sábado, 9 de julho de 2016





PIADA DE MAU GOSTO

Quando uma cidade se propõe a bancar uma Olimpíada, ela expõe para a apreciação do mundo as suas virtudes e os seus defeitos, e pode colocar em xeque o seu orgulho nacional.
A cidade que se prepara para ser uma grande anfitriã deve fazê-lo mediante as suas possibilidades, mas tem que assumir a responsabilidade de maneira séria e comprometida. Trata-se de uma festa, e como tal deve ser encarada pelos participantes e pelos visitantes, mas principalmente pelos organizadores. 
Estes visitantes – turistas ou profissionais da imprensa ou do esporte – chegam à festa buscando alegria, diversão, tranquilidade, condições de trabalho e, no caso do Rio de Janeiro, praia, calor e samba.
Muitos vêm de países ameaçados pela escalada do terror, convulsionados por problemas de imigração, recessão, disputas políticas e diferenças internas e para eles trinta dias de férias na terra do carnaval seria uma verdadeira bênção.
Para um evento deste porte, o país anfitrião, mais do que organizar uma festa onde procura proporcionar ao turista aquilo que ele almeja, se prepara com muito cuidado também para cumprir com o seu papel esportivo com dignidade na busca do maior número possível de medalhas.
É claro que os atletas brasileiros deverão obter sucesso em diversas modalidades – são esperadas medalhas no judô, nos diversos tipos de vôlei e ginástica, natação e futebol – mas longe do número que poderia conseguir se tivesse se dedicado nos últimos quatro ou cinco anos a formar atletas em escolas, quartéis e associações esportivas.
A possibilidade de crescermos no quadro de medalhas se torna maior pela ausência de alguns atletas estrangeiros que, alarmados com as más notícias do Rio de Janeiro, preferiram não arriscar a sua integridade. Some-se a isso a ausência dos atletas da Rússia, punidos por um projeto criminoso de doping que aparentemente tinha o aval do governo.
Mas por mais que alguns heróis brasileiros consigam ir ao pódio, a situação poderia ser consideravelmente melhor se o insignificante Ministério do Esporte e o pouco confiável Comitê Olímpico Brasileiro tivessem se preocupado mais em trabalhar e menos com auferir ganhos – político e financeiro.
Em momento algum nenhuma das duas entidades nem as autoridades do Rio de Janeiro se preocuparam em recuperar quadras, distribuir bolsas e providenciar técnicos para uma preparação adequada dos atletas que lutavam para conseguir seus índices ou se sobressair em competições para atuar nos Jogos com relativa chance de sucesso.
Os atletas chamados de alto rendimento continuaram fazendo seu treinamento fora do país contando com patrocínio de empresas ou bancando as despesas do próprio bolso, como aliás sempre fizeram.
Assim, os Jogos, cuja finalidade deveria ser trazer para o país dividendos esportivos, acabou virando uma ostentação com outra finalidade.
Mais uma vez gastou-se muito e muito mal.
Obras inacabadas e com certeza feitas com um baixo padrão de qualidade – mirem o exemplo da ciclovia da Av. Niemeyer – se aliam a uma suspeita de uma enorme corrupção, o que infelizmente se tornou uma prática comum no Brasil.  
O gerenciamento pífio de todo um sistema que envolve infraestrutura, segurança, acomodações, mobilidade urbana, limpeza e cuidados com a saúde, aliado à falta de transparência do Comitê Olímpico Brasileiro e à inutilidade do Ministério dos Esportes coloca em risco os Jogos Olímpicos como um todo.
Enquanto os policiais em greve estendem faixas no Aeroporto para recepcionar os turistas olímpicos – “Welcome to Hell” (Bem-Vindos ao Inferno), numa alusão à criminalidade crescente, à falta de condição de vida do cidadão, ao caos da rede hospitalar pública, à poluição de toda a orla marinha e às doenças que assolam a população – nosso país vira objeto de riso nas redes de TV americanas, com divulgação internacional pelas redes sociais e pelo youtube.
No seu programa “The Late Show” pela CBS americana, o comediante e apresentador Stephen Colbert usou uma série de chistes para mostrar a cara do Rio de Janeiro pré-olímpico de uma maneira cruel. Ele faz piada com o superfaturamento das obras, a violência, a greve da polícia, a corrupção, o crime organizado, a poluição das águas da baía e a morte da onça na insana passagem da tocha.
Viramos piada de mau gosto aos olhos do mundo, e o pior é que ele está certo.

(Artigo publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 08/07/2016)