sexta-feira, 17 de abril de 2015







O MELHOR EMPREGO DO MUNDO 


Imagine-se o prezado leitor trabalhando como professor, motorista ou bancário e que por algum motivo seja demitido e se veja de repente às voltas com o desemprego.
Nesta história, diferentemente da realidade do hoje em dia, a primeira reação será a de um intenso alívio.
Afinal o leitor professor já estava ficando irritado com as cobranças da direção da escola e com o comportamento daquela molecada que gostava de tudo, menos de estudar. O leitor motorista não estava aguentando mais a pressão do dia-a-dia no trânsito caótico da cidade nem a atitude de motoristas irresponsáveis que frequentemente dirigem na contramão, fazendo ultrapassagens proibidas ou passando com o sinal vermelho. E o leitor bancário não aturava mais ter que tolerar clientes grosseiros, além do medo de cometer algum erro contábil e do cumprimento de metas estabelecidas pela diretoria.
A segunda reação será a de relaxar profundamente, levar as crianças pra passear no parque, proporcionar-se aquela pescaria que há tanto tempo sonhava e, desejo supremo, esquecer o odioso relógio-despertador, agora transformado em um irritante telefone celular multiuso.
Além do mais, o professor poderá aproveitar seu tempo vago para se reciclar, aprender novas técnicas de ensino e as novas exigências do aprendizado para algum dia voltar ao trabalho ainda melhor; o motorista poderá pensar em uma nova profissão, quem sabe abrir uma oficina mecânica, seu velho sonho de consumo, e dirigir apenas por lazer quando bem entendesse, podendo escolher livremente o seu caminho e o tempo debruçado ao volante. Quanto ao bancário, uma parada é sempre vantajosa para observar o mercado e pensar seriamente naquela sociedade que o amigo economista lhe propôs para ingressarem pra valer no mundo da consultoria.
Se nada der certo, depois de alguns meses eles até poderão voltar para a sala de aula, para o volante do ônibus ou para a agência bancária e recomeçar o desafio, sem nenhum desgaste ou prejuízo financeiro.
O leitor deve estar pensando que o articulista endoidou.
Tente, no entanto, mudar as profissões de professor, motorista e bancário para técnico de futebol.
O técnico de futebol assina contrato de um ano com um clube que lhe pagará 500 mil reais por mês, chova ou faça sol. Depois de seis meses de serviços prestados, o presidente do clube não está satisfeito com o seu trabalho ou se sente pressionado por diretores e torcedores, além de perceber que há um movimento estranho entre os jogadores que começaram a puxar o tapete do treinador.  
Depois de algumas reuniões e de um vazamento para a imprensa, a fim de diminuir o impacto, presidente e técnico “chegam a um acordo” e o homem é finalmente demitido.
Mas existe uma cláusula contratual mediante a qual o salário de 500 mil deve continuar a ser pago, isto quando não houver mais uma multa rescisória.
Se o técnico for do tipo econômico, terá gasto por mês cerca de 50 mil reais, no máximo, ou seja, sobraram 3 milhões de reais devidamente aplicados, o que somados aos cerca de 3 milhões que serão pagos até o final do contrato – isto se o profissional desempregado continuar gastando a mesma média mensal – lhe dará um rendimento ao final de um ano de mais de 6 milhões de reais, isto é,  cerca de 200 vezes mais do que o professor, o motorista ou o bancário receberiam como salário bruto, trabalhando.
Não é à toa que por maiores que sejam as críticas ao seu trabalho, as maldições sobre jogos e títulos perdidos, os 7x1 e outras goleadas da vida, estando empregado ou não, o técnico de futebol sempre mantém a saudável aparência de um cidadão tranquilo e confiante na vida que Deus lhe deu... 

 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Impacial de 17/04/2015)