sexta-feira, 29 de maio de 2015







A GRIFE EM CRISE

A demissão de Vanderlei Luxemburgo na última segunda-feira eleva para cinco o número de treinadores notáveis desempregados atualmente no Brasil: fazendo companhia a Luxemburgo estão Muricy Ramalho, Luiz Felipe Scolari, Abel Braga e Mano Menezes.
E a quantidade ainda aumenta se a gente incluir nesta lista outros que talvez não sejam tão notáveis, mas que se habituaram a chefiar comissões técnicas de muito clube grande, como Joel Santana, Ney Franco, Adilson Batista, Celso Roth, Dorival Junior e até Alexandre Gallo, que deixou o comando técnico das seleções brasileiras de base ainda este mês e Carlos Alberto Parreira, que se declarou aposentado.
Em apenas três rodadas o Campeonato Brasileiro da Série A já soma três demissões, com Ricardo Drubsky se alinhando ao lado de Scolari e Luxemburgo. E os dois Oliveiras – Oswaldo e Marcelo – já estão no bico do corvo, provavelmente dependendo do resultado da rodada de domingo.
Na Série B a coisa é ainda pior: em seis rodadas, oito técnicos já foram dispensados.
Isto leva a algumas reflexões.
A lógica poderia indicar que a dispensa destes figurões teria sido forçada pela atual conjuntura econômica por que passa o futebol brasileiro, que a exemplo de diversos outros setores carece de uma criteriosa análise de custo x benefício para poder sobreviver. Poderia também indicar um novo direcionamento dos dirigentes em busca de uma renovação, tendo como objetivo modificar as características do futebol no Brasil para voltar em poucos anos a competir internacionalmente com o brilho que sempre nos foi tradicional. Poderia também ser fruto de campanhas medíocres que teriam levado a direção dos clubes e os torcedores à mais completa exasperação, causando uma reformulação forçada como se partindo do zero.
Ou uma soma dos três fatores.
Considerando os parâmetros analisados, porém, esta não é toda a verdade.
A questão financeira cai por terra quando vemos que os clubes continuam pagando salários milionários por técnicos e jogadores às vezes não mais do que medianos, ou comprometendo a receita com negociações precipitadas. A renovação fica em dúvida quando vemos pouco interesse ou total desinteresse no investimento em técnicos e jogadores da base. Quanto às campanhas medíocres, percebe-se um planejamento inadequado, sem o qual não pode existir uma cobrança séria, pois não é dado tempo a muitos treinadores para que ele estabeleça um sistema de jogo, ganhe a confiança e o respeito do elenco e galgue posições no ranking.
O principal motivo pela queda de tantos profissionais parece ser o despreparo e o amadorismo dos dirigentes das agremiações.
Eles contratam errado, pagando fortunas – o que se traduz no atraso do pagamento de salários – dão palpite no trabalho do elenco e criam despesas às vezes evitáveis, como o interminável pagamento de multas rescisórias.
Ao analisar as demissões deste campeonato, constatamos que Scolari foi contratado numa época errada onde a sua competência era fortemente questionada e ele estava claramente fragilizado pela ressaca da Copa do Mundo. No que diz respeito a Luxemburgo, que substituiu intempestivamente Jayme de Almeida e não conseguiu dar padrão ao time, talvez o procedimento correto tivesse sido a sua dispensa ao final do Campeonato Carioca.
Quanto a Drubsky, quem o contratou cometeu um sério erro de avaliação. Definitivamente não era o momento de um técnico com a sua história pequena assumir um clube com os problemas que o Fluminense estava tendo, com o elenco rachado e com o patrocínio em cheque.
Comparando com o futebol europeu, o Real Madrid acabou com a era Ancelotti, mas para isso esperou o final da temporada, a fim de que o seu sucessor tenha tempo de trabalhar, e o Bayern Munich continua apostando as fichas em Pepe Guardiola mesmo com os últimos insucessos. Isto é um sinal que a estabilidade técnica de um time também se consegue quando a diretoria pensa com a cabeça, não com o instinto de torcedor.  

 

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 29/05/2015)