O ESTUDO COMO FORMA DE
CRESCIMENTO
(Augusto Pellegrini)
Este
artigo foi escrito para os adolescentes que acham que as coisas caem do céu – e
as nossas escolas estão repletas deles – e foi publicado num jornalzinho interno
de uma escola de inglês. A finalidade foi despertar nos jovens leitores – embora
provavelmente leitores apenas ocasionais – a extrema necessidade de se preparar
para o futuro, porque muito em breve eles terão que enfrentar uma batalha entre
os mais fortes. Sem a menor intenção de ter escrito outro abominável texto de
autoajuda, tenho plena consciência de que este artigo é também dirigido aos
adultos irresponsáveis que pensam em enriquecer apenas materialmente –
certamente apostando em loterias – se esquecendo que sem um suporte cultural os
novos ricos não passam de ricos idiotas.
-0-
Certa
vez, há muitos anos, mesmo sem jogar lá essas coisas eu resolvi fazer do xadrez
o meu passatempo predileto.
Para
tanto, combinei com um amigo para que praticássemos um pouco todo final de dia.
Ele era o que se pode chamar de “um bom jogador”.
Então,
diariamente, depois das cinco da tarde, as partidas se desenrolavam
naturalmente e eu, é claro, perdia todas!
A
coisa tomou tal dimensão e as derrotas se tornaram tão rotineiras e
contundentes que eu decidi que era chegada a hora de mudar o rumo da minha
história sobre o tabuleiro.
Como
Bóris – este era o nome do amigo – teve que viajar, tivemos uma pausa de uns
vinte dias, tempo necessário para eu comprar dois ou três livros e começar a
estudar, dedicando parte do meu estudo para as aberturas, parte para o
desenvolvimento e parte para os finais de partida.
Em
pouco tempo, aprendi muito com Ruy Lopez, Alekhine, Capablanca e outros
mestres, até que chegou a hora de testar meu novo perfil contra o meu amigo.
Para
minha surpresa – e a dele – comecei sistematicamente a ganhar as partidas,
algumas até sem muita dificuldade. Após algumas derrotas, Bóris questionou o
meu súbito crescimento xadrezista.
Expliquei
o que havia feito e também lhe mostrei os livros. Após as explicações de praxe,
ele coçou a cabeça e declarou solenemente que iria também começar a estudar.
Este
episódio, apesar de nada especial, me deixou duas lições.
Primeira,
por mais que você acha que sabe, sempre existe espaço para saber um pouco mais,
ou seja, somos todos ignorantes e as portas do conhecimento são inesgotáveis. “A
única coisa que eu sei é que eu nada sei”, disse Aristóteles.
Segunda,
quanto mais você aprimora o seu conhecimento, maiores são as possibilidades de
você se tornar um vencedor. Isto acontece com o xadrez, isso acontece com qualquer
matéria da vida, inclusive no que diz respeito ao aprendizado de uma língua
estrangeira.
Toda
forma de estudo é primordialmente uma questão de vontade.
Diferentemente
de outro tipo de estudo acadêmico – química, física, biologia – que requer
muita leitura, experimentos, alguma memorização e uma boa dose de paciência,
estudar idiomas é mais uma questão prazerosa de se manter ligado às coisas que
nos cercam.
Você
aprende inglês diariamente assistindo TV, lendo cartazes, apreciando vitrines e
fachadas comerciais, ouvindo música, navegando na internet ou tentando entender
o manual de instruções daquele novo implemento eletrônico que você acabou de
adquirir.
E
tem mais: ao se integrar numa sala de aula você se socializa praticando o
idioma com o professor e com os seus colegas, descobre curiosidades e
particularidades de uma cultura diferente e se diverte ao descortinar coisas
novas. Em outras palavras, você se diferencia do comum e se torna uma pessoa
com o futuro mais resolvido, ao mesmo tempo se divertindo ao descortinar coisas
novas. Você realmente começa a fazer parte do mundo globalizado em que estamos
vivendo e fica pronto para aceitar desafios aqui ou em qualquer parte do mundo.
O
negócio é não se conformar com os nossos reveses só porque aquele outro alguém
está tendo mais sucesso. Temos é que estudar, qualquer que seja a forma e o
método, para garantir um lugar na sociedade competitiva em que vivemos.
Foi
desta forma que eu equilibrei as forças com o meu amigo Bóris.
2003