PIADA DE MAU GOSTO
Quando uma cidade se propõe
a bancar uma Olimpíada, ela expõe para a apreciação do mundo as suas virtudes e
os seus defeitos, e pode colocar em xeque o seu orgulho nacional.
A cidade que se prepara para
ser uma grande anfitriã deve fazê-lo mediante as suas possibilidades, mas tem
que assumir a responsabilidade de maneira séria e comprometida. Trata-se de uma
festa, e como tal deve ser encarada pelos participantes e pelos visitantes, mas
principalmente pelos organizadores.
Estes visitantes – turistas
ou profissionais da imprensa ou do esporte – chegam à festa buscando alegria,
diversão, tranquilidade, condições de trabalho e, no caso do Rio de Janeiro,
praia, calor e samba.
Muitos vêm de países
ameaçados pela escalada do terror, convulsionados por problemas de imigração,
recessão, disputas políticas e diferenças internas e para eles trinta dias de férias
na terra do carnaval seria uma verdadeira bênção.
Para um evento deste porte,
o país anfitrião, mais do que organizar uma festa onde procura proporcionar ao turista
aquilo que ele almeja, se prepara com muito cuidado também para cumprir com o seu
papel esportivo com dignidade na busca do maior número possível de medalhas.
É claro que os atletas
brasileiros deverão obter sucesso em diversas modalidades – são esperadas
medalhas no judô, nos diversos tipos de vôlei e ginástica, natação e futebol –
mas longe do número que poderia conseguir se tivesse se dedicado nos últimos
quatro ou cinco anos a formar atletas em escolas, quartéis e associações
esportivas.
A possibilidade de
crescermos no quadro de medalhas se torna maior pela ausência de alguns atletas
estrangeiros que, alarmados com as más notícias do Rio de Janeiro, preferiram
não arriscar a sua integridade. Some-se a isso a ausência dos atletas da Rússia,
punidos por um projeto criminoso de doping que aparentemente tinha o aval do
governo.
Mas por mais que alguns
heróis brasileiros consigam ir ao pódio, a situação poderia ser consideravelmente
melhor se o insignificante Ministério do Esporte e o pouco confiável Comitê
Olímpico Brasileiro tivessem se preocupado mais em trabalhar e menos com auferir
ganhos – político e financeiro.
Em momento algum nenhuma das
duas entidades nem as autoridades do Rio de Janeiro se preocuparam em recuperar
quadras, distribuir bolsas e providenciar técnicos para uma preparação adequada
dos atletas que lutavam para conseguir seus índices ou se sobressair em
competições para atuar nos Jogos com relativa chance de sucesso.
Os atletas chamados de alto
rendimento continuaram fazendo seu treinamento
fora do país contando com
patrocínio de empresas ou bancando as despesas do próprio bolso, como aliás sempre fizeram.
Assim, os Jogos, cuja finalidade deveria
ser trazer para o país dividendos esportivos, acabou virando uma ostentação com
outra finalidade.
Mais uma vez gastou-se muito e muito
mal.
Obras inacabadas e com certeza feitas com
um baixo padrão de qualidade – mirem o exemplo da ciclovia da Av. Niemeyer – se
aliam a uma suspeita de uma enorme corrupção, o que infelizmente se tornou uma
prática comum no Brasil.
O gerenciamento
pífio de todo um sistema que envolve infraestrutura, segurança, acomodações,
mobilidade urbana, limpeza e cuidados com a saúde, aliado à falta de
transparência do Comitê Olímpico Brasileiro e à inutilidade do Ministério dos
Esportes coloca em risco os Jogos Olímpicos como um todo.
Enquanto os
policiais em greve estendem faixas no Aeroporto para recepcionar os turistas
olímpicos – “Welcome to Hell” (Bem-Vindos ao Inferno), numa alusão à
criminalidade crescente, à falta de condição de vida do cidadão, ao caos da
rede hospitalar pública, à poluição de toda a orla marinha e às doenças que
assolam a população – nosso país vira objeto de riso nas redes de TV
americanas, com divulgação internacional pelas redes sociais e pelo youtube.
No seu programa
“The Late Show” pela CBS americana, o comediante e apresentador Stephen Colbert
usou uma série de chistes para mostrar a cara do Rio de Janeiro pré-olímpico de
uma maneira cruel. Ele faz piada com o superfaturamento das obras, a violência,
a greve da polícia, a corrupção, o crime organizado, a poluição das águas da
baía e a morte da onça na insana passagem da tocha.
Viramos piada
de mau gosto aos olhos do mundo, e o pior é que ele está certo.
(Artigo
publicado no caderno de Esportes do jornal O Imparcial de 08/07/2016)