sábado, 25 de julho de 2015




Uma noite divertida
Aí você sai de casa no início da noite de uma sexta-feira nobre e arrisca aquele bar da moda junto a três ou quatro amigos, para acrescentar novas sensações à sua vida e adicionar mais uma noite de encantamento no seu currículo.
Você chega, estaciona, entra e se depara com uma casa cheia, gente bonita, um burburinho que atesta muita animação e perspectiva de uma esticada noturna cheia de emoções.
Somos acomodados em uma mesa grande que faz lembrar ambiente de fazenda, de madeira nua e sem adereços, e depois de transcorridos quinze minutos chega enfim o garçom trazendo os cardápios – um para os comes e outro para os bebes – e aí começa nossa angustia, pois ele retorna apenas outros quinze minutos depois para saber o que iremos consumir.
Quinze minutos é bastante tempo para lermos pelo menos duas vezes as ofertas da casa, então já optamos por três chopes, uma cerveja preta e um suco de abacaxi com xarope de pêssego.
Temos duas opções para o chope – caneca de 350 e de 500 mililitros – e optamos pela de 500 por ser mais prática, pois adia-se a demorada visita do garçom, e mais econômica (meu amigo faz os cálculos rápidos usando regra de três e coisa e tal, e conclui que ganhamos assim uns trocados por caneca).
Isto posto pedimos canecas de 500 mililitros e somos informados que eles só servem chope nas canecas de 350 mililitros, pois as de 500 mililitros são reservadas para os sucos.
Questionamos o fato de eles não servirem o chope em canecas de 500 mililitros apesar de constar do cardápio e somos candidamente informados que o cardápio será trocado, e ponto final.
Depois de alguns minutos de negociação, concordamos com as canecas de 350 mililitros e autorizamos a remessa, depois de termos consultado o cardápio dos comes e pedido uma porção de batata rústica – é o que estava escrito lá.
Mais um período de quinze minutos e volta o garçom, desta vez trazendo uma atendente mais graduada para explicar que o chope estava “quente” e que eles aconselhavam cerveja “long neck” que deveria estar gelada (mas que no fim das contas, nem estava tão gelada assim).
Tudo bem, concordamos com a “long neck” para então começarmos outra negociação dolorida – quantas cervejas eles deveriam colocar no balde? – intensa metafísica para quem está acostumado a servir os clientes da noite.
Depois de mais uma aresta aparada, eis que chegam enfim as cervejas, para que pudéssemos fazer um brinde mais de uma hora depois de sentarmos à mesa.
Quinze minutos depois perguntamos pela batata rústica e entendemos que o garçom ainda não havia feito o pedido porque “não sabia se nós iríamos comer as batatas depois de termos trocado o chope quente pela cerveja “long neck” não muito gelada”.
Confirmamos o pedido e eis que, quinze minutos mais tarde e depois de um outro balde com algumas garrafas e pouco gelo, chegam as gloriosas batatas rústicas, duas, para sermos exatos.
O prato consiste de duas batatas grandes cozidas, cada qual cortada longitudinalmente em seis partes, fritas em azeite de oliva e festejadas por um copinho de molho bechamel, e não dá nem para o começo para acompanhar a cerveja à guisa de tira-gosto.
Após confabularmos por alguns minutos sobre a conveniência de pedirmos outra porção de alguma coisa e vermos o tempo escoando pela ampulheta em direção ao dia seguinte, decidirmos por mais um balde de cervejas – agora decididamente quente – e pedimos a conta, que fatalmente chegará após as garrafas já estarem vazias, obedecendo o penoso ciclo de quinze minutos que parece preceder qualquer atendimento a que estejamos submetidos.  
A noite foi afinal divertida porque os amigos são divertidos, mas na próxima vez vamos tomar cerveja e comer tira-gostos em casa.
 





A CAMPANHA BRASILEIRA NO PAN 

O desempenho do Brasil nos XVII Jogos Pan-Americanos que estão sendo disputados em Toronto já supera as nossas expectativas, criando uma atmosfera positiva para o possa acontecer com os nossos atletas daqui a um ano nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.
O quadro de medalhas dos Jogos se altera a cada hora, portanto o resultado definitivo somente será conhecido amanhã à noite. Quando, porém, esta matéria foi escrita, já havíamos alcançado a marca de 32 ouros, abaixo apenas dos Jogos disputados no Brasil em 2007 e no México em 2011, quando fechamos com a marca de 54 e 48 medalhas respectivamente. Entre ouro, prata e bronze, já conseguimos 114 medalhas, contra 161 de 2007 e 141 de 2011. Os números obtidos até aqui deverão subir, mas não chegarão a alcançar os dois recordes anteriores.
Os últimos dias de competição sempre reservam muitas emoções e vão proporcionar alguma possibilidade de melhorarmos o nosso índice porque estarão em disputa algumas competições nas quais tradicionalmente somos bastante competitivos no âmbito continental, como futebol, basquetebol, handebol, vôlei e canoagem.
Por outro lado, costumamos levar desvantagem em outras modalidades, como atletismo, beisebol e boxe, além de outros esportes pouco praticados por aqui como raquetebol, hóquei sobre grama e softbol.
Na prática poderemos apenas ser alcançados pela Colômbia e por Cuba, mas não alcançaremos os Estados Unidos, que estão liderando com folga, e o Canadá, que também leva grande vantagem e estatisticamente sempre se posiciona melhor do que o Brasil.
Nas quinze edições já disputadas, a melhor classificação alcançada pelo Brasil foi um segundo lugar em São Paulo-1963, seguida por quatro terceiros lugares – em Chicago-1959, Winnipeg-1967, Rio-2007 e Guadalajara-2011. Este terceiro lugar parece que vai se confirmando também em Toronto-2015.
Nossa participação mais fraca no Pan foi aquela disputada na Cidade do México-1955, onde ficamos em sétimo lugar e nos limitamos a 2 medalhas de ouro num total de 17 alcançadas, mas aquela foi a segunda edição dos Jogos e teve poucos participantes e pouca repercussão. Hoje, a três dias do final desta edição dos Jogos, os 114 pódios conquistados superam o nosso recorde histórico de medalhas, ficando apenas abaixo das marcas de 2007 e 2011.  
Esta marca nos glorifica dentro do limite das três Américas, mas parece não representar muito no contexto mundial, isto é, as dificuldades que iremos enfrentar nos Jogos Olímpicos serão gigantescas, mesmo tendo o Rio de Janeiro como sede, pois além dos americanos e canadenses teremos adversários do tamanho da China, Grã Bretanha, Rússia, Coréia do Sul, Alemanha, França, Itália, Austrália e Japão, somente para citar alguns que costumam ficar na nossa frente. Todos estes países nos suplantaram por ocasião dos Jogos de Londres-2012, última edição disputada, quando terminamos na modesta 22ª posição.
A quantidade total de 108 pódios alcançados pelo Brasil em 18 Olimpíadas realizadas, desde 1920 – a primeira da qual participou – é inferior à conseguida em cada um dos quatro últimos Pan-Americanos.
Nos últimos Jogos Olímpicos de Londres-2012 o Brasil conquistou apenas 3 medalhas de ouro (Sarah Menezes no judô, Arthur Zanetti na ginástica e a equipe do vôlei feminino), comprovando que a participação brasileira nas Olimpíadas tem sido opaca ao longo dos anos.
Até hoje, apenas 23 ouros olímpicos foram obtidos (com o recorde de 5 medalhas em Atenas-2004), e se compararmos com as marcas obtidas nos Jogos Pan-Americanos (401 ouros até hoje) podemos notar com um certo desânimo a diferença de nível entre as duas competições.
A falta de investimentos em novos atletas e em equipamentos e a ausência de uma política de troca de experiência com países que levam o esporte olímpico a sério será infelizmente sentida quando começarem as competições no Rio-2016.

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 24/07/2015)