sexta-feira, 16 de agosto de 2019





Letra de Augusto Pellegrini sobre composição musical de Renato Winkler, anos 1960

A BUSCA 

Ah, esta eterna procura
Do que não se perdeu
A gente onde é que está?
Ah, esta sempre vontade
De ser e de saber
Tudo o que é e tem seu valor
É busca da gente em si mesma
É busca no tempo e no espaço
É busca do amor que não veio
Com a esperança de um dia encontrar

Ah, a procura daquela
Nova dimensão
A dimensão da paz
De tudo o que se quis um dia
De tudo o que se fez um dia
Pra ter aquela Maria
Pra ter aquela Maria

quinta-feira, 15 de agosto de 2019






A IRA  
(Excerto)


Tudo andava às mil maravilhas naquela cidadezinha no sul da França, Saint Jean des Canards. Monsieur Patou caminhando placidamente pela rua arborizada, as flores florindo na primavera, o sol resplandecente furando as copas das árvores, os passarinhos gorjeando em francês e alguns Jacques, Jean-Pierres e Charlottes se cumprimentando e se sorrindo.
O vendedor de sorvetes oferece à criança um copinho com “crème des pommes” enquanto ao fundo a jovem Geneviève tem um “frisson” ao cruzar seu olhar com o de Laurent, um vizinho tímido e agradável que falava com os olhos tudo aquilo que os lábios não ousavam pronunciar, como dizia o poeta.
Monsieur Patou consulta o seu relógio, aqueles de bolso, a  corrente fazendo um arco por cima da virilha, é quase hora do almoço, vamos provar os quitutes preparados por Madeleine, sua mulher há mais de trinta anos, exímia cozinheira, já antevendo o assado de vitela com batatas coradas, regadas ao bom vinho “du Rhône”.
Madeleine termina de ajeitar a mesa, o avental impecavelmente engomado servindo de adorno ao vestido caseiro, trazendo no rosto a expressão de um artista a contemplar a sua mais recente obra prima, a mesa posta e uma terrina de sopa ocupando o centro.
Monsieur Patou entra pela porta da sala, dirige-se à mesa, beija afetuosamente Madeleine na testa e pergunta – “o que minha patinha fez para o almoço de hoje?” – ao que Madeleine responde – “sopa de quiabo” – “sopa de quiabo?!” – exclama Patou estupefato – “mas Joujou” (Joujou é Madeleine, na intimidade), “você sabe que eu odeio sopa de quiabo!” – “mas sopa de quiabo é tão bom!...” – e segue por aí afora a discussão sobre as qualidades nutritivas do quiabo, até que Patou se deu por vencido e sentou-se à mesa sem disfarçar um resmungo – “sopa de quiabo com vinho ‘du Rhone’, bah!”
Mas a primavera estava linda, Patou amava Joujou e ainda mais com essa linguiça cortada aos pedaços, e a batata, e o tempero de Joujou... sem contar que ele já havia lido num velho almanaque que quiabo era um poderoso afrodisíaco!...
Os dois sentados à mesa, a toalha xadrez já um pouco machucada pelo uso, a terrina fumegando, os pratos decorados e o relógio da sala batendo meio-dia, o sol penetrando pelas frestas da janela e as nuvens negras do desacordo se desvanecendo no ar.
Patou e Madeleine Joujou formavam um casal feliz, como feliz se sentia toda a humanidade concentrada na pequena Saint Jean des Canards naquele dia maravilhoso. 
Monsieur Patou dá a primeira colherada, dá a segunda colherada, limpa o canto da boca com o guardanapo branco que tem preso ao pescoço e, de repente, arregala os olhos.
“Uma mosca! Uma mosca na minha sopa!”
O pequeno díptero, já morto e com as pernas arreganhadas flutuava de costas ao lado de um pedaço de tomate e de uma rodela de quiabo, preso à sua viscosidade como se esta fosse uma teia de aranha gelatinosa.
Patou se levanta num solavanco, arranca o guardanapo do pescoço e ainda gritando – “uma mosca! uma mosca!” – entorna o prato com sopa, mosca e demais pertences por cima da mesa, borrifando o líquido quente e pegajoso sobre o avental bem cuidado de Joujou, que exclama “Mon Dieu!” e, ato contínuo, destempera a cabeça de Patou com a garrafa do puro “Rhône” safra 1982, uma das melhores dos últimos vinte anos, de acordo com os enólogos.
Está aberto o diálogo franco, franco em todos os sentidos.
Os passarinhos já estão se bicando por conta de um verme encontrado no meio do gramado, uma cumulus-nimbus tolda o brilho do sol, Jean-Pierre esbarra em Jacques e ambos trocam insultos, Charlotte ouve algumas palavras mal-intencionadas, pensa que é com ela e acerta a cabeça do sorveteiro com um portentoso golpe de guarda-chuva. Ao ver a cena, a criança morde a língua e chora, toda lambuzada de sorvete, e Geneviève planta um tapa na cara do jovem Laurent que enfim desencabulara e fizera propostas um tanto arrojadas para a sua condição de donzela. Laurent vira uma fera e agride a mocinha na maior baixaria.
Todo mundo se ofende e se desrespeita, pedras são atiradas a esmo, chega a polícia, bombas de gás, chega o reforço do exército, e por fim explode a bomba atômica.

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Tirando uma ou outra incorreção semântica, estas cenas foram extraídas do filme “Les sept péchés capitaux” – episódio “La colère” – mostrando uma ira à francesa, já bem familiarizada com as devastações que a guerra pode trazer.
Como nós aqui desde os idos da Guerra do Paraguai não somos brindados com o inimigo à porta de casa, nossa ira normalmente explode por questões de somenos importância ou pelo menos sem a mesma gravidade, e as nossas asas do rancor se estendem apenas até onde alcança a nossa rotina do dia-a-dia.
Ira em francês é mais “chic”.    



terça-feira, 13 de agosto de 2019







CARTA DE AGRADECIMENTO
(Augusto Pellegrini)

Primeiramente eu queria
Te agradecer pelo dia
Que ontem passamos juntos
Embora ao lado de amigos
Consegui ficar contigo
Pra lembrar nossos assuntos

Depois de um tempo afastados
Tivemos enfim o cuidado
De trocar velhas lembranças
Dos nossos anos dourados
Eu, cabelo despenteado
E tu cabelo de tranças

Tanta alegria e tristeza
Colocamos sobre a mesa
Como fosse um manjar fino
Relembramos tanta coisa
Até onde a mente ousa
Sem cometer desatino

Disfarçamos nossos erros
Ressaltando erros alheios
Como uma autodefesa
Faz-de-conta faz um conto
Celebramos nosso encontro
Com muito vinho e cerveja

Como se fosse um espelho
Nós dois, um pouco mais velhos
Nos sentamos face a face
Dois personagens na cena
Tivemos a tarde inteira
Pra caprichar no disfarce

Espero vê-la outra vez
Daqui a um ano, ou um mês
Pra arrematar a conversa
Esquece aquele pedido
Que nunca foi concedido
Hoje eu não tenho mais pressa

Minha cara confidente
Eu fiquei muito contente
De com você conversar
Qualquer coisa, manda um plá
Pra gente se reencontrar
Dia desses, de repente


Agosto, 2019







SINOPSE DO PROGRAMA SEXTA JAZZ DE 25/08/2017
RÁDIO UNIVERSIDADE FM - 106,9 Mhz
São Luís - MA

ELDAR DJANGIROV TRIO

Eldar Djangirov é um jovem pianista nascido na ex-União Soviética e naturalizado americano. Eldar toca um jazz contemporâneo com muito vigor, impondo uma forma bastante pessoal com uma forte influência do estilo "piano para concerto e orquestra". Assim, ele mostra traços da sua origem, apesar de ter-se aclimatado ainda criança ao jazz de Kansas City, para onde sua família emigrou em 1997 quando ele tinha 10 anos. Sua interpretação tem muita sutileza, e preenche todos os espaços ao estilo de Art Tatum, Oscar Peterson ou Herbie Hancock, e sua harmonia varia da expansividade de McCoy Tyner ao lirismo de Bill Evans, pianistas que ele estudou quando adolescente e de quem adquiriu muito da sua performance. Neste programa, Eldar interpreta composições próprias e também melodias de George Gershwin e Irving Berlin e a popular "Morning Bell" do grupo de rock alternativo inglês Radiohead.

Sexta Jazz, nesta sexta, oito da noite, produção e apresentação de Augusto Pellegrini
                                                                                                                                    










NOVOCABULÁRIO INGLÊS
(Copyright MacMillan)

(ver tradução após o texto)

PHISH

Look out for a PHISH in your e-mail. No, this is not a picture of a trout or a salmon, but a message asking you to click on a link to a web page and confirm personal information. This PHISH is bait – if you get hooked by it, you could be conned into giving personal details and therefore allow criminals access to your bank or credit card account.
 “1% of users had been the target of a sophisticated PHISHING scam where fraudsters send fake bank e-mails – for instance claiming a customer is overdrawn – to computer users. The e-mails use hyperlinks drawing victims to fake websites, where they reveal personal details, allowing others access to their accounts”. (The Guardian, 3rd May 2005)
  

TRADUÇÃO

PHISH (*)
Fique alerta para a existência de PHISH no seu e-mail. A gente não está se referindo a um “fish” (truta ou salmão), mas a uma mensagem que pede para você clicar num link de uma web page e confirmar alguns dados pessoais. Este PHISH é uma isca – se você for fisgado por ela você acabará fornecendo detalhes da sua vida pessoal e consequentemente permitir que criminosos tenham acesso à sua conta do banco ou do cartão de crédito.

 “1% dos usuários têm sido alvo de uma sofisticada operação de varredura por PHISHING, onde fraudadores enviam falsos e-mails de bancos para os clientes – por exemplo – informando que a sua conta está negativa. Os e-mails utilizam hiperlinks atraindo as suas vítimas para um falso website onde elas fornecem dados pessoais que permitem a terceiros acessar as suas contas. (Publicado em The Guardian em 3 de maio de 2005)

(*) PHISH é o termo que designa as tentativas de obtenção de informação pessoal através da obtenção da identidade da vítima por parte de criminosos que agem na área de conteúdos de informática.