quinta-feira, 4 de junho de 2020


              


O ANJO TORTO
                 (Excerto II)

Um dia, afinal, eles se encontraram. Um representava o bem, o outro representava o mal.
Estava evidente que Fausto, a força maligna vinda do além, seria um desafio invencível.
Roderick bem que entendeu a dificuldade da contenda e a intensidade do poder que emanava de seu adversário quando quando cruzou seu olhar guerreiro com o olhar calculista e debochado do rival. Mesmo assim, respirou fundo e iniciou uma verdadeira cruzada, a batalha entre o bem e o mal, a luta pelo resgate do coração da heroína cuja mente estava aprisionada pelo dragão.
Lindaura, que a tudo assistia, entendeu que algo terrível estava para acontecer com Roderick, mas se sentia impotente para fazer qualquer coisa, sequer um apelo, ante o deslumbramento causado por Fausto, uma alma cheia de ventosas com a aparência de um querubim.
Fausto esgrimia com palavras, dono de uma habilidade verbal incomum, e discorria sobre os sublimes mistérios desta vida como se fosse um velho sábio, ante o olhar dourado de Lindaura e o cenho inquisidor de Roderick, manejando com graça e destreza seu florete imaginário, e transformando Roderick em simplesmente um anti-herói sem expressão.
Fausto passava a limpo toda a filosofia que se espalha entre os céus e a terra – passado, presente e futuro – e Roderick enfrentava uma batalha desigual, pois se tratava da luta entre entre o humano e o imortal, entre o racional e o imponderável, entre o anjo salvador e o espírito daninho. De um lado a verdade e a coragem, do outro lado a esperteza e a força a maldade.
Quem fosse dotado de dons extraordinários poderia perceber relâmpagos e trovões fazendo fundo aos dois lutadores.
No final da batalha, Fausto exibia o seu sorriso vitorioso.
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Depois de cumprir com sua missão diabólica, Fausto retornará às suas origens.
Na noite desse dia, uma luz amarelada riscará o céu em direção ao infinito, e só então Lindaura vai acordar do seu sonho e se lembrar de Roderick.
Fausto não mais habitará o seu mundo, pois partiu ao encalço de novas aventuras.
O vento da noite vai soprar assustador e uivar por entre as ramas malucas dos chorões ensandecidos, o odor de maresia se misturando com o cheiro acre de materiais em decomposição.
Fausto estará retornando para o reino da escuridão, deixando para Lindaura apenas uma história para não ser contada.             





UM NOVO TEMPO 
(Samba-enredo composto em 1979 por Augusto Pellegrini e Nelson Gengo)

Um clarão
Ilumina o nosso novo tempo
Apagou
As marcas do passado e do tormento

Até a natureza se modificou
Quando o homem compreendeu
Que o bem da vida é ser amor
As flores se espalharam pelo campo
As aves coloridas
Nos saudaram com seu canto

Adeus à guerra oh
Adeus à dor
Um hino à terra eu vou cantar
Louvando a paz dourada que chegou

Adeus!

Adeus á guerra oh
Adeus à dor
Um hino à terra eu vou cantar
Louvando a paz dourada que chegou

Bem que dizia o poeta
Arauto da divina inspiração
A esperança ainda resta
De vivermos uma festa
De mãos dadas como irmãos

Abana o lenço, quanta magia
Vem festejar, festejar
O clarão do novo dia
Abana o lenço, quanta magia
Vem festejar, festejar
O clarão do novo dia