sexta-feira, 6 de março de 2020





MUDANÇAS
(Augusto Pellegrini)

Vi, pensei, mudei de opinião duas vezes
(e depois mais duas para me convencer)

Ler, precisei três vezes
(e mais três vezes além das três)

Tive que dez vezes me embebedar de palavras e de imagens
(e outras dez vezes mais, além das dez)

Tive também que amar cem damas perfumadas
(e amar cem damas mais, além das cem)

Tive que voltar mil anos
(e outros mil ainda)

Para entender a presença da mulher-poema
na história das alcovas e fora delas.

2017

terça-feira, 3 de março de 2020






SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 06/04/2018
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

WALT WEISKOPF QUARTET 

Não muito conhecido internacionalmente, Walt Weiskopf é um saxofonista, multi-instrumentista, compositor, escritor e professor de jazz descrito por críticos de jazz como "um dos melhores músicos da cena moderna". Ele passeia por estilos de vanguarda, como o hard-bop, o jazz avant-garde, o post-bop, o modal jazz e o free jazz, sempre com muita personalidade. Antes de se lançar na carreira solo, Weiskopf ganhou maturidade ingressando na Buddy Rich Big Band e posteriormente na Toshiko Akiyoshi Big Band, onde tocou por quatorze anos. Neste álbum, gravado ao vivo na Universidade de South Carolina em 2008, ele lidera um quarteto que tem a presença da pianista Renee Rosnes, do baixista Paul Gill e do experiente baterista Tony Reedus, que faleceu um ano após a apresentação e em cuja homenagem o álbum foi lançado em 2011. Weinkopf interpreta músicas da sua autoria, inserindo no repertório a emblemática "Love For Sale", de Cole Porter.     
   
Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini
                                                                                                                                    



segunda-feira, 2 de março de 2020





O TOCADOR DE TUBA   
(Excerto II)

“Não é todo dia que a gente tem uma promoção como esta, nem um aumento de salário tão generoso”, pensou o pacato Josefino ao aceitar o convite do sátiro da repartição para irem festejar na “casa das primas”.
E para lá foram ao sair do serviço e lá ficaram na pândega até pouco antes de a madrugada raiar.
Foi só quando a casa fechou que eles resolveram ir embora.
O amigo saiu para um lado, e Josefino saiu para o outro, cantarolando e tropeçando pelo alvorecer, alegre como um macaquinho no circo, inconsequente como um bobo da corte, ansioso por partilhar com a esposa Adelina o seu mais novo status na repartição. Agora sim, ela poderia trocar o fogão e a geladeira, e comprar o bendito aspirador de pó com cuja necessidade ela apoquentava a sua cabeça.
E lá foi ele, fazendo planos para um futuro conjugal feliz. Só que, ao chegar em casa, encontrou a luz acesa e ouviu, após um silêncio profundo, os primeiros rugidos da mulher.
Adelina estava transtornada, sem saber o que tinha acontecido com o marido. Pela sua cabeça se atropelavam mil imagens, uma pior que a outra, pois Josefino, pacato como um frade franciscano e inofensivo como um passarinho, não saberia como se defender contra qualquer infortúnio da vida.
No entanto, quando ouviu a voz tartamudeante do marido e entendeu que ele estava bêbado como um peru de véspera, Adelina deixou seus cuidados de lado e ficou realmente furiosa.
Em vinte anos de casados, Josefino nunca se atrevera a chegar em casa depois das oito, nunca havia se embriagado dessa maneira e nunca lhe faltara com obediência e respeito.
Ainda em dúvida se enchia o desgraçado de pancada ou se simplesmente o atirava para o meio da rua, ela cometeu a imprudência de abrir a porta.
Josefino se esgueirou para dentro de casa como um cachorro assustado, mas ela prontamente o agarrou pelo pescoço e começou a berrar, alto e bom som – “...vagabundo! canalha! vá dormir na rua, que lá é o teu lugar!!!”
Em vão, o pobre coitado tentava contar que a festa toda era devida ao futuro garantido do casal, ao desejado fogão, às poltronas novas, à frente da casa pintada de rosa e ao aspirador do anúncio da TV. Seu destino era o olho da rua, sem necessidade de maiores explicações.
De passagem para o relento, Josefino esticou o braço e carregou com ele a tuba que estava sobre a mesinha ao lado da porta e – zás! – foi com tuba e tudo parar na calçada deserta.
Josefino sentou-se resignadamente no meio-fio, espichando os olhos tristes para a parede descascada da sua casa, agora totalmente às escuras, e decidiu tocar uma serenata para ganhar o perdão da meiga Adelina.
Agora, tudo depende da reação dos vizinhos.