quinta-feira, 17 de julho de 2014







A COPA – CONSIDERAÇÕES FINAIS


(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 17/07/2014)


A magia da Copa do Mundo já faz parte do passado. Mas antes de voltarmos a atenção para as nossas coisas domésticas vale a pena praticar um pouco de reflexão sobre os trinta dias que empolgaram o mundo esportivo.
Primeiro, faça-se a feliz constatação de que apesar dos inevitáveis senões as previsões catastróficas que se projetavam não foram concretizadas.
O tráfego aéreo e a mobilidade urbana não foram piores do que costuma acontecer nos períodos normais de pico. O tráfego de veículos foi espertamente reduzido com a adoção de feriados nas cidades onde aconteceriam jogos e para uma grande maioria de turistas habituados a aventuras, todas os problemas e vicissitudes foram levados na maior esportiva.
Todos os estádios tremeram, mas nenhum desabou.
Algumas manifestações e protestos chegaram a acontecer, reunindo grupos irrisórios de militantes, mas foram cessando aos poucos porque o eco dos torcedores era imensamente maior.
Não se têm notícias sobre apagões ou problemas mais sérios com a banda larga ou com as conexões telefônicas e evidentemente foi batido o recorde de postagens via redes sociais e mensagens de e-mail. Jornalistas e turistas estrangeiros foram unânimes em declarar que chegaram ao Brasil bastante preocupados e saíram bastante satisfeitos.
De lucrativo, a rede hoteleira, os profissionais do turismo, as companhias aéreas e todos os espertalhões que cobraram os olhos da cara para faturar alto e tirar a diferença do resto do ano, entre eles taxistas, vendedores ambulantes e locadores de ocasião. De negativo, a redução das vendas no comércio, a queda de produtividade das empresas, a balbúrdia em áreas residenciais, a máfia dos ingressos, uma ou outra inevitável pancadaria e a sensação anestésica de que tudo está às mil maravilhas por aqui.
No Maranhão, até as tradicionais festas juninas perderam um pouco do seu interesse, e donos de restaurantes que não montaram telões para congregar os ruidosos torcedores ainda estão contabilizando os prejuízos. 
No campo político, acreditamos que o mau desempenho da seleção brasileira não terá repercussão alguma sobre as eleições que se aproximam porque o povo parece estar bastante seguro em não misturar futebol com política, apesar de os candidatos, os seus marqueteiros e os partidos acharem que podem ganhar ou perder votos com isso. Mesmo a realização da Copa, objeto de discussões entre a turma dos “a favor” e dos “contra” acabou ficando no empate, pois até os críticos mais mordazes do evento se renderam à mágica do espetáculo.
No campo, o Brasil trouxe à baila velhos problemas vivenciados em Copas anteriores – e bem anteriores, se começarmos a contar a partir do “já ganhou” de 1950. Naquela ocasião, políticos e oportunistas sagraram o Brasil campeão antes da partida final, e em 2014 o recado da dupla Parreira-Felipão era que “o Brasil já está com a mão na taça” antes sequer de entrar em campo na partida de estreia.
Em 1966, como agora, a trapalhada foi feita na convocação. Centenas de jogadores foram chamados e testados, mas os selecionados definitivos acabaram não atendendo às expectativas e naufragaram com o time.
Em 2006 o comando sob as ordens de Parreira se mostrou frouxo e ultrapassado, como frouxa foi a postura dos jogadores em 2014, evidentemente influenciados pela falta de postura tática do técnico e pela discutível psicologia aplicada.
De 2010 herdamos a arrogância e a falta de competência na hora de tomar decisões em como virar o jogo e utilizar o banco de reservas.
Definitivamente, uma seleção que não treina opções de jogo nem se prepara para jogar de uma forma específica contra cada adversário não pode mesmo dar certo.

segunda-feira, 14 de julho de 2014






A FESTA CHEGA AO FIM

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 14/07/2014)

Chega ao fim a Copa do Mundo dos paradoxos, objeto de festa e de discórdia, de grandes exibições e de surpresas, de alegrias e de frustrações.
O Brasil se propôs realizar a Copa das Copas e, no que diz respeito ao futebol, conseguiu. A Copa foi repleta de lances fantásticos, de jogos eletrizantes, craques, gols e muita vibração. Um sucesso, enfim.
Em nome da emoção, os aspectos negativos foram minimizados e a imprensa, de um modo geral, vestiu a camisa do evento. Comentaristas de diversas áreas – economia, política e variedades – deixaram de lado a inflação, a sucessão presidencial e as temporadas de música para discutir com fervor coisas como a tática utilizada pela Bélgica e os pecados de Luiz Felipe Scolari.
Durante trinta dias o futebol dominou a pauta da notícia e mostrou que o esporte pode ser mais forte do que a desorganização, a falta de planejamento e as mazelas de um país.
A grande mensagem que a Copa passou para o mundo foi a de congraçamento, pois a segurança especial montada nas proximidades das arenas, a violência, a truculência e o enfrentamento perderam de goleada para a festa proporcionada pelos turistas de diversos países e regiões do Brasil.
Infelizmente a seleção brasileira não fez a sua parte.
Por mantermos a antiga arrogância (continuamos achando que somos os melhores e fechamos os olhos para o crescimento técnico de outras seleções), não acompanhamos a evolução por que o futebol passa no resto do mundo e apresentamos um padrão técnico inferior às outras potências do esporte, decepcionando até os adversários.
A rigor, países como Irã, Argélia, Grécia, Costa Rica, Austrália e Estados Unidos, com um material humano limitado, apresentaram um futebol mais organizado e rico de opções do que o Brasil. A seleção brasileira só conseguiu ser mais estruturada do que as seleções dos países africanos, que devido à falta de disciplina e comando se encontram atualmente no fundo do poço.
Esta fraqueza foi evidenciada quando passamos às duras penas pelo Chile e pela Colômbia, e foi definitiva nos 7x1 sofridos ante a Alemanha e os contundentes 3x0 diante da Holanda. Na disputa pelo terceiro lugar, o domínio holandês foi tão grande que ninguém teve sequer coragem de reclamar dos dois gols irregulares da Laranja Mecânica. Pela diferença do futebol apresentado, a derrota viria de qualquer maneira.
A falta de um esquema de jogo ficou patente desde a estreia contra a Croácia, e os jogadores foram impotentes para evitar uma despedida menos constrangedora.
A torcida e a imprensa clamam por uma radical mudança na mentalidade dos dirigentes esportivos. Não sei se isto será possível ou se irá surtir algum efeito, pois o que deu certo na Alemanha não necessariamente dará certo no Brasil, pela disparidade de comportamento e mentalidade dos dois povos.
O fato é que o torcedor brasileiro teve que se conformar com o quarto lugar na competição e vai guardar a camisa amarela para uma próxima ocasião.
E a grande festa da Copa ficou por conta de Alemanha e Argentina.
Com todos os ingredientes de dramaticidade, os alemães conquistaram o título apenas na prorrogação, e com certeza mereceram a vitória, pois ao longo da sua trajetória foi uma seleção que mostrou um futebol mais moderno, solidário e brilhante.
A conquista alemã representa, enfim, a vitória do trabalho e da seriedade.
A Argentina acabou sendo uma grata surpresa para quem não esperava que conseguisse chegar tão longe, e o bruxo mexicano, que entre outras coisas previu que os hermanos levantariam a taça, vai ter que rever seus conceitos.