quinta-feira, 5 de janeiro de 2017






MUDANÇAS

Vi, pensei, mudei de opinião duas vezes
(e depois mais duas para me convencer)

Ler, eu precisei três vezes
(e mais três vezes além das três)

Tive que dez vezes me embebedar de palavras e imagens
(e outras dez vezes mais além das dez)

Tive que rever cem damas possuídas
(e rever cem damas mais além das cem)

Tive que voltar mil anos, e outros mil ainda
para entender a presença da mulher-poema
na história das alcovas e fora delas.




23/04/2016

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017







Música para ser cantada em ritmo de marcha-frevo nas grandes cidades por ocasião das compras natalinas. Feita em 1968.



À MODA DA CASA

Silenciosamente eu saio à rua
A manhã flutua
E o nevoeiro da noite passada passou
Silenciosamente cuido de mim
Num botequim
Cerveja preta gelada
E um misto quente na chapa
Indiferente
À moda e à marca da casa

Silenciosamente no barulho
Milhões de embrulhos
Pacotes muitos
Laços cor-de-rosa nas mãos
Silenciosamente sons musicais
Sons guturais
São discos tocando alto
E gente ganhando a nota
Indiferentes à moda da casa

O grande sucesso do momento
É de ciúme, de queixume
Ou puro ardume de amor
Com azedume eu saio à rua com coragem
Não é fácil enfrentar monstro-motor
À moda da casa
Eu vejo o caso com descaso
Por acaso eu sou alguém?
Não sei...
Então eu sigo à moda da casa
Esqueço o caso num silêncio
Até que eu faço muito bem

Perigosamente o povo  vive
Mais uma crise, mais uma virgem
Pétala de rosa no chão
Naturalmente sempre os dramas existem
E as damas insistem
Em convidar na calçada
Ao menos lá na avenida
Indiferentes
Às coisas da vida



terça-feira, 3 de janeiro de 2017







TARDE VERMELHA

Tarde vermelha
O poeta pintou de saudade
De saudade de ver lindos olhos
E seus olhos cansados choraram
Mar vendo a noite
Que provoca tristeza
E tristeza é mais triste no mar
Qualquer coisa aconteceu com o dia
Que teve, infeliz, que morrer

Praia sem lua
Que luar ainda não veio à rua
Fugiu ao ver
A estrela que deita na areia
Vermelha
A cor que o sol da tarde fez aparecer...









Esta música foi composta na década de 1960 e participou de um Festival estudantil de música na Vila Prudente - São Paulo-SP. Para a apresentação foi formado um grupo vocal comigo, mais Roberto Pellegrini (meu irmão), Maria Helena Bonfim e Aurélio Escudero e chegamos brilhantemente à final. Não ganhamos, mas vencemos.




CANTO DE GENTE TRISTE

Deixe que eu cante a essa gente
Tristeza é pra se cantar
Quem sabe toda essa gente
Terá com que me alegrar
Violão tem sons na calçada
E a serenata em sereno
Pequeno mundo de sonhos
Em tua janela um segredo

Vem sorrindo com teu riso
Ensolarar noite escura
Abre a janela, em teu quarto
Vai clarear branca a lua
Violão tem sons na calçada
E a gente passa e nem sente
Deixe que eu cante a essa gente
No brilho sem sol da lua





NAMORADA

Parques, jardins
E as praças cheias de gente
Bate o sol do mesmo jeito
Mas o tempo passou sem sentir

Meses, semanas
Tanto encontro em tantas horas
Por caminhos que decoram
De leveza e também noites claras

Quase brincando
Como voa a coisa boa
Que é este tempo de morena
De pequena e de passeios
Mesmo embora envelhecendo
Sem vontade

Sem saudade desmaiada
Sem sofrer nas madrugadas
Pois o encanto se supera
Em cada dia e em cada tarde
Vem chegando a namorada
Nas vitrines, na calçada
Vou passando pela esquina
Vou dizendo, vou de vida
Vou de encontro, vou de brisa
Vou vencendo, indo

Vendo, chegando
Sem ter nunca que ir embora
Pelos cantos que devoram
De tristeza o restante do mundo


Vendo, chegando
E ficando sem partir
Mesmo o tempo já passado
Em cores lindas pintou


segunda-feira, 2 de janeiro de 2017






DESCANSO

Descanso
É gostoso de ver
As nuvens brincando
E figuras formando
Bem alto, no alto do céu
Não penso
Quero fugir da vida
Como o dia perdido
No qual eu fugi de ti


Morreu o sol
Escurece depressa
Igual ao momento
Em que escureceu
O dia sem luz que eu vivi
Desperto
Meu descanso não era
Era sonho, quimera
Eu não fujo
Eu não posso fugir