se identificavam com o automobilismo até aqueles que não tinham a mínima intimidade com o esporte e até relutavam em chamar de esporte aquele conjunto formado por homem e máquina.
Ayrton Senna foi tricampeão em 1988, 1990 e 1991, foi vice em 1993, e deixou a sensação que poderia ter ido além não fosse o acidente fatal de 1994 em Imola, na Itália.
Senna representa uma história à parte para o automobilismo, não apenas no Brasil como também no resto do mundo. Estreou em 1983 e, de acordo com muitos especialistas deixou um legado de conquistas e elevou o nível do esporte a outro patamar. Após mais de vinte anos, pesquisas mostram que o piloto é ainda considerado o melhor de todos os tempos.
A sua ausência causou uma grande baixa entre os telespectadores não apenas porque não apareceram pilotos com o carisma necessário para substituir a sua imagem, mas também porque brasileiro é um torcedor que “não gosta de esporte, ele gosta de vencer”. Mas a falta de um piloto brasileiro competitivo não me impede de admirar outros talentos que fazem do esporte um dos mais considerados no mundo em termos de mídia, torcida e injeção de dinheiro envolvido.
Depois de Senna, a Fórmula 1 mostrou Michael Schumacher (heptacampeão), Sebastian Vettel (tetracampeão) e Lewis Hamilton (tricampeão), sem falar dos bicampeões Fernando Alonso e Mika Hakkinen, todos pilotos de alto nível que sem dúvida também valeram a pena minha atenção nas temporadas automobilísticas de 1994 para cá.
Domingo passado eu tive a oportunidade de rever Senna no carro e na alma do holandês Max Verstappen, que nas voltas finais fez treze ultrapassagens debaixo de intensa chuva, ganhando treze posições e saindo de um décimo-sexto lugar para o pódio.
Então, vale ou não vale a pena continuar prestigiando a Fórmula 1?     


 (Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 18/11/2016)