sábado, 16 de abril de 2022

 


REFLEXOS DO PASSADO 

1979

(Samba-canção de Augusto Pellegrini)

 

Quanto tempo passou

E a lembrança

Ainda vive a meu lado

O desejo morreu

De vingar minha vã mocidade

Foi bem disfarçado o veneno

Que tive em meus lábios

Em forma de beijos

Tão falsos, tão frios

E calados

 

Quanto tempo passou

E a promessa ficou na saudade

A esperança morreu

Foi-se o sonho, e com sinceridade

Vou ficando mais velho, e de tanto

Que pintaram, meus cabelos brancos

Tomam conta de mim

E a saudade me faz ser feliz

 

Felicidade

Já começo a sentir que chegou

Um sentimento de alegria e de perdão

A vingança crescendo

Conduz à maldade

Eu fiz bem, na verdade

Em calar minha dor

 

Ah, quanto tempo passou, afinal

Quanta idade pra compreender

Que tristeza e saudade só sofre

Quem não sabe viver

Quanto tempo passou, afinal

Quanta idade pra compreender

Que tristeza e saudade só sofre

Quem não sabe viver

 

sexta-feira, 15 de abril de 2022

 


A FEIJÃOZADA

(Augusto Pellegrini) 

Então resolvi fazer
Fim de semana que vem
Uma feijãozada esperta
E deixar a porta aberta
Pros amigos que convém 

Vou fazer um par de compras
Mercado, quitanda e feira
Pra panela ou frigideira
Superando os prós e os contras
De uma ou de outra maneira 

Vou comprar o feijão preto
Pra temperar do meu jeito
Com pimenta malagueta
E fazer desta receita
Um repasto muito quente
 

Cozinhar bem, com carinho
A linguiça calabresa
E também a portuguesa
E os pedaços de toicinho
Para a alegria da mesa

Vou preparar a feijãozada
Com a carne defumada
E convidar as pessoas
Para alegrar a empreitada
Paio e cachaça da boa 

Compro outros ingredientes
Do lombo à orelha salgada
E todos os componentes
De modo que a feijãozada
Seja de fato excelente 

Do limão pra caipirinha
E a laranja pra quem gosta
À crocante bistequinha
Que na receita é proposta
Com arroz, couve e farinha
 

Pra rebater essa delícia
Boa de fazer inveja
Um samba bom, com malícia
E alguns baldes de cerveja
Pra beber na hora propícia
 

E assim, junto com a moçada
De cerveja e caipirinha
Samba, amigos, feijãozada
Um caldo e uma gargalhada
Ao som de um bom cavaquinho
 

Abril de 2022

 

                                  Na foto: Nara Leão e Carlos Lyra

COMO NASCEM AS CANÇÕES
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 7) 

A bossa nova logo se desentendeu consigo mesma graças a uma corrente que contestava o seu lado burguês. Para eles, a poesia bossanovista se fixava apenas nas belezas do Rio e deixava de lado antigas queixas sobre a qualidade de vida do carioca menos privilegiado.

Em outras, palavras, descobriram que a bossa nova era “alienada”.

Uma ala dissidente procurava buscar como fonte de inspiração o lado B da cidade – o morro, a favela e a pobreza – um movimento interessante que acabou valorizando músicos e compositores de outras vertentes, como Cartola, Zé Keti, Nelson Cavaquinho e mesmo João do Vale, agregando-os à juventude intelectual progressista que frequentava o local – Carlos Lyra, Edu Lobo, Baden Powell, Oduvaldo Vianna Filho, Ruy Guerra, Nelson Lins e Barros, Dori Caymmi, Sérgio Ricardo.

O movimento também descentralizava o foco da bossa nova e nacionalizava a visão crítica social, inserindo no contexto compositores como Chico Buarque, Capinam, Gilberto Gil e Dominguinhos.

Nara Leão, que havia se imortalizado como “a musa da bossa nova” era, ao lado de Elis Regina e Maria Bethânia, o principal motor incentivador da nova cena.

Um dos compositores que mais lutaram nesse sentido foi Carlos Lyra, o mesmo da sereníssima “Se É Tarde, Me Perdoa” (“Se é tarde, me perdoa / Mas eu não sabia que você sabia / Que a vida é tão boa / Se é tarde, me perdoa / Eu cheguei mentindo, eu cheguei partindo / Eu cheguei à toa /  Se é tarde, me perdoa / Trago desencantos de amores tantos pela madrugada / Se é tarde, me perdoa / Vinha só, cansado”).

Deixando a poesia de lado, Lyra saiu em defesa do lado pobre do Rio e compôs coisas como “Feio Não É Bonito” (“Feio não é bonito / O morro existe, mas pede pra se acabar / Canta, mas canta triste / Porque tristeza é só o se tem pra cantar / Chora, mas chora rindo / Porque é valente e nunca se deixa quebrar / Ama, o morro ama / O amor aflito, o amor bonito que pede outra história...”) ou “Maria Moita”, um hino ao feminismo em plenos anos 1960 (“... Deus fez primeiro o homem, a mulher nasceu depois / Por isso é que a mulher trabalha sempre pelos dois / Homem acaba de chegar tá com fome / A mulher tem que olhar pelo homem / E é deitada ou em pé, mulher tem é que trabalhar...”).

Tom Jobim e Vinícius de Moraes também entraram na onda e compuseram “O Morro Não Tem Vez” (“O morro não tem vez / O que ele fez já foi demais / Mas olhem bem vocês / Quando derem vez ao morro / Toda a cidade vai cantar”).

Além de buscar inspiração nas raízes mais sofridas do povo do Rio de Janeiro, Carlos Lyra também engrossou a onda social-nacionalista na mesma linha de José Ramos Tinhorão, Gianfrancesco Guarnieri, Chico de Assis e Geraldo Vandré ao denunciar a “invasão americana” na música brasileira.

Lyra compôs “Influência Do Jazz” (“Pobre samba meu / Foi se misturando, se modernizando / E se perdeu / E o rebolado, cadê? /Não tem mais / Cadê o tal gingado que mexe com a gente? / Coitado do meu samba, mudou de repente / Influência do jazz”), mais ou menos nos mesmos moldes de “Chiclete Com Banana”, composto por Gordurinha e Almira Castilho e gravada por Jackson do Pandeiro em 1959 também na onda do nacionalismo (”Eu só ponho bebop no meu samba / Quando Tio Sam pegar o tamborim / Quando ele pegar / No pandeiro e no zabumba / Quando ele aprender que o samba não é rumba...”).

Walter Santos, um baiano cuja voz e atitude lembravam João Gilberto, sustentou a discussão com “Samba Só” (“Bossa nova ou samba-jazz / Sambalanço ou samba só / O que importa é que o balanço é bom / Interessa é balançar / Bossa nova ou samba-jazz / Nosso samba agora está demais / Ah, meu samba, fizeram tanta confusão / Disseram que você desafinava / Ah, meu samba, quanta ingratidão”), e Leny Andrade veio de “Estamos Aí”, de Durval Ferreira e Mauricio Einhorn (“Só se for agora a bossa vai prosseguir / Todo mundo vai gostar, nosso samba é demais / Bossa nova vai mostrar que pode arrasar / Se falar de sol e amor, de mar e luar / E de gente que cantando vai / Gente que só tem na alma paz e amor / E pro mundo todo vai mostrar então / Que a bossa nova cresce / Que a bossa nova vence / Que a nossa bossa vale, estamos aí!”), e completava com um magnífico scat bem na linha do bebop.  

 


CURIOSIDADES ESPORTIVAS

CAMPEÕES DO MUNDO       

1978 - Campeão: ARGENTINA
            Vice-campeão: HOLANDA

A nona Copa do Mundo foi disputada na Argentina, cujo governo tentava reabilitar aos olhos do mundo a imagem desgastada do país após o golpe militar ocorrido em 1976. Todo o esforço nas quatro linhas e atrás delas foi feito para que os donos da casa conseguissem levantar a taça – a exemplo do ocorrido com a Itália em 1934. O Brasil bem que poderia ter estragado a festa, mas ficou no 0x0 contra os “hermanos” na chamada Batalha de Rosário e teve que assistir a classificação portenha numa (dizem que) arranjada goleada de 6x0 da Argentina contra o Peru. A campanha brasileira foi razoável (1x1 contra a Suécia, 0x0 contra a Espanha, 1x0 contra a Áustria, 3x0 contra o Peru, 0x0 contra a Argentina, 2x1 contra a Polônia e 2x1 contra a Itália, terminando em 3º lugar com jogadores como Leão, Oscar, Toninho Cerezo, Zico, Dirceu e Roberto Dinamite.  A Argentina foi campeã ao bater a Holanda na prorrogação por 3x1 após um empate no tempo regulamentar em 1x1, gols assinalados por Nanninga (Holanda) e Kempes (Argentina) no tempo normal e Kempes e Bertoni na prorrogação. A Argentina conquistou o título com Fillol; Olguín, Galván, Passarella (capitão) e Tarantini; Gallego, Ardiles (Larrosa) e Kempes; Bertoni, Ortiz (Houseman) e Luque.   

 

ANO               LOCAL                       CAMPEÃO                BRASIL FICOU EM
1930              Uruguai                     URUGUAI                             6° lugar
1934              Itália                          ITÁLIA                                   14° lugar
1938              França                       ITÁLIA                                   3° lugar   
1950              Brasil                         URUGUAI                             2º lugar
1954              Suíça                         ALEMANHA                         6º lugar
1958              Suécia                       BRASIL                                 1º lugar
1962              Chile                          BRASIL                                1º lugar
1966              Inglaterra                   INGLATERRA                       11º lugar
1970              México                       BRASIL                                 1º lugar
1974              Alemanha                  ALEMANHA                           4º lugar
1978              Argentina                   ARGENTINA                         3º lugar

 

 

 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

 


NOVOCABULÁRIO INGLÊS

(Copyright FluentU)

Commonly mispronounced words in the English language 

(ver tradução após o texto)

 

LIBRARY   

How it is mistakenly pronounced: “LIE-bear-ee” 

How it is actually pronounced: “LIE-brair-ee” 

 

The “R” sounds in this word are hard for a lot of non-native speakers to figure out. Though it is clearly spelled with an “R” right next to the “B”, even native speakers tend to leave it out.

 

“We went to the local library to check out some books”

 

         

            TRADUÇÃO 

Palavras muito comuns de serem pronunciadas erradamente na língua inglesa

 

BIBLIOTECA

Pronúncia incorreta na língua inglesa: “LAI-be-ri”  

Pronúncia correta na língua inglesa: LAI-bre-ri

 

O som da letra “R” nesta palavra é complicado para muitos falantes não-nativos da língua inglesa. Embora esteja claramente soletrado com o “R” ao lado do “B”, mesmo os nativos da língua inglesa às vezes não o pronunciam claramente.   

“Nós fomos à biblioteca local para procurar alguns livros.”



Atenção: Muita gente traduz erradamente “LIBRARY’ por “livraria”. “LIBRARY” significa “biblioteca, coleção de livros”. “Livraria é “BOOKSTORE”.

 

terça-feira, 12 de abril de 2022

                                                               


                                                 PÁGINAS ESCOLHIDAS

O FANTASMA DA FM (1992)
(Augusto Pellegrini)

“SCRATCH”
       (DOS NAUTAS E NAUFRÁGIOS)

Cai um balde. Cai um balde vazio. “Scratch clang clang”.
Vamos nos localizar no tempo e no espaço. Estamos no convés de um brigue.
Um bruto brigue flibusteiro, desses de assaltar passantes caso passantes houver no mar.
O marinheiro de camiseta listrada fuma o seu cachimbo reto e se envolve em lilazes nebulosas, cospe de lado – “chuip poff” – e – “swamp schomp” – joga o balde sobre as cordas que um dia já enforcaram o enforcado.

‘Capitão! Capitão! Temos problemas aqui!!” – berra uma voz na ponte de comando.
Então aparece o Capitão Barba Rubra, velho lobo do mar, surpreendentemente sem portar um só fio de barba, e também sem o tapa-olho preto e muito bem fisicamente, pois ele é um pirata esperto que coloca seu lugar-tenente para lutar em seu lugar (e que de tantas lutas já está meio postiço, usando olho de vidro e perna de pau).
Barba Rubra é um biltre. O biltre bucaneiro do brigue flibusteiro.

“Que se ice a bujarrona!”
Não adianta, pois de chofre vem a chuva, a enchente da enchentes, de encher o mar e o ar, de encher a terra e o céu, de encher o barco e o balde, de encher o saco!!
Alguém joga o balde através da escotilha molhada e não se ouve o esperado “splash” da queda no mar. Debalde.

Para a chuva, para o vento, cessam as vozes, o que é do barco?
Não há mais Barba Rubra, nem balde. Nem bujarrona nem mezena.
Desapareceu a corda que enforcou o enforcado.
Cânticos de sereias deslizam nas ondas gigantescas de gotas grotescas.

Não há mais nada… somente uma prancha que sobrou da ponte de comando e sobre ela o marinheiro de camiseta listrada com seu cachimbo, de lilazes nebulosas.    

 

(A hora final do “Bruxa dos Sete Mares”, sob o ponto de vista do sobrevivente e seu cachimbo)