PASSANDO O FUTEBOL A
LIMPO
Parece
que a situação política no Brasil está fazendo escola, pois a verdade começa a
ser escancarada também no mundo do futebol.
Talvez
estimulado pelo atual clima de tentativa de moralização que toma conta do país,
com punições exemplares, confissões espontâneas, delações premiadas e
esclarecimentos que buscam “me deixar fora disso”, o Coordenador Geral de
Seleções Gilmar Rinaldi abriu o jogo esta semana e falou sobre as pressões que
a Comissão Técnica da Seleção sofre na hora das convocações.
Ele
foi além, e citou a palavra “corrupção” no seu comentário, que foi feito
durante um evento da ABEX Futebol – Associação Brasileira de Executivos de
Futebol.
Gilmar
declarou que em um ano e meio à frente do cargo já se viu frente a frente com
muitos problemas, inclusive pessoas oferecendo coisas em troca da convocação
deste ou daquele jogador e ameaças pessoais. Ele garantiu que tem tudo
documentado e que está preparando extenso material que será protocolado na
secretaria da CBF e entregue ao presidente da entidade.
Existe
uma rede de sanguessugas que vive de fazer lobby na intermediação de compra e
venda de jogadores, um verdadeiro câncer que precisa ser extirpado.
Gilmar
não citou nomes, nem de dirigentes esportivos nem de agentes ou empresários,
mas deixou claro que tanto ele quanto o técnico Dunga vêm tendo problemas em
exercer o seu trabalho com tranquilidade e encontram dificuldades na observação
dos jogadores para fins de convocação tendo em vista possíveis pressões e
conflitos de interesse.
Cada
convocação envolve interesses diversos de clubes e de agentes de diversos
clubes que procuram valorizar os seus atletas, que passaram a ser considerados
como “commodities”, nas transações com os mercados europeu, asiático e
norte-americano.
É
o dinheiro falando muito alto e quebrando as barreiras da honestidade.
Não
se sabe se o pronunciamento de Gilmar foi espontâneo, se pretendeu deixar claro
para a opinião pública que a Comissão Técnica é imune às atividades pouco
recomendáveis de uma Confederação objeto de desconfiança generalizada ou se tem
a ver com a intensificação da CPI do Futebol, que quer colocar as atividades da
CBF a limpo.
Suspeita-se
que este procedimento espúrio tenha iniciado na era Ricardo Teixeira.
Não
é por acaso que Teixeira esteja grossamente enrolado em denuncias e suspeitas
de falcatruas diversas com tentáculos na Fifa e na Conmebol e que a
administração da CBF esteja manchada com a prisão do seu ex-presidente José
Maria Marin e nas dificuldades que o presidente licenciado Marco Antonio Del
Nero está tendo com a lei. Acrescente-se ao quadro a fragilidade e falta de
comando do presidente em exercício Coronel Antônio Nunes, sem firmeza para
administrar a entidade, acuado que está pelos cartolas dos clubes e pela CPI
que avança.
A
CPI do Futebol foi instalada pelo Senado para investigar supostas
irregularidades em contratos assinados pela CBF para a realização de partidas
da seleção, bem como os contratos referentes a campeonatos e torneios
realizados pela entidade, incluindo a Copa das Confederações de 2013 e a Copa
do Mundo de 2014. O prazo para a conclusão dos trabalhos é julho deste ano.
A
Comissão é presidida pelo senador Romário e tem entre os seus outros 10
participantes alguns nomes politicamente pouco recomendáveis, que aqui vou
omitir por fugir à finalidade do artigo, mas que não deixa de ser preocupante.
A
esperança é que a CPI frutifique e que as punições dela provenientes tenham o
condão de não apenas moralizar o futebol brasileiro como também restaurar a
qualidade técnica que foi perdida neste século que atirou o nosso futebol nas
trevas.
Por
isso e mais aquilo, torna-se muito oportuno o desabafo de Gilmar Rinaldi. O
desportista brasileiro espera que a CPI requisite o relatório do Coordenador
para engrossar as suas páginas e aprofundar as medidas corretivas.
E
que de tudo isso surja uma solução.
(artigo
publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 18/03/2016)