sexta-feira, 18 de março de 2016







PASSANDO O FUTEBOL A LIMPO


Parece que a situação política no Brasil está fazendo escola, pois a verdade começa a ser escancarada também no mundo do futebol.
Talvez estimulado pelo atual clima de tentativa de moralização que toma conta do país, com punições exemplares, confissões espontâneas, delações premiadas e esclarecimentos que buscam “me deixar fora disso”, o Coordenador Geral de Seleções Gilmar Rinaldi abriu o jogo esta semana e falou sobre as pressões que a Comissão Técnica da Seleção sofre na hora das convocações.
Ele foi além, e citou a palavra “corrupção” no seu comentário, que foi feito durante um evento da ABEX Futebol – Associação Brasileira de Executivos de Futebol.
Gilmar declarou que em um ano e meio à frente do cargo já se viu frente a frente com muitos problemas, inclusive pessoas oferecendo coisas em troca da convocação deste ou daquele jogador e ameaças pessoais. Ele garantiu que tem tudo documentado e que está preparando extenso material que será protocolado na secretaria da CBF e entregue ao presidente da entidade.
Existe uma rede de sanguessugas que vive de fazer lobby na intermediação de compra e venda de jogadores, um verdadeiro câncer que precisa ser extirpado.
Gilmar não citou nomes, nem de dirigentes esportivos nem de agentes ou empresários, mas deixou claro que tanto ele quanto o técnico Dunga vêm tendo problemas em exercer o seu trabalho com tranquilidade e encontram dificuldades na observação dos jogadores para fins de convocação tendo em vista possíveis pressões e conflitos de interesse.
Cada convocação envolve interesses diversos de clubes e de agentes de diversos clubes que procuram valorizar os seus atletas, que passaram a ser considerados como “commodities”, nas transações com os mercados europeu, asiático e norte-americano.
É o dinheiro falando muito alto e quebrando as barreiras da honestidade.
Não se sabe se o pronunciamento de Gilmar foi espontâneo, se pretendeu deixar claro para a opinião pública que a Comissão Técnica é imune às atividades pouco recomendáveis de uma Confederação objeto de desconfiança generalizada ou se tem a ver com a intensificação da CPI do Futebol, que quer colocar as atividades da CBF a limpo.
Suspeita-se que este procedimento espúrio tenha iniciado na era Ricardo Teixeira.
Não é por acaso que Teixeira esteja grossamente enrolado em denuncias e suspeitas de falcatruas diversas com tentáculos na Fifa e na Conmebol e que a administração da CBF esteja manchada com a prisão do seu ex-presidente José Maria Marin e nas dificuldades que o presidente licenciado Marco Antonio Del Nero está tendo com a lei. Acrescente-se ao quadro a fragilidade e falta de comando do presidente em exercício Coronel Antônio Nunes, sem firmeza para administrar a entidade, acuado que está pelos cartolas dos clubes e pela CPI que avança.
A CPI do Futebol foi instalada pelo Senado para investigar supostas irregularidades em contratos assinados pela CBF para a realização de partidas da seleção, bem como os contratos referentes a campeonatos e torneios realizados pela entidade, incluindo a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014. O prazo para a conclusão dos trabalhos é julho deste ano.
A Comissão é presidida pelo senador Romário e tem entre os seus outros 10 participantes alguns nomes politicamente pouco recomendáveis, que aqui vou omitir por fugir à finalidade do artigo, mas que não deixa de ser preocupante.
A esperança é que a CPI frutifique e que as punições dela provenientes tenham o condão de não apenas moralizar o futebol brasileiro como também restaurar a qualidade técnica que foi perdida neste século que atirou o nosso futebol nas trevas.
Por isso e mais aquilo, torna-se muito oportuno o desabafo de Gilmar Rinaldi. O desportista brasileiro espera que a CPI requisite o relatório do Coordenador para engrossar as suas páginas e aprofundar as medidas corretivas.
E que de tudo isso surja uma solução.

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 18/03/2016)