segunda-feira, 13 de junho de 2011

O CHARME DO CABELO

Um atleta é um atleta, um intelectual é um intelectual. Não se exige que um intelectual seja um super-homem estabelecendo marcas esportivas nem que um atleta seja um filósofo ou pensador.
Mas assim como é saudável a um intelectual abandonar os seus livros de vez em quando e executar alguma prática esportiva, é bastante proveitoso que um atleta de vez em quando beba alguma dose de cultura.
Já vi muito intelectual andando de bicicleta, nadando e até jogando bola, mas nunca soube de um jogador lendo os clássicos, por exemplo, isso pra não forçar muito a barra.
O que o artigo abaixo descrito (publicado no dia 13 de junho de 2011 no Caderno E do jornal O Estado do Maranhão) coloca em discussão não é a mania de os jogadores de futebol inovarem no seu corte de cabelo – coisa que há séculos os jovens o fazem, não apenas jogadores, mas também intelectuais de vanguarda e músicos, de uma forma geral, pois é evidente que o que está do lado de fora da cabeça não necessariamente retrata o que existe do lado de dentro.
O que o artigo visa espicaçar é o baixo nível intelectual da grande maioria dos jogadores de futebol, evidenciado nos estilos musicais de sua preferência, no lazer praticado, no “modus vivendi” e no vazio enorme que suas entrevistas ou declarações transmitem.
Eles não sabem sequer valorizar a própria história.
Na malfadada era Dunga, um repórter comentou com um dos milionários jogadores selecionados sobre Nilton Santos (uma das lendas do futebol entre 1948 e 1964, bicampeão mundial e alcunhado como “Enciclopédia”) e teve como resposta “já ouvi falar, mas não sei quem é...
Algum dia escreverei sobre o baixo nível atlético dos intelectuais, mas isto é um outro assunto.     



Por estranho que pareça, o artigo de hoje vai falar sobre... cabelo!
Talvez o mote principal não devesse ser cabelo, mas cabeça, que nos jogadores de futebol é muito mais usada para expor o que vai do lado de fora do que para mostrar alguma coisa que porventura exista do lado de dentro. O tema mais correto então talvez fosse “cabeça oca”.
Já disseram que cabeça não foi inventada apenas pra usar chapéu. Como o chapéu está fora de moda, e o boné – seu substituto – não freqüenta as cabeças como possivelmente desejaria, os donos das cabeças criaram um adereço de certa forma natural para diferenciá-los do mundo profano que os cerca, produzindo tranças, miçangas, rabos-de-cavalo e, ultimamente, cortes e formatos esquisitos, que fazem do visual do jogador alguma coisa semelhante a um ser de outros planetas.    
Existem no mundo do futebol cabeças vazias que raciocinam apenas na hora do jogo, cinestesicamente, mecanicamente. Alguns atletas também usam a cabeça propriamente dita para fazer gols, provocando a alegria e histeria coletiva, pouco interessando ao torcedor o que o dono da cabeça tem dentro dela.
É sabido que, com raras, raríssimas exceções, jogador de futebol é um tipo de indivíduo que não se classifica pela cultura nem pela contra-cultura, mas sim pela inexistência de cultura. Ele se dedica ao pagode, forró e baile funk, adora colecionar carrões para carregar os amigos de infância e gosta de exibir Marias-chuteiras que sempre lhes dão dor de cabeça e planejam golpes visando arrancar o seu dinheiro. Nas horas vagas, eles não lêem nem estudam (não há razão pra isso, pois já faturam uma pequena fortuna sem ter que usar o intelecto) e jogam vídeo game.
Para a parte esclarecida da população, eles não passam de agentes do lazer. Ninguém convidaria um jogador de futebol para um debate sério acerca de problemas sérios, pois as suas cabeças não possuem os mecanismos necessários para processar as idéias, por simples que sejam.
Mas de repente o mote passa a ser realmente “cabelo”, ou a falta dele.
Há uma década, a moda era raspar o couro cabeludo, alguns para compensar a carência capilar natural, outros para fazer charme – exemplo de Ronaldo e Roberto Carlos.
A moda pegou e ainda hoje aqueles que abraçaram a causa continuam passando a navalha no cocuruto para imitar os seus ídolos.
Após um breve interregno, onde jogadores com cara de mau – por coincidência todos volantes – inauguraram a era moicana, surgiu Neymar, o novo imperador da moda.
E aí o seu penteado, uma mistura de moicano, mandril e pica-pau, tomou conta do jet-set e contaminou pelo menos meia dúzia de meninos da Vila mais um bocado de pretendentes a Neymar, que tirando o belo futebol que possui em nada acrescenta em termos de modelo para a juventude.
Então todo jogador começou a perceber, ou pelo menos a imaginar, que a fórmula do sucesso não estava nos pés e sim na cabeça, ou melhor, no cabelo.
A última novidade foi apresentada por Robinho, que no entanto chegou com dez anos de atraso.

sábado, 21 de maio de 2011

Esporte também é cultura

O que vem abaixo do chapéu é uma transcrição do artigo que eu publico semanalnente no caderno E+, de esportes, no jornal O Estado do Maranhão.
O que me levou a escrever tal artigo, que foge da análise crítica ou da polêmica esportiva propriamente dita, foi a crescente irritação em ver (e ouvir) o Hino Nacional Brasileiro interpretado por cantores medíocres na busca de uma inovação equivocada, com uma interpretação pessoal abaixo dos padrões do bom gosto.
Não que eu seja do tipo que costuma pregar obediência e veneração aos símbolos da pátria - bandeira, escudo, selo e hino -  muito embora esteja provado que a degradação de um povo tem muito a ver com a banalização destes símbolos. O que me irritou foi a gratuidade quase insolente de uma interpretação pífia produzida através de uma voz trêmula e aguda de cantores que pensam que vivemos num país de chapéus de abas largas, cinturões e botas, cheirando a esterco e crina de cavalo.
Cantores que encarnam o sertanejo autêntico, como Rolando Boldrin, Renato Teixeira e Sérgio Reis, por exemplo, não se renderam à breguice do chamado sertanejo universitário, uma das pragas que assolam nossas plagas.
Nem se meteram a deturpar a forma e o conteúdo do nosso hino.   


Na cola do que acontece no mundo civilizado, virou praxe aqui pelo Brasil a execução do hino nacional por ocasião dos grandes eventos esportivos.
Existe em São Paulo inclusive uma lei estadual que obriga esta execução em qualquer evento esportivo oficial, seja ele um grande clássico de futebol ou uma partida mixuruca da terceira divisão (se isto é cumprido ou não, aí são outros quinhentos).
Em noventa por cento dos casos, a execução é feita pela banda de uma corporação militar ou mesmo via eletrônica, com o hino sendo entoado pelos alto-falantes dos estádios.
Nos outros dez por cento, cada apresentação sofre retoques tão pessoais que em breve os intérpretes estarão entoando alguma canção desconhecida, dada a disparidade dos arranjos, da harmonia e até da linha melódica.
No passado remoto e no passado recente já tivemos o hino louvado por Fafá de Belém por ocasião das Diretas Já, e destruído por Vanusa num evento público na Assembléia Legislativa de São Paulo.
No esporte, a tradição secular e comportada das bandas marciais vinha sendo mantida, até que, calcado nos megaeventos americanos, os organizadores decidiram colocar cantores para abrilhantarem o ato cívico-esportivo.
E aí começou a se evidenciar o mau gosto e a falta de sensibilidade musical dos produtores do show.
Ainda este mês antes da Fórmula Indy, quem cantou o hino nacional foi o novo astro da música sertaneja Luan Santana, um boneco sem voz e sem expressão, ou seja, tudo aquilo que não precisamos para representar qualquer coisa que se diga vibrante e patriótica.
O desastre prosseguiu quinze dias depois antes da final paulista entre Santos e Corinthians, quando outros sertanejos, Hugo e Tiago desentoaram o hino nacional com tudo o que tinham de direito.
Não é segredo para ninguém a minha posição a respeito de qualidade musical, envolvido que sou com o jazz e assemelhados há trinta anos só no Maranhão.
Mesmo assim, eu não aprovaria um arranjo jazzístico do hino só por considerar a qualidade do jazz acima das outras coisas. 
Respeito o (mau) gosto de muita gente, mas sinceramente acho que eles deviam curtir as suas preferências nos locais apropriados junto com seus pares, ou nos programas televisivos específicos que nos permitissem mudar de canal na busca de algo mais palatável aos ouvidos (se é que isto seja biologicamente possível).  
Ao exibir intérpretes sem a menor qualidade, os organizadores não apenas agridem as pessoas que possuem um rigor artístico mais aprimorado como denigrem a importância deste símbolo pátrio e expõem ao ridículo os próprios artistas, que são benquistos e bem sucedidos nos seus guetos específicos, quer seja uma casa noturna especializada ou uma vaquejada esquematizada exatamente para isso.
A execução do hino nacional antes de um evento esportivo de alta importância deveria ficar a cargo de uma banda militar convencional, de uma orquestra sinfônica ou de um cantor de verdade, respeitando a melodia, os sustenidos e bemóis originalmente concebidos pelo maestro Francisco Manuel da Silva.
Afinal, esporte também é cultura. 

terça-feira, 5 de abril de 2011

RETALHOS E REBOTALHOS (EXCERTO)


Este é um trecho de um conto chamado "Retalhos e Rebotalhos", publicado no meu livro "O Fantasma da FM", que foi lançado em dezembro de 1992. O conto narra a trajetória e as vicissitudes de um músico "da noite" que se vê obrigado a se ajustar às exigências do público para manter o emprego.  
Neste trecho, o leitor irá conhecer um pouco das origens do músico e a sua visão crítica a respeito da sua luta pela sobrevivência, se não em termos de vida, pelo menos em termos de arte.


Ricky López é um saxofonista tenor que também ataca de alto. Ele se chama Ricardo Porfírio Máximo de Souza Lopes, nascido em Oliveira dos Brejinhos, no sertão baiano, soprador de berrante, tocador de bois, mas hoje é Ricky López, músico que tenta a vida nos Jardins, o Éden incrustado na Paulicéia, o sax, as luzes, o agitado e frenético “way of life”.
Ricky mora no primeiro andar de um prédio de apartamentos com jardim verde-florido e tudo mais, cinzeiro, cigarro, camisa amarrotada e copo d’água pela metade, o cenário enfeitado por uma pirogravura mostrando a fachada da antiga Faculdade de Medicina e um calendário de parede Pan-Am, com fotos daqueles lugares da Alemanha e da Suíça que estão definitivamente fora do nosso alcance e do nosso bolso e da nossa cultura.
Sapato tombado de lado, meia revirada, mesa de centro com capas de discos de vinil – Lester Young, Cannonball Adderley, Jimmy Giuffre – Ricky López “wants to be on the top”.  
Mas Ricky Porfírio anda arregaçando com os nervos.
Primeiro a adaptação. Afinal, começara tocando na banda da brejeira Oliveira, aprendendo o sopro com o tio Emérito – “olhe aqui, menino, isto é uma palheta, isto é um bocal, o saxofone é mais bonito, tu ficas bem com o instrumento no pescoço!” – na verdade, ele mais parecia um boi de parelha com aqueles arreios todos e o pescoço pendido para baixo, feito bago de uva, mas ele não deixou por menos, soprou e soprou, aprendeu a diferenciar fusas de semi-fusas, e percebeu que existia algo mais do que o bonito, algo muito mais sensual e humano na voz do sax-tenor, nas curvas do sax-tenor, no “sax-so-funny”, no “sex-soul-phony”, com todos os seus tentáculos e todas as suas ventosas, as tentações do vício, as tentações da carne, as tentações da noite, a carta da tia chorosa, da tia Jerusa,  - “volta, filho, vem de volta tocar seu bombardino nas festas da cidade, deixa isso de aventura, chega de tanta querência, tio Emérito está esperando, já está com oitenta mas ainda é forte e parrudo, ainda apronta suas chamuscadas nos forrós da praça, ainda curte a sua cana brava na vida caiana!”.  
Mas Porfírio foi ficando, foi se adaptando à metrópole, passou longe do demônio dos vícios, soprou numa festa de estudantes de direito e caiu no gosto dos presentes – “toca Summertime!!, toca Stardust”” – e ele que só sabia soprar o Cego Laurentino, na calada das madrugadas foi se esgueirando por entre as casas musicais, e foi se habituando com o vibrato de Coleman Hawkins ou com a enxurrada de notas de John Coltrane nas noites solitárias ou nos dias de granizo.
Nascia Ricky López, artista de jazz, paletó largo, camisa estampada e colorida, sapato branco e dedos ágeis, apertando aqui e ali, acariciando a coluna dorsal do seu sax dourado, cujo brilho refletia todas as cores e todas as caras apesar da fumaça embaçada e da meia obscuridade das lâmpadas cada vez mais “dim”.   
É preciso ser artista para ser artista.
É preciso ter persistência para enfrentar as portas batidas na cara quando à procura de oportunidades, é preciso ter estômago para não vomitar na cara daquele figurão que pensa que sabe tudo e te trata como um idiota, é preciso ter saco para aturar aquele público errado, sempre pedindo para você tocar aquela música que você não conhece ou que conhece e detesta, é preciso ter sorte para descobrir um emprego onde você possa dar asas às emoções das notas musicais, das suas notas musicais, bem entendido, e ainda ganhar o miseravelmente necessário para cobrir o mínimo das suas necessidades.
É preciso ser de pedra para aturar o desaforo daquele acretinado que pede para você tocar a música errada na hora errada, e vê-lo, um apanágio da incultura, gargalhar acompanhado pela fêmea mais “cover girl” do pedaço, ela também uma burra de penacho para concordar com aquela cara, com aquele jeito, com aquele mau gosto e provavelmente com aquele bafo.
É preciso ser falso para conseguir chegar ao prazer todas as noites tocando exatamente a mesma coisa, é preciso ser mágico para tentar encontrar naquela harmonia alguma nota ou alguma pausa escondida, alguma passagem que não seja rotineira.
É preciso seu um gênio para sair daquele buraco às quatro da manhã, observando a decadência pouco a pouco tomar conta de cada um dos “habitués” de voz pastosa, o garçom colocando três ou quatro doses a mais na conta – esta é para o santo – e a sempiterna reclamação que nunca resolve absolutamente nada.
É preciso ser um santo para estudar música seis horas por dia.
É preciso ser Deus para tocar como Charlie Parker.



quinta-feira, 31 de março de 2011

SEXTA JAZZ COM ANDREA CANTA

  

As andanças pelo mundo afora do músico maranhense Nosly sem dúvida lhe renderam muitos dividendos em termos de estudo, vivência e aprimoramento. Ainda bem que, de vez em quando, ele divide com a gente a experiência e o conhecimento adquiridos em outras terras, de modo que estes dividendos acabam rendendo juros também por aqui.
Assim, foi Nosly o responsável por trazer a lume a cantora Andrea Canta, nascida na Alemanha – Düsseldorf, para ser mais preciso – mas vestida com todas as roupas da latinidade e da moderna música internacional.
O projeto foi na verdade uma prévia do que se pretende fazer em outubro deste ano no III Lençóis Jazz & Blues Festival, um trabalho lapidado pelo dublê de músico e produtor Tutuca.
É a terceira vez que a cantora visita o Brasil, onde já esteve participando de shows e de workshops numa intensa troca de experiência entre os valores musicais aprendidos na sua terra natal e aqueles que ela vem descobrindo pelo mundo.
Como seu próprio nome indica, Andrea canta, e canta muito bem. Quem conferiu sua apresentação na quinta-feira 24 de março no Botequim, sabe do que eu estou falando.
Acompanhada pelo próprio Nosly no violão, além de Jair Torres na guitarra, Mauro Sérgio no baixo e Isaías Alves na bateria – com direito a canja do saxofonista Sávio Araújo – Andrea passeou por diversos estilos que variaram entre a música popular brasileira, o reggae, o soul, os ritmos latinos e o pop internacional, além de alguma investida no jazz, tudo com muita alegria e firmeza de quem sabe o que está fazendo.
Andrea Canta adquiriu uma vasta experiência ao trabalhar com grandes nomes da música moderna nos Estados Unidos, na Inglaterra, em Cuba e na Jamaica.
Ela confessa seu fascínio desde muito jovem pela música brasileira e cubana, fazendo com que desenvolvesse um trabalho baseado nessas influências, o que acabou por levá-la a Havana onde gravou com uma das mais conceituadas bandas daquelas bandas, a Ng La Banda.
Ela tem também experiência como compositora e produtora de estúdio, com gravações realizadas pela EMI, Wea, Highlife Time e outras, incluindo nos seus trabalhos “cuts” da world music e da dance music e a música “Beachball”, um hit internacional gravado ao lado do grupo Nalin & Kane.
Vocês têm um encontro marcado com Andrea Canta e a sua música nesta sexta-feira, dia 1 de abril – de verdade! – no Sexta Jazz da Rádio Universidade, oito da noite.
Lá, vamos ouvir a música de Andrea Canta e uma entrevista curiosa em half English – half Portuguese.
Bilíngüe, como a própria música de Andrea exige.

sexta-feira, 18 de março de 2011

UM MILHÃO PARA BETHÂNIA



O Ministério da Cultura autorizou a cantora Maria Bethânia a captar R$1,3 milhão para um projeto que privilegia a postagem no seu blog (seu, dela) de 365 mini-vídeos de 1 minuto cada, um para cada dia do ano.
É como uma oração, como um mantra.
Você inicia o dia ouvindo uma reconfortante poesia ao módico preço de R$ 3.561 reais que você não paga, mas alguém paga.
O projeto se denomina “O Mundo Precisa de Poesia” e, ao contrário do que poderiam esperar os fãs apaixonados pela voz melodiosa da cantora, ela realmente não canta, apenas declama poemas.
Talvez o título mais adequado fosse “Bethânia Precisa de Dinheiro”.
Ao autorizar o refinado pedido, o MinC não fez nada de errado, apenas usou a forma da lei, pois existe o chamado “Mecanismo de Incentivo Fiscal”, criado em 1993, para estimular a iniciativa privada a investir em obras cinematográficas brasileiras por meio de renúncia fiscal.
O uso de vídeos em blogs e afins é apenas uma adaptação da palavra “cinematográfica”, portanto, a terminologia não vem ao caso, e o projeto tem a mesma validade de um longa-metragem ou de um ensaio produzido por um videomaker.
Há que se entender também que os empresários que decidiram investir no projeto não fizeram mais do que utilizar o que a lei faculta, e se decidiram jogar mais R$ 1 milhão no projeto de um único artista é porque admitem que terão uma contrapartida pela exposição diária a um sem número de visitantes que acessarão o blog. Assim, os empresários que apostam no sucesso do empreendimento também não fizeram nada de errado, pois consideram que terão um retorno garantido.
Só que existem artistas que acham que a Lei Rouanet foi feita especialmente para eles.
Em 2008, a empresa de Maria Bethânia pediu autorização para buscar R$ 1,8 milhão em patrocínio para bancar sua turnê com a cantora e dançarina cubana Omara Portuondo. O pedido foi negado, mas o ministro interino da Cultura, Juca Ferreira, passou por cima da decisão e mandou aprovar.   
Projetos que chegaram à casa do milhão de reais também beneficiaram Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Claudia Leitte, o que poderia passar a impressão de que cultura musical baiana é a única que vale a pena no Brasil.
Não é o caso, pois existem outros projetos milionários tramitando, como Maria Rita (R$ 2,2 milhões para cinco shows com músicas de Elis), Marisa Monte (R$ 5 milhões para quatro shows) e Erasmo Carlos (R$ 1,2 milhão para um único show). Deu a louca no mundo!
Acrescente-se que ninguém está errado, pois todos são amparados pela lei.
Uma lei idiota que não estipula limites de captação e joga R$ milhões nas mãos de dois ou três afortunados, quando poderiam fracionar em porções menores para possibilitar que outros artistas também fossem contemplados.
É até um escárnio que um país como o Brasil, cuja carência de incentivos culturais bem intencionados inibe o surgimento de muitos valores por falta de investimento em shows, registros fonográficos e/ou audiovisuais e pequenas turnês, possua uma lei mal feita como essa.
Junto meu protesto ao roqueiro maldito Lobão, que apesar das alucinações parece ser um dos poucos artistas lúcidos a bradar contra esta bandalheira oficial.



quinta-feira, 10 de março de 2011

WAYNE WALLACE NO SEXTA JAZZ


UM CUBANO NASCIDO NA CALIFÓRNIA
Muitas vezes o jazz escreve certo por linhas diferentes. Assim, mesmo tendo nascido no que podemos chamar berço do West-Coast jazz, o trombonista Wayne Wallace foi sempre fascinado pelos ritmos afro-cubanos, e como uma coisa leva à outra, ele se viu estudando na Escola Nacional de Artes em Havana, onde se aperfeiçoou entre 1993 e 1999 para se tornar um americano com a cara musical de Cuba, seja no trombone, no piano ou cantando.
Wayne começou com o piano aos seis anos e depois com o trombone aos dez, crescendo o suficiente para topar uns encontros com Narada Michael, Tito Puente, Sammy Davis, Jr., Pete Escovedo e outros mais.
Trombonista, compositor e arranjador dos mais considerados, Wayne recebeu diversas premiações por trabalhos de composição voltados para a música latina através da San Francisco Arts Commission, da N.E.A., da Zellerbach Foundation,  e do Creative Work Fund, e é detentor do Bay Area Theater Critics Award.
Extremamente competente, ele navega com desenvoltura por diversos gêneros musicais “calientes”, como o mambo, a salsa, o ska, o funk ou o bolero, tudo calcado no jazz e no blues.
Mas Wallace não fica só na execução ou na composição.
Ele tem atuado como produtor de artistas importantes no contexto internacional – e aqui podemos citar Celine Dion, Angela Bofill, Chris Isaak, Earth Wind and Fire e Whitney Huston, entre outros. Ele também trabalha com trilhas para cinema e televisão.
Seus recentes CDs “To Hear From There”, “The Reckless Search For Beauty” e “Dedication” são uma prova de inventividade, e marcam definitivamente a profunda união musical dos ritmos caribenhos com o jazz, revivendo as incursões feitas no século passado por Dizzy Gillespie ao lado de Machito, Mario Bauzá e Chano Pozo.
É interessante notar que ao contrário de Gillespie, Wayne Wallace se cerca de músicos também americanos, exceção feita a um ou outro músico convidado, mas todos devidamente lambuzados com o molho e o tempero da verdadeira cozinha musical cubana.
É este Wayne Wallace que vocês terão oportunidade de conhecer – ou re-ouvir, conforme for o caso – nesta sexta-feira, dia 11 de março, no programa Sexta Jazz, 8 da noite, na Rádio Universidade (você pode ouvir pela internet acessando o site universidadefm.ufma.br)
Nota: O CD que será executado no programa, “To Hear From Here” me foi gentilmente presenteado pelo radialista, crítico musical e produtor (e roqueiro nas horas incertas) Gilberto Mineiro.


segunda-feira, 7 de março de 2011

O CARNAVAL DOS OUTROS

 

O carnaval brasileiro é o mais famoso do mundo, dizem as boas e as más línguas.
Não chega a haver controvérsias, mas é bom a gente saber, do alto da nossa proverbial verdade, que existem outros Carnavais que não estes cantados pelos sambas de enredo, pelas marchas-rancho, pelas marchinhas, pelos sambas de carnaval, pelo frevo e pelo maracatu, e atualmente pelos ritmos baianos, gostem-se deles ou não.
Enquanto as escolas de samba invadem as madrugadas rasgando as passarelas do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras, e enquanto animados blocos desorganizados vão arrebanhando foliões avulsos pelas esquinas movimentadas das grandes metrópoles ao som de uma charanga improvisada, outras partes do mundo vão fazendo a sua parte.
Afinal, é Carnaval, uma festa que dizem ter seu nome originado no latim Carne Vale, “adeus à carne”, ou seja, “adeus aos prazeres da carne”, ironicamente produzida num período de cinco dias onde a carne (sem trocadilho) abunda.
Parece papo de brasileiro, mas o Carnaval do Rio de Janeiro é tido realmente como o mais sensacional do mundo “um teatro a céu aberto”, “uma febre de cores e luzes”, “uma ópera popular contagiante” ou “um espetáculo de música e alegria” como o descrevem nossos ufanos jornalistas.
O fato é que o Rio conseguiu exportar seu modelo de carros alegóricos, adereços e bateria para Tóquio e – pasmem! – até para Helsinque; também mandou a alegria dos blocos de rua para Nova York e Buenos Aires, e se mantém absoluto neste quesito, eis que o Livro Guiness de Recordes aponta o Galo da Madrugada, de Recife, como o maior bloco carnavalesco do mundo (o bloco mais antigo, ainda em explosiva atividade,  seria o Cordão do Bola Preta, fundado em 1918, mas o Galo continua cantando mais alto, pelo menos no Livro).
Apesar da pujança do Carnaval carioca, muito antes do Zé Pereira sair batendo a sua lata nas ruas do Rio Antigo e dar o ponta-pé inicial no Entrudo, outros países já faziam os seus Carnavais de uma maneira própria, com motivos, fantasias, música e desfiles que em muito diferem da alegria e dos pecados encontrados no sul do equador.
Em Veneza, as festividades começaram no século 17, e têm seu ponto alto nas máscaras que os nobres usavam para poderem sair às ruas e se misturar com o povo sem serem reconhecidos. As máscaras até os dias de hoje são muito sérias e não remetem à folia, preferindo se referir ao drama e à comédia do teatro grego.
O Carnaval de Veneza nasceu nas ruas sob a inspiração dos personagens da Commedia Dell’Arte – Arlecchino, Pantalone, Colombina, e outros – e passou também para os salões, sendo festejado durante dez dias.
A música é baseada no folclore italiano, e apesar de alegre e vibrante, não chegaria a contagiar o folião brasileiro, que iria sentir falta de um ritmo mais marcante.
O Carnaval de Paris talvez não seja tão conhecido, mas faz parte do calendário oficial da cidade desde o século 16.
Ao contrário do Carnaval de Veneza, o de Paris nasceu por conta dos trabalhadores, o que fez com que, historicamente, ele possuísse menos glamour e riqueza. Além do mais, ele foi descontinuado entre os anos 1950 e 1993, o que faz com que muitos parisienses não lhe dêem atualmente muita importância.
O Carnaval de Paris marca, porém, um ponto decisivo na história dos folguedos, pois influenciou na existência do Mardi Gras do Carnaval de Nova Orleans, sendo a sua principal referência.
Excetuando o Rio de Janeiro e atualmente Salvador, o Mardi Gras – expressão francesa que significa Terça-Feira Gorda – é o Carnaval mais procurado pelos turistas, chegando a reunir na temporada momesca mais de 4 milhões de pessoas na cidade de Nova Orleans.
Os festejos começam a esquentar já no mês de janeiro, mas dez dias antes da terça-feira gorda a coisa fica realmente festiva, com muita gente participando ativamente do clima musical-gastronômico proporcionado pela cidade.
Músicos tocam nas esquinas e, é claro, nos bares e restaurantes. No French Quarter, o bairro mais famoso da cidade, rolam desfiles com carros alegóricos tocando Dixieland – a marca registrada da Louisiana – e também o blues e outras músicas, sejam elas caribenhas ou de origem crèole, que é uma afro-mistura da música européia com a música feita pelos negros no século 19.
Talvez a diferença fundamental entre os Carnavais de Nova Orleans e do Brasil seja a dança. Enquanto no Brasil – Rio, Salvador, Recife, Olinda ou onde quer que seja – os participantes do desfile e aqueles que assistem o desfile dançam ao som da bateria que batuca incessantemente, na Louisiana os músicos tocam, os participantes desfilam e o povo escuta, no máximo acompanhando o ritmo com os pés batendo no chão. 
As marcas registradas do Mardi Gras são os desfiles com jeito de banda militar, as máscaras de gesso, as cheerleaders (garotas uniformizadas que fazem evolução à frente dos carros alegóricos a exemplo do que fazem nos intervalos das grandes competições esportivas americanas), negros trajando um figurino utilizado há mais de cem anos evoluindo por entre os carros, e algumas moças, na maioria universitárias, que mostram rapidamente os seios em troca de ganharem colares de contas para cobri-los devidamente.
E muitos camelôs vendendo colares...   
Mas o Carnaval não se resume a estes eventos principais.
Neste mundo globalizado, o Carnaval se espalhou e já “contaminou” Santiago de Cuba, Austin, no Texas, Los Angeles, na Califórnia, Cádiz, na Espanha, Oruro, na Bolívia, Barranquilla, na Colômbia, Londres, Québec, as Ilhas Canárias e tantos outros.

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Mas, qual a origem de tudo isso?
O carnaval, proposto em diferentes formas, faz parte da comemoração de diversos países. Alguns tipos de Carnaval são claramente baseados nos festejos do Rio de Janeiro, é certo, mas outros se baseiam em origens próprias e diferem em forma e conteúdo.
O que existe de semelhante em todos eles é a data da celebração, baseada na Quaresma, que marca quarenta dias de jejum – período que Cristo passou jejuando no deserto, antecedendo o domingo de Páscoa, cuja data é fixada como o primeiro domingo depois do aparecimento da primeira lua cheia na primavera do hemisfério norte (confuso, não?).
Apesar de existirem relatos históricos segundo os quais o Carnaval tenha a sua origem na Grécia em aproximadamente 600 A.C., a história moderna situa o início das festividades a partir da implantação da Semana Santa pela Igreja Católica no século 11, antecedidas pelos quarenta dias de jejum, a Quaresma.
Assim, Carne Vale significava um adeus temporário aos prazeres deste mundo durante quarenta dias de jejum e abstinência, e para tal os homens faziam grandes “festas de despedida”, evidentemente com muita esbórnia e libações diversas.
O Carnaval da antiguidade durava uma semana e era marcado por grandes festas onde se dançava, comia, bebia e participava de alegres celebrações. Os escravos ganhavam uma semana de licença para fazerem o que bem entendessem e o próprio rei entrava na farra junto com a patuléia – daí surgindo possivelmente a figura do Rei Momo.
Hoje, pelo menos pelo que se observa no Brasil, o rei é representado por alguns governantes e algumas celebridades que evitam o contato direto com o povo e preferem se isolar nos camarotes especiais das cervejarias ou freqüentar bailes de gala isolados, cuja participação se restringe a convidados especiais.
Mas os “escravos” continuam tendo a sua semana de folga.   

terça-feira, 1 de março de 2011

UM BALAIO DE GATOS


(O artigo Bola Alta publicado na última segunda-feira, dia 28 de fevereiro no jornal O Estado do Maranhão, procura retratar o destino incerto das transmissões do futebol pela televisão. A briga entre CBF, Globo, Record, Rede TV, Clube dos 13 e clubes dissidentes envolve bilhões de reais mas é rasteira e indigente como seria uma briga para ver quem coloca um carrinho de pipoca em frente ao cinema de bairro.
Há muito tempo o telespectador tem que aturar os caprichos da Globo, que manipula os horários dos jogos a seu bel prazer e faz a escolha do que vai apresentar baseada nos índices de audiência, o que tende a privilegiar apenas dois ou três clubes entre todos os participantes da elite da Séria A brasileira.
Por outro lado, o Clube dos 13, que nasceu para cuidar do futebol dos clubes, organizando uma Liga nos moldes do que se faz na Europa, deitou-se em berço esplêndido e o que faz apenas é trabalhar com a negociação da transmissão das partidas, se mantendo acima do bem e do mal porque atende os clubes que chegam com o pires na mão para adiantar receitas devidas mas ainda futuras, numa espécie de agiotagem onde os juros são pagos em forma de obediência e subserviência.
A CBF, por sua vez, sempre considerou o futebol dos clubes como uma mercadoria de segunda necessidade, possivelmente um mal necessário para se manter no poder enquanto gerencia os assuntos da seleção, principalmente agora, com a  responsabilidade de organizar uma Copa das Confederações e uma Copa do Mundo.
Para a CBF seria muito mais vantajoso se existisse uma Liga que se auto-administrasse, pagando para ela - CBF - percentuais sobre direitos, comissões, licenciamento, ou coisa que o valha; mas a entidade insiste em se envolver diretamente em todos os assuntos, desde a tabela de jogos até as arbitragens, passando pelo tribunal de justiça, e o que faz na prática é apenas manter um caudaloso feudo que começa com o presidente Ricardo Teixeira e sua diretoria e segue adiante com as federações estaduais.
Os clubes se curvam a este estado de coisa, porque aqueles que se rebelam são massacrados sem piedade.
Este é o roteiro desta queda de braço. O enredo final está sendo traçado e seu final se dará dentro em breve, sem muita esperança de que alguma mudança significativa venha a ocorrer
).  

A briga entre a CBF e seus aliados contra o Clube dos 13 e seus ainda associados se transformou num autêntico balaio de gatos, pra não dizer um ninho de cobras.
Vaidades, mentiras, armações e desculpas esfarrapadas fazem parte desse jogo sujo que representa os anseios do esporte, mas não têm nada de esportivo.
O caldeirão começou a ferver há alguns meses quando a CBF espichou os olhos para o Clube dos 13, não pela vontade de organizar o futebol dos clubes – coisa que o Clube dos 13 também não faz – mas pela avidez com que prospectou o dinheiro envolvido nos direitos televisivos.
Em 2012 um novo contrato deverá ser firmado, e com o futebol em alta por conta da Copa que se aproxima, as emissoras sabem que os patrocinadores vão pagar alto pela exposição dos seus nomes e que, portanto, o montante a ser arrecadado – com uma parte gorda sendo repassada aos clubes – deverá possivelmente duplicar no próximo triênio.
Para vocês fazerem uma idéia, o atual presidente do Clube dos 13, Fabio Koff, consegue se pagar um salário mensal de 54 mil reais. A entidade tem reservas suficientes para emprestar dinheiro aos afiliados e adiantar cotas de televisão aos amigos, numa transação financeira das mais atraentes para quem não tem dinheiro, precisa contratar novos jogadores e manter a folha de pagamento em dia.
Como o pasto é bom, o gado engorda.
Por conta disso, a CBF instituiu Kléber Leite como seu candidato para tentar derrotar Koff nas últimas eleições, mas Koff ganhou, contando com a ajuda de clubes como o São Paulo (desafeto da CBF há uma longa data) e o Flamengo (por causa da rivalidade existente entre a recém-eleita presidente Patrícia Amorim e o candidato da CBF).
Como represália ao São Paulo, no dia seguinte Ricardo Teixeira anunciou que o Morumbi estava fora da Copa e começou a articular um processo político com os órgãos competentes, incluindo o governo, para fazer a abertura no estádio do Corinthians, seu mais recente e forte aliado, apesar de o estádio até hoje não ter saído do papel!
Continuando o seu projeto maquiavélico, Teixeira reconheceu os títulos que Santos, Palmeiras e Fluminense haviam conquistado num passado remoto, concedendo a eles o status de campeões brasileiros, mas continuou ignorando o título do Flamengo de 1987.
O próximo passo para desestabilizar o rubro-negro foi autorizar a Caixa Econômica a entregar a Taça das Bolinhas para o São Paulo, despertando a ira da presidente, que o atacou com paus e pedras.
Então, o golpe de mestre: o Flamengo foi declarado pentacampeão em 1987 e consumou-se mais um enlace visando enfraquecer o Clube dos 13 de vez.
De qualquer forma, a cisão está feita, cuidadosamente dividida em quatro grupos neste momento: o Corinthians abandonou os 13, os quatro do Rio continuam lá mas não reconhecem os 13 como negociadores, alguns estão em cima do muro, pesando as conseqüências, e outros declararam fidelidade a Koff, sabe-se lá até quando.
Enquanto isso, os gatos se engalfinham.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

PAPO DE CHORÕES

 
O Clube do Choro está provisoriamente sem casa depois de sucessivas mudanças – do Chico Canhoto para o Portal da Amazônia, do Portal para a Associação do Pessoal da Caixa, e da Associação para as noites de lua – mas os chorões da ilha continuam se movimentando.
Aqui e acolá os grupos mais tradicionais, como Chorando Calado, Pixinguinha e Tira Teima continuam se apresentando mesmo sem possuir residência fixa, enquanto o Clube tenta se organizar e encontrar um local que possa ser utilizado novamente como base fixa para os alegres saraus e tertúlias musicais.
Enquanto eu também me organizo para reaparecer em alguma chorata, posto que com a debandada dos artistas para lugares diversos eu também fiquei meio perdido, recebi um e-mail do Clube do Choro Chorinho (assim assinava o remetente) comunicando novidades na formação e na atuação do grupo Tira Teima.
Eis a mensagem na íntegra:

Assunto: Solano do Regional Tira Teima, com Choro

Olá Chorões!!
O Regional Tira Teima se apresenta neste sábado (Nota: o sábado se refere ao dia 26 de fevereiro de 2011) a partir das 18h00 no Empório Santa Cruz (Av. dos Holandeses, Calhau). O grupo de choro mais antigo de São Luís, que vem renovando seus integrantes durante estes anos, terá agora um novo componente. Francisco Solano (7 cordas e presidente do Clube do Choro do Maranhão) anuncia sua saída do Regional Tira Teima, sendo substituído por João Eudes (7 cordas).
Solano, sensibilizado com a saída de Ronaldo, ‘O Fenômeno’, passa a sua posição para o não menos fenômeno João Eudes. Solano garante que não recebeu proposta de nenhum outro grupo de choro, que somente quer se dedicar à família e às atividades de empresário, e disse mais – que isso não dê motivos para choro, pois o choro do Regional Tira Teima sempre trouxe muitas alegrias para ele, que continuará um autêntico chorão “

Respondi de pronto a Paulo Trabulsi, solista de cavaquinho e mais antigo integrante do grupo, com cópia para o Clube do Choro, para João Eudes, para o produtor Ivo Segura e para o eterno paladino Ricarte Almeida Santos, que não pode ficar fora disso.
Paulo é um velho amigo, um dos primeiros músicos que conheci quando cheguei ao Maranhão há trinta anos, e juntos já privamos de muitas sessões musicais e de muito bate-papo de escol. Apesar de ele ser do choro e eu ser do jazz, temos muita coisa em comum, pois ambos possuímos – salve a modéstia! – um grande refinamento musical.
Assim lia a minha mensagem:

Paulo Trabulsi
A notícia da aposentadoria precoce do Francisco Solano em si não é boa, porque o mestre das 7 cordas encarnava com perfeição o espírito do Tira Teima e vai sem dúvida fazer muita falta. Além do mais, seu profundo conhecimento da música brasileira – principalmente a do passado – em termos de repertório e interpretação, faz dele um violonista imprescindível para o choro, valsas, sambas e que tais. Devemos, porém, respeitar a sua decisão de pendurar as chuteiras em prol da vida familiar e profissional. Solano se retira recebendo meu sinal de respeito e agradecimento pela oportunidade que tive de participar algumas vezes da sua música.
Por outro lado, chega João Eudes, com quem também tive oportunidade de privar da companhia humana e musical. Eudes tem consigo o essencial do bom músico – técnica, habilidade, percepção, e entusiasmo – e foi a escolha perfeita para dar continuidade ao trabalho sério e brejeiro do Regional.
Gostaria de saber se a presença do Tira Teima no Empório Santa Cruz significa o início de uma temporada ou se é uma apresentação especial. Não terei condições de lá estar no dia 26 porque vou me apresentar à noite no Mandamentos, mas se houver continuidade do projeto, com certeza irei prestigiar num sábado próximo, na esperança, quem sabe... talvez...de dar uma das famosas canjas acompanhado pela moçada.
Augusto Pellegrini”    

Isto posto, entre um sopro do Coltrane e um arpégio do Peterson ou vou começar a ensaiar alguns Pixinguinhas pra um futuro novo encontro. 

domingo, 20 de fevereiro de 2011

...FUI !!!


(Este artigo foi publicado na coluna Bola Alta do jornal O Estado do Maranhão do dia 21 de fevereiro de 2011, e fala sobre a despedida do atacante Ronaldo Nazário, o Fenômeno, que começou no dia 14 e aparentemente não tem data para acabar. Maior artilheiro das Copas do Mundo, Ronaldo passou boa parte da sua carreira nos departamentos médicos dos clubes pelos quais atuou, e sem conseguir controlar seu exceso de peso nem manter o velho arranque, preferiu se aposentar antes de dar vexame em campo. Ronaldo já ingressou no jet-set e provavelmente se manterá nele por muito tempo ao lado de outras celebridades, de mulheres bonitas (apesar de casado), de champanhes francesas e de festas deslumbrantes. Infelizmente, ele já foi flagrado com um cigarro na mão, mas como ninguém é perfeito, ele tem o direito de curtir a sua vida de milionário como melhor lhe aprouver)

A despedida de Ronaldo foi um autêntico carrossel de emoções. Sedas foram rasgadas, agradecimentos foram proferidos aos borbotões e todo mundo chorou.
Ronaldo chorou, Andres chorou, jornalistas e telespectadores choraram, os brucutus da Gaviões choraram, até o gato da vizinha chorou.
Na verdade, a despedida do Fenômeno, analisadas as circunstâncias, foi precoce.
Se ele não dependesse tanto do físico e da velocidade, talvez se acomodasse em outra posição e jogasse mais três ou quatro anos.
Na coletiva sobrou alguma informação desencontrada, mas o que significa uma informação desencontrada diante da magnitude do evento? O que representa um hipotireoidismo corriqueiro diante da artilharia em todas as Copas?
Evidentemente nenhum repórter iria esmiuçar qualquer questionamento constrangedor que pudesse empanar o brilho da festa, então a nave caminhou em águas tranqüilas, sem marolas.
Ninguém pode negar que Ronaldo chegou, viu e venceu no Corinthians.
Ele foi um vencedor, mesmo contando com os recentes fracassos no Campeonato Brasileiro e na Pré-Libertadores.
Estes títulos ele não ganhou, mas ganhou dois nos primeiros seis meses, e deu alguma contribuição para a história do clube.
Sua carreira foi marcada de forma decisiva pelas grandes atuações no Barcelona e na Seleção Brasileira, mesmo que não tenha luzido como devia no futebol italiano e no Real Madrid. Tivesse fracassado na Seleção, como outros grandes jogadores, Ronaldo não teria alcançado este status.
Diz a lenda que quando Ronaldo nasceu, uma vidente falou para dona Sônia Nazário que “este menino fará tanto sucesso na vida que a senhora nem imagina!”.
Lenda ou realidade, o magrelinho de Bento Ribeiro – subúrbio do Rio – começou a brilhar ainda muito jovem, e sua ida do São Cristóvão para o Cruzeiro foi o passo inicial de uma carreira que em pouco tempo o levaria para a Europa e para a consagração.
Aos 34 anos, ele já viveu seguramente 50, tantas foram as aventuras e peripécias com as quais se envolveu na vida profissional e pessoal. Problemas de sensacionalismo e de contusões foram uma constante na sua vida, fazendo dele um dos objetos do desejo de jornais, revistas e televisão.
Como eu costumo andar na contramão da história, volto a repetir que nunca vi no Fenômeno este tamanho de craque que o mundo inteiro lhe dedica, e acho que há um certo exagero quando se diz que Ronaldo foi o maior atacante da história do futebol mundial.
Talvez por não ser fã de trombadores, prefiro o refinamento à voluntariedade. Vejo muita gente à frente do 9 famoso, como seus contemporâneos Zidane, Romário, Hagi e Stoichkov, os seus “antepassados” Zico, Maradona, Van Basten e Platini ou os jurássicos Pelé e Di Stefano.  E o atual Messi.
No fim da entrevista, o que ficou foi a promessa de que Ronaldo continuará trabalhando para o Corinthians, embora não se saiba como, e que seu contrato milionário com a Hypermarcas deverá ser revisto, o que definitivamente não fará dele um pobre brasileiro desempregado.
 

  


  

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ARTIE SHAW NO SEXTA JAZZ

Artie Shaw foi um fenômeno de mídia da época áurea do swing, possuindo o status do qual se revestem os pop-stars de hoje, sejam Lady Gaga, Britney Spears, Madonna ou Paul MacCartney.
Considerado uma espécie de galã, Artie Shaw foi um colecionador de belas mulheres e se casou com algumas delas – Jane Cairns, Margaret Allen, Lana Turner, Betty Kern, Ava Gardner, Kathlen Winsor, Doris Dowling e Evelyn Keyes – num total de oito casamentos.  
Shaw começou a brilhar no início dos anos 1930 fazendo aberturas para outras orquestras e logo se diferenciou ao adicionar um naipe de cordas às orquestrações swinguísticas, transformando-se num “must” da música orquestral americana por mais de uma década, na época em que pontificavam também as orquestras de Benny Goodman, Tommy Dorsey e Harry James.
Ao lado destas e de outras orquestras, Shaw consolidou o jazz dançante ao som personalíssimo da sua clarineta, com interpretações perfeitas e inesquecíveis de It Had To Be You, Begin The Beguine, Hindustan, What Is This Thing Called Love?, Yesterdays e outras.
Durante a Segunda Guerra levou seus músicos para o Pacífico, trocando os paletós elegantes dos grandes salões pelo uniforme das Forças Americanas.
Artie Shaw deu um stop na sua carreira em 1954, embora ocasionalmente ainda aparecesse em algum evento importante, e morreu aos 94 anos em 2004.
Você poderá conferir isto e mais um pouco no programa Sexta Jazz que vai ao ar nesta próxima sexta-feira, dia 18 de fevereiro, através das ondas da Rádio Universidade.

 

O ESTUDO COMO FORMA DE CRESCIMENTO

(Este artigo foi escrito para aqueles adolescentes que pensam que as coisas caem do céu (e as nossas escolas estão cheias deles) e foi também publicado em um house organ de uma escola de inglês. A intenção foi a de despertar nos jovens leitores (muito provavelmente apenas eventuais) a necessidade imperiosa de eles se prepararem para o futuro, porque muito em breve eles terão que encarar a lei do mais forte. Sem a menor pretensão de ter escrito mais um abominável texto de auto-ajuda, tenho plena consciência que o artigo também serve para muito adulto folgado que só pensa em enriquecer materialmente (com certeza jogando nas loterias) e se esquece que sem uma bagagem cultural o novo rico fica apenas sendo um rico idiota). 

Certa vez, há muitos anos atrás, mesmo não jogando lá essas coisas eu resolvi fazer do xadrez o meu passatempo predileto.
Para tanto, combinei com um amigo nascido na então Iugoslávia, chamado Bóris Yovanovich – este sim, um bom jogador – para que praticássemos todo final de dia.
E assim foi feito. Diariamente, depois das cinco, as partidas se desenrolavam naturalmente e eu, é claro, perdia todas!
A coisa tomou tal dimensão e as derrotas se tornaram tão rotineiras e contundentes que eu decidi que estava na hora de mudar o rumo da minha história sobre o tabuleiro.
Um dia Boris teve que viajar, então fizemos uma pausa de três semanas, tempo necessário para eu comprar dois ou três livros e começar a estudar, dedicando parte do meu tempo para as aberturas, parte para o desenvolvimento e parte para os finais de partida.
Aprendi muito com Ruy Lopez. Alekhine, Capablanca e outros mestres, e então chegou a hora de testar meu novo perfil contra o meu amigo.
Para a minha surpresa – e a dele – comecei sistematicamente a ganhar as partidas, algumas até sem muita dificuldade. Após algumas derrotas, Boris questionou o meu súbito crescimento xadrezista.
Expliquei o que havia feito e também lhe mostrei os livros. Após as explicações de praxe, ele coçou a cabeça e declarou solenemente que iria também começar a estudar.
Este episódio não teve nada de especial, mas me deixou duas lições.
Primeiro, por mais que você acha que sabe, sempre existe espaço para saber um pouco mais, ou seja, somos todos ignorantes e as portas do conhecimento são inesgotáveis. “A única coisa que sei, é que nada sei”, já havia dito Aristóteles.
Segundo, quanto mais você aprimora o seu conhecimento, maiores são as possibilidades de você se tornar um vencedor.
Isto acontece com o xadrez, isto acontece com qualquer matéria da vida, inclusive com o domínio de idiomas estrangeiros.
Todo tipo de aprendizado é primordialmente uma questão de vontade.
Diferentemente de outro tipo de estudo – química, física, biologia – que requer muita leitura, alguma memorização e uma boa dose de paciência, estudar idiomas é mais uma questão prazerosa de se manter ligado às coisas que nos cercam.
Por exemplo, você aprende inglês diariamente assistindo TV, lendo “outdoors”, apreciando vitrines e fachadas comerciais, ouvindo música, navegando na Internet ou tentando entender o manual de instruções daquele novo implemento eletrônico que você acabou de adquirir.
E tem mais: ao se integrar numa sala de aula, você pratica o idioma com o professor e com os seus colegas, descobre curiosidades e particularidades de uma cultura diferente e se diverte ao descortinar coisas novas. Em outras palavras, você se diferencia do comum, passa a ser uma pessoa com um futuro mais resolvido, fazendo realmente parte do mundo globalizado em que estamos vivendo, e se prepara para enfrentar desafios, aqui ou em qualquer parte do mundo.
O negócio é não se conformar com os reveses só porque aquele outro alguém está tendo mais sucesso. O negócio é estudar, qualquer que seja a forma e o método, para garantir o seu lugar na sociedade competitiva em que vivemos.
Foi assim que eu equilibrei as coisas com meu amigo Bóris.