A HORA DO RECOMEÇO
A
imprensa e a opinião pública já disseram tudo o que tinha que ser dito a
respeito da tragédia aérea nos arredores de Medellin, portanto não vou descer a
detalhes.
A
única coisa que eu posso acrescentar é estritamente pessoal, pois diz respeito
não a análises técnicas ou esotéricas, mas ao meu próprio sentimento, ligado
que sou às coisas da bola.
Ao
executar um trabalho voltado para o esporte – em particular ao futebol – o
comentarista se habitua a frequentar um meio do qual ele fisicamente não faz
parte, mas cria intimidades.
E,
ao acompanhar os jogos, ouvir entrevistas, se imiscuir no dia a dia das equipes
e participar da efervescência que cerca as partidas antes, durante e depois da
sua realização, além de discutir consigo mesmo ou com uma pessoa próxima o que
está sendo dito numa mesa redonda, o comentarista se torna amigo dos
profissionais do esporte, sejam eles jogadores, membros da comissão técnica ou
jornalistas que fazem a cobertura dos clubes ou dos eventos.
Assim,
com a queda do avião da LAMIA, perdi diversos amigos que participavam comigo,
sem que soubessem, de incontáveis horas de lazer.
Isso
acontece com o espectador de novelas, com o cinéfilo ou com o tiete de cantores
famosos. A pessoa se sente próxima do artista como se ele fosse seu amigo particular
ou parente próximo.
Isso explica a
comoção que sentimos quando uma tragédia ocorre na nossa proximiidade, seja
esta proximidade física ou emocional, pois percebemos que a catástrofe está ao
nosso redor e que quem quer que reja o nosso destino coloca o perigo num patamar
imponderável a poucos passos da gente. Aí ficamos sobressaltados como uma barata
com as antenas ligadas, sentindo o perigo que ronda por perto, pois como dizia
Billy Blanco, “a bruxa, que é cega”, esbarra na gente e a vida estanca”.
É claro que nos
é igualmente pesaroso um acidente aéreo que mate toda uma delegação de rúgbi da
Nova Zelândia ou de ginástica artística da China, mas nestes casos nós aqui, no
Brasil, digerimos o pesar de uma forma mais tranquila, pois estamos longe das
lágrimas do povo e da comoção causada.
Mas no caso da
Chapecoense, ver o fim de uma equipe da Série A, muitas vezes mostrada nas
quartas-feiras ou nos domingos na tela da nossa televisão, representa para os
brasileiros um choque doloroso.
Já nos
habituáramos a ver os jogadores da Chapecoense mostrando técnica e brio e já
estávamos cientes do poderio daquele time, vencesse ou não a final da Copa
Sul-Americana. Afinal, seus jogadores estiveram o ano todo numa posição de
destaque, e muitos deles já estavam nos planos de outros grandes clubes para
reforçar o elenco em 2017.
Para uma equipe
considerada pequena, a Chape até que faz uma boa campanha no Campeonato
Brasileiro: faltando uma rodada está entre os dez primeiros colocados – em
nono, no caso – e obteve resultados importantes como vencer Botafogo e
Fluminense no Rio de Janeiro, acumular vitórias em casa contra São Paulo,
Internacional, Botafogo e Cruzeiro e empatar com Flamengo, São Paulo e Cruzeiro
no campo dos adversários.
Chegou à
semifinal da Copa do Brasil, sendo eliminado no detalhe pelo Atlético Mineiro e
foi o único time brasileiro que chegou este ano à final de um torneio
intercontinental – a Copa Sul-Americana – final que infelizmente não chegou a
disputar.
É hora de
recomeço. Com a ajuda de todos, a Chape tem que sobreviver à tragédia e tocar a
bola pra frente. Não esqueçam que para encerrar a temporada o time ainda tem
que cumprir uma partida contra o Atlético Mineiro pelo Brasileirão 2016,
jogando em casa, na Arena Condá.
Os
sobreviventes vão à luta.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 02/12/2016)