sexta-feira, 21 de agosto de 2015





OS FABRICANTES DE RESULTADOS 

Há muito tempo eu não abordava em meu artigo um tema tão eterno quanto prosaico – “Incompetência ou má fé”: “A influência de uma má arbitragem no resultado dos jogos de futebol e na consequente conquista de títulos”, caput e subtítulo apropriados para uma defesa de tese de doutorado sobre o assunto “Esporte – Decência, Honestidade e Moralidade”.
A ocasião, no entanto, se tornou propícia neste momento, tal o montante de erros observados nas três últimas rodadas do Campeonato Brasileiro em vigência, beneficiando flagrantemente uns e prejudicando outros, deliberadamente ou não, mas provocando uma sensível mudança nas primeiras posições, a ponto de distanciar clubes que estavam lutando pari passu para uma diferença de quatro pontos ou mais.
A reclamação é geral, mas um ou outro time se cala, aplaude os pontos conseguidos de forma não muito honesta e os seus torcedores se divertem com a “choradeira” dos demais.
Infelizmente, este é o Brasil que reclama dos políticos e dos empresários corruptos.
Vou omitir o nome dos santos e dos milagres, na certeza de que aqueles que têm pecados a confessar sabem que é a eles que me refiro, e de que sentirão algum dia o peso da consciência. Quanto aos que foram injustiçados pelo mau desempenho da arbitragem – inclua-se aí o árbitro principal e os árbitros assistentes (tempos atrás chamados de juiz e bandeirinhas) – meus respeitos pela indignação que sentem por terem sido lesados.
Pode até ser compreensível que um cidadão que corre quase quinze quilômetros por todo o campo enquanto a bola vai e vem com velocidade e enquanto jogadores cheios de malandragem fazem de tudo para ludibriá-lo cometa um equívoco aqui e ali. Mas é intolerante quando este equívoco se repete com uma constância irritante, muitas vezes beneficiando o mesmo lado, e parte de um cidadão que deveria ter sido treinado apenas para ser o mediador de uma partida de futebol, sem a necessidade de ser arrogante, injusto e prepotente.
Os árbitros tomam decisões discutíveis mesmo estando a trinta metros do lance, muitas vezes contestando a opinião do assistente ou do quarto árbitro (havia me esquecido dele) que têm a visão mais privilegiada do que a dele. Ou fecham os olhos para irregularidades grosseiras usando sem qualquer critério pesos e medidas diferentes.
Truculento, o homem de preto (que agora enverga o vermelho, o azul ou o amarelo, mudando a cor da camisa, mas não mudando a atitude) condena ao cartão vermelho tanto as jogadas mais violentas ou as reclamações mal educadas quanto uma simples disputa de bola ou um pedido de explicação, dependendo do jogador e do time em questão.
Vozes benevolentes surgem a seu favor, com a velha ladainha de que “errar é humano”.
Sem dúvida, errar é humano, mas há erros toleráveis e erros intoleráveis.
Atendo-nos ao futebol, o goleiro pode tomar um frango, o cobrador pode perder um pênalti, o articulador pode errar um passe a dois metros do companheiro. Mas se o goleiro tomar dez frangos, o cobrador perder dez pênaltis e o articulador errar dez passes em uma pequena sequência de jogos ele é sacado do time e vai para o banco de reservas.
O árbitro, porém, pode errar à vontade, e quanto mais erra mais parece ser respeitado pela Comissão de Arbitragem. Seu prêmio maior é ser rotulado “árbitro Fifa”, como se a sigla Fifa pudesse representar qualquer coisa de respeitável nos dias corruptos que vivemos.
Uma arbitragem suspeita pode inverter resultados, criar campeões, punir inocentes, invalidar o conceito de justiça no esporte e provocar enorme prejuízo financeiro para clubes que investem pesado e podem se ver alijados do prêmio maior de uma conquista, tanto esportiva quanto financeiramente falando.
Há que se punir os árbitros adequadamente com afastamento temporário, rebaixamento para apitar jogos de categorias inferiores e desconto pecuniário, para que Suas Senhorias prestem mais atenção no que fazem, tenham a humildade de reconhecer seus erros e exerçam o seu trabalho com mais responsabilidade.

Nota: Este artigo foi escrito em homenagem aos árbitros Dewson Fernando Freitas (PA), Luiz Flávio de Oliveira (SP) e Leandro Pedro Vuaden (RS) e seus respectivos auxiliares, que com suas atuações de segunda categoria conseguiram acender toda esta polêmica.

   
 

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 21/08/2015)