sábado, 3 de abril de 2021

 


CONTRANEXO

(Excerto)

 

À noite todos os gatos são pardos, menos aquele ali, branco como a palidez de Rebeca, todo enroscado sobre o assento da cadeira de palha trançada, ele que me fita e me analisa e me inquire e me acompanha com o olhar de filósofo que só os gatos sabem ter, os olhos verde-cinza enigmáticos diferentes dos olhos negros pragmáticos de Rebeca, captando meu pensamento ou pelo menos fingindo que me entende, o que seria no mínimo estranho, pois nem eu mesmo me entendo.

Do lado de fora desta bodega de aspecto rústico que lembra uma velha estalagem balança uma placa de madeira esculpida a mão e presa por duas correntes e uma haste de metal, rangendo como uma ponte levadiça, com os dizeres “Restaurante do Dante – Comida Caseira”, um nome bem a calhar pelas perspectivas da noite e para o meu momento histórico – “lasciate ogni speranza voi ch’entrate”.

Enquanto trespasso o limiar da porta sem maiores rebuços, na sua soleira de mármore gasta pelos pés do tempo, o gato me acompanha com o olhar, o pescoço girando quinze graus de preguiça e uma orelha – vejam só, apenas uma orelha, a direita – se ergue como se sintonizasse  ao longe o resquício de um ruído de algum passo abafado ou como se ouvisse o barulho infernal fabricado pela minha mente, um silvo profundamente agudo que flete e reflete dentro da minha caixa craniana como uma bola de bilhar no rebordo da mesa, como um eco numa caverna, como um grito de náufrago. 

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Talvez o vulto fosse mesmo Rebeca, com sua cara de desvario, com seu sorriso obsceno, com seus braços de serpente, com sua língua de mel, talvez fosse a expressão do seu rosto de morta, meio enforcada e meio afogada.

Dante me acompanha até a soleira de mármore para ter certeza de que vou mesmo embora, dou um derradeiro adeus para o gato e já não vejo o fantasma de Rebeca a seu lado.

O gato se espreguiça como um ponto de interrogação quando o ruído da porta de enrolar atravessa a noite como uma facada. Ele me olha com o olhar de boa noite que só os gatos sabem ter.

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A foto que ilustra a reportagem do jornal mostra o rosto pálido do corpo encontrado na maré, e na legenda apenas o nome da morta – Rebeca.
           Rebeca. A mulher que eu esperei e que nunca conheci.

 


AS CORES DO SWING
           (Livro de Augusto Pellegrini)

BANDLEADERS E DISCOGRAFIA


Harlan Leonard (1905-1983) 

Nome completo - Harlan Quentin Leonard

Nascimento - Butler-Missouri-EUA

Falecimento - Los Angeles-California-EUA

Instrumento - saxofone e clarinete

 

Comentário - Considerado historicamente um dos mais importantes músicos de Kansas City, Harlan Leonard brilhou como bandleader apenas entre 1935 e 1945, tempo porém suficiente para se tornar nacionalmente conhecido. Harlan, que quando criança era chamado de Mike – embora ele próprio não soubesse o motivo – tocou clarineta aos treze anos na banda da escola Lincoln High School quando resolveu estudar saxofone com George Wilkenson e Eric “Paul” Tremaine. Ele iniciou a sua carreira em 1923 como participante da orquestra de George E. Lee, para alguns meses depois se tornar o saxofonista-alto da orquestra de Bennie Moten, na qual ficou até 1931. Entre 1931 e 1934, Leonard tocou na Kansas City Skyrockets, orquestra liderada pelo trombonista Thamos Hayes, que tinha entre os seus integrantes o trompetista Ed Lewis, o trombonista Vic Dickenson e o pianista Jesse Stone. Em 1934, Hayes decidiu deixar a orquestra e Leonard prontamente assumiu a liderança, comandando a banda durante três anos, quando resolveu montar o seu próprio grupo, ao qual denominou Harlan Leonard’s Rockets. Pela sua orquestra passaram alguns músicos do mais fino quilate, como Tadd Dameron, Eddie Durham e Charlie Parker (Parker lá permaneceu por apenas cinco semanas, pois foi demitido por razões disciplinares). Embora estivesse sediada em Kansas City, a Harlan Leonard’s Rockets fazia frequentes apresentações em Nova York e Los Angeles, o que contribuiu para que a orquestra se tornasse um pouco mais conhecida. Harlan se manteve à frente da sua orquestra até 1945, quando resolveu abandonar a carreira musical para trabalhar como burocrata da Fazenda Estadual. Harlan Leonard esteve musicalmente ativo durante pouco mais de vinte anos, entre 1923 e 1945, mas manteve em alta a reputação do jazz de Kansas City.

 

Algumas gravações 

Dameron Stomp (Tadd Dameron-Harlan Leonard)

Dig It (Tadd Dameron-Harlan Leonard)

Harlem Shout (Eddie Durham)

I’m In A Weary Mood (Harlan Leonard-Floyd Smith)

Mistreated (Harlan Leonard)

My Dream (Tadd Dameron-Harlan Leonard)

My Gal Sal (Leigh Harline-Cyril J.Mockridge)

My Pop Gave Me A Nickel (Eddie Durham)

Parade Of The Stompers (Harlan Leonard)

Please Don’t Squabble (Harlan Leonard)

Ride My Blues Away (Harlan Leonard-Leonard Williams-Floyd Smith)

Rock And Ride (Tadd Dameron-Harlan Leonard)

Rockin’ With The Rockets (Harlan Leonard-Floyd Smith)

Skee (Harlan Leonard)

Too Much (Harlan Leonard)

 

 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

 


AS CORES DO SWING
           (Livro de Augusto Pellegrini)

BANDLEADERS E DISCOGRAFIA


GIL EVANS (1912-1988) 

Nome completo – Ian Ernest Gilmore Green

Nascimento – Toronto-Ontario-Canadá

Falecimento – Cuernavaca-México

Instrumento – piano e sintetizador

 

Comentário – Apesar de ter vivenciado a era do swing, o canadense Gil Evans não chegou a ser influenciado pelo estilo, exceto no que diz respeito à sonoridade das diversas famílias de instrumentos de uma big band. A família de Gil morava na Califórnia quando ele demonstrou seu interesse pela música e resolveu adotar o sobrenome do seu padastro, Evans. Gil Evans estudou música erudita, arranjo e composição, mas foi apenas em 1941 que ele começou a trabalhar efetivamente como arranjador, na orquestra de Claude Thornhill, onde ficou até 1948 e adquiriu sua preferência pelas big bands sofisticadas e pelo som do jazz de pré-vanguarda. Seu apartamento num porão de Nova York passou a ser o ponto de encontro de músicos que buscavam uma alternativa orquestral que fosse além do swing e do bebop, entre eles Miles Davis, Gerry Mulligan, John Lewis e Lee Konitz. Gil Evans foi um inovador e experimentou novas sonoridades utilizando o sintetizador, a trompa e a tuba como base, além de arregimentar músicos específicos que deram um passo adiante na modernização do jazz. Sua carreira e sua filosofia musical se confundem com as de Miles Davis, com quem compartilhou incontáveis momentos de criatividade. Ambos se envolveram em 1970 com instrumentos eletrônicos e tomaram a decisão de fazer um jazz de vanguarda sem se importar com o passado, por mais importante que o passado tivesse sido. Evans era acima de tudo um músico de jazz, embora sua mente fosse aberta para novas experiências, incluindo o jazz-rock, evidenciado pelo seu particular interesse pela obra de Jimi Hendrix e, mais tarde, de Sting. Os três álbuns resultantes do seu trabalho com Miles Davis (“Miles Ahead”, “Porgy And Bess” e “Sketches Of Spain”) são considerados clásicos do jazz de vanguarda. Gil Evans se manteve musicalmente ativo desde o início dos anos 1940 até meados dos anos 1980.

 

Algumas gravações 

Angel (Jimi Hendrix)

Anita’s Dance (Gil Evans)

Blues In Orbit (George Russell)

Chant Of The Weed (Don Redman)

Cheek To Cheek (Irving Berlin)

Django (John Lewis)

King Porter Stomp (Jelly Roll Morton)

La Nevada (Gil Evans)

Lester Leaps In (Lester Young)

Manteca (Gil Fuller-Dizzy Gillespie-Chano Pozo)

Prelude To Orgone (Gil Evans)

Prince Of Darkness (Wayne Shorter)

‘Round Midnight (Cootie Williams-Thelonious Monk-Bernie Hanighen)

Savannah (Harold Arlen-E.Ypsel”Yip” Harburg)

The Bilbao Song (Kurt Weill-Bertold Brecht)

There Comes A Time (Tony Williams)

Thoroughbred (Billy Harper)

Voodoo Chile (Jimi Hendrix)

 

 

 

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU)

 

(ver tradução após o texto)

 

RAGAMUFFIN

 

RAGAMUFFIN comes from the English that was used during the Middle Ages. You’ve probably heard the word “rag”, right? (“rag” is a dirty and scruffy piece of old cloth). So, it will make sense to know that a RAGAMUFFIN is a person who wears dirty and scruffy clothes – clothes that are just like “rags”! It’s usually used for children, and you may also sometimes hear it used to describe scruffy-looking animals  

 

 

            “I sent my children to school dressed smartly, and they come home like little ragamuffins!”  

 

            “Let’s clean up this little ragamuffin – Ms. Hannigan said pointing to dirty orphan.”   

 

            “The ragamuffin and other urchins ran through the streets stealing whatever they could get.”             

           

                          

 

TRADUÇÃO

 

MALTRAPILHO

RAGAMUFFIN vem do inglês falado na Idade Média. Você deve conhecer a palavra “rag” (trapo), não é? – um pedaço de pano rasgado e sujo. Então, faz sentido entender como RAGAMUFFIN uma pessoa que usa roupas rasgadas e sujas, ou seja, um maltrapilho. Esta expressão é geralmente usada para crianças, e você também pode ouvi-la às vezes fazendo menção a animais sujos e com a aparência de maltratados.

“Eu mandei meus filhos para a escola hoje muito bem vestidinhos e eles voltaram para casa parecendo uns maltrapilhos!”

“Vamos dar um jeito neste pequeno maltrapilho – disse a senhora Hannigen apontando para o pequeno órfão”.  

“Este menino sujo e outros pequenos delinquentes corriam pelas ruas roubando tudo aquilo que podiam”.

 

terça-feira, 30 de março de 2021

 




PEÇO A VOCÊ 

(Samba de Augusto Pellegrini) - 1978

 

Peço a você

Que console este meu coração

Já não vivo em paz

Pois novamente fracassei

E pensar noutra desilusão

Eu não posso mais

 

Meu pranto derramei

Por toda a vida

Tive sonhos dourados de amor

Encontrei flores no meu caminho

No entanto, em cada flor

Morava a solidão

E o canto se transformava

Da flor em espinho

Por isso peço a você

Que me console e me dê seu carinho

Ninguém pode ser feliz sozinho

Por isso peço a você

Que me console e me dê seu carinho

Ninguém pode ser feliz sozinho

segunda-feira, 29 de março de 2021

 


SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 14/12/2018
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís-MA

ANDREW RATHBUN QUARTET - NUMBERS AND LETTERS

Andrew Rathbun é atualmente um dos mais respeitados e bem resolvidos saxofonistas e compositores de jazz da sua geração. Suas execuções nos saxofones tenor e soprano contêm como atributos muito lirismo, swing e criatividade. Vindo da escola de Coltrane, ele explora com autoridade as dissonâncias no instrumento completadas por um trio que segue a mesma linha contemporânea, obedecendo aos arranjos muito bem elaborados pelo autor. Andrew Rathbun faz uma leitura pós-moderna do jazz, dando à sua música toque de free-jazz adocicado por pitadas de jazz modal e avant-garde. O resultado é uma surpreendente superposição de notas em escala com pausas bem colocadas, o que confere à música um tom surreal. Pode-se dizer que o jazz de Andrew Rathbun é feito sob-medida para os entendidos no assunto. Andrew e o trio executam sete músicas desconhecidas do grande público, posto que compostas pelo próprio executante.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini

                                                                                                                                    

 

 

 

 

 


AS CORES DO SWING
           (Livro de Augusto Pellegrini)

BANDLEADERS E DISCOGRAFIA


GERRY MULLIGAN (1927-1996) 

Nome completo – Gerald Joseph Mulligan

Nascimento – Nova York-New York-EUA

Falecimento – Darien-Connecticut-EUA

Instrumento – sax-barítono

 

Comentário – Gerry Mulligan é conhecido no mundo do jazz por ter sido o mais famoso – e também o mais perfeito – sax-barítono de jazz da história. Mas ele tem também um histórico de arranjador e bandleader, e se expressava com maestria desde o dixieland, passando pelo swing, até o bebop e o post-bop de vanguarda. Mulligan só não foi absolutamente famoso como chefe de orquestra em virtude da sua atuação impar como saxofonista. Ainda jovem, ele aprendeu a tocar piano, clarinete e todos os tipos de saxofone, e em 1944 começou a fazer arranjos para a banda da sua escola e depois para a banda de Johnny Warrington, que tocava em uma emissora de rádio local. Não demorou muito para que ele começasse a escrever arranjos para algumas bandas mais profissionais como as de Tommy Tucker e George Paxton, preparando-se assim para alçar vôos mais altos. Em 1946, Mulligan fez parte do time de arranjadores da orquestra de Gene Krupa, e logo depois trabalhou como arranjador e compositor para as orquestras de Claude Thornhill, Elliot Lawrence e Stan Kenton. A partir de 1948, Mulligan conseguiu conciliar o seu trabalho de arranjador com o de bandleader e instrumentista, aparecendo na cena musical como um poderoso e criativo saxofonista-barítono e também como um talentoso sax-soprano. Gerry Mulligan dividiu o palco e as gravações com diversos parceiros, como Miles Davis, Chet Baker, Bob Brookmeyer e, mais tarde, Thelonious Monk, Paul Desmond, Johnny Hodges, Dave Brubeck e Stan Getz. Nessa época, ele passou por bons e maus momentos, alternando períodos de grande produtividade com fases de abatimento e crises existenciais ocasionados principalmente pelas drogas, o que veio a interferir decisivamente na sua saúde e na sua carreira. Em 1960, Mulligan montou a sua Concert Jazz Band que brilhou intensamente durante toda uma temporada no famoso Village Vanguard, e durante os anos 1970 manteve uma banda que se reunia de tempos em tempos para realizar turnês. Como músico, Gerry Mulligan se manteve ativo dos anos 1940 aos anos 1990.

 

Algumas gravações 

All About Rosie (George Russell)

All The Things You Are (Oscar Hammerstein II-Jerome Kern)

Blueport (Art Farmer)

Chuggin’ (Gary McFarland)

Funhouse (Gerry Mulligan)

I Know, I Don’t Know (Gerry Mulligan)

Israel (Johnny Carisi)

Motel (Gerry Mulligan)

Mullenium (Gerry Mulligan)

Mulligan’s Too (Gerry Muligan)

Summer’s Over (Gerry Mulligan)

Thruway (Gerry Mulligan)

Walk On The Water (Gerry Mulligan)

Weep (Gary McFarland)

Western Reunion (Gerry Mulligan)