EURICO E A SIBÉRIA
Há
cerca de quinze dias o Vasco da Gama – e por extensão todo o futebol brasileiro
– foi brindado por uma declaração emitida pela boca do seu próprio presidente
Eurico Ângelo Marcio de Oliveira Miranda: se o clube cair para a Série B do
Campeonato Brasileiro ele “vai procurar o ponto mais distante da Sibéria e se
mudar para lá”.
E
proibiu a palavra “rebaixamento” em São Januário.
Esta
declaração pode ser alvissareira ou não, dependendo do ponto de vista.
Há
quem defenda Eurico e os seus métodos pouco ortodoxos de gerenciar as coisas do
Vasco, justificando seus arroubos por conta da paixão sem limites que tem pelo
clube. Para estas pessoas, se cada clube tivesse o seu Eurico as coisas
estariam melhor no futebol brasileiro.
Há
porém quem o acuse de ser um caudilho prepotente e truculento que se beneficia
do clube e trata a imprensa, os opositores e o mundo com um tacape na mão, não
proporcionando qualquer benefício ao esporte, quer como lazer quer como
negócio.
Na
prática, a situação de momento não lhe é favorável.
Com
vinte rodadas já disputadas e faltando dezoito jogos por clube para o final do
certame, parece que o presidente – que ressurgiu das cinzas trazendo com ele de
volta “o respeito ao futebol carioca” – pode começar a procurar uma agência de
viagens e algum corretor de imóveis em Irkutsk.
O
Vasco está em último lugar na tabela, a seis pontos do penúltimo colocado e a
nove pontos de sair da zona de rebaixamento, uma posição extremamente delicada
para o momento atual.
Em
edições anteriores, clubes que estavam nesta zona de pontuação não conseguiram
se salvar da vassourada final, mas ainda que respirando por aparelho os
jogadores do Eurico vão lutar para reverter a situação a fim de manter o
presidente residindo na Cidade Maravilhosa, banhada pelo sol e pelo mar e
adornada por um céu azul de bossa nova. Apesar de às vezes se assemelhar a um
urso, com certeza o presidente não iria se dar bem com o clima siberiano.
Os
matemáticos do esporte estimam que para sair desta posição incômoda, com apenas
13 pontos conseguidos em 60 disputados, o clube tem que obrigatoriamente vencer
dez dos dezoito jogos restantes e torcer para que os seus companheiros da parte
de baixo da tabela não façam a parte deles.
Ainda
de acordo com os matemáticos, a chance do Clube da Colina despencar ladeira
abaixo e se esborrachar na segunda divisão é no momento de 95%.
Consultei
os matemáticos, os bruxos e o oráculo, e embora não tenha conseguido obter
qualquer conclusão definitiva, parece que nas treze vezes que o campeonato foi
disputado pelo sistema de pontos corridos, desde 2003, nunca um clube conseguiu
se salvar tendo chegado a tal situação.
A
mudança de técnico e a heroica eliminação do Flamengo na Copa do Brasil podem
ser uma indicação que o time vai encontrar o seu rumo, mas a pálida
apresentação contra o Goiás na rodada passada continua deixando a torcida com
as barbas de molho. A nau do Almirante está fazendo água e soçobrando
perigosamente desde que aportou num porto seguro com a conquista do Campeonato
Carioca, e é bom que se diga, com o presidente Eurico no comando.
Não
há como negar o sucesso e os bons resultados da agremiação quando foi dirigida
por Eurico Miranda. Com ele, desde 1986, o Vasco soma 48 títulos nos 22 anos
em que esteve sob a sua mão forte.
Como
presidente eleito do clube foram na verdade apenas 6 – Taça Rio em 2001, 2003 e
2004, Taça Guanabara em 2003 e Campeonato Carioca em 2003 e 2015 – mas foram
42 conquistas como Vice Presidente e Diretor de
Futebol, cargos na verdade de fachada, pois era ele quem de fato comandava e
decidia, apesar da existência de um presidente de direito.
Assim,
sob a direção de Eurico, o Vasco conquistou outras 7 Taças Guanabara, outros 7
Campeonatos Cariocas e outras 5 Copas Rio, além de 3 títulos pelo Campeonato
Brasileiro e um pela Libertadores, o que, convenhamos, não é pouco.
Anjo
ou demônio, Eurico já está em contagem regressiva para ou proporcionar uma
redenção histórica para o clube cruzmaltino ou pagar um mico do tamanho as Sibéria
por ter sido tão boquirroto.
(Artigo
publicado no caderno SuperEsportes do jornal O Imparcial de 28/08/2015)