segunda-feira, 4 de novembro de 2013


 
 
AS BIOGRAFIAS E A CENSURA FELIPENSE
 

Vou discorrer sobre dois assuntos diferentes, embora de certa forma correlatos, pois ambos tratam de uma distorção do comportamento humano. Ambos estão na pauta do dia e fazem parte das discussões de programas televisivos, das redes sociais e das mesas de bar.
Especialistas, jornalistas e cidadãos de outras diversas categorias concordam e/ou discordam, e todos têm seus argumentos para dar suporte às suas opiniões. Para mim, porém, os dois assuntos mostram que estamos vivendo uma época de profunda indigência moral.
Primeiro: antigos ícones se levantam contra o direito de historiadores e biógrafos cumprirem com o seu dever para com a humanidade, fazendo o registro histórico de fatos referentes às vidas das pessoas que fazem a História.
Esta indigência, que se baseia na defesa da privacidade, encontrou um paralelo no futebol – o segundo assunto – quando um jogador praticamente desconhecido no Brasil decidiu jogar por outro país, e teve o seu direito de escolha duramente criticado por um sujeito que procedeu exatamente da mesma forma há exatos dez anos.
Vou explicar melhor.
O primeiro parágrafo cita Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil, ativistas culturais que levantaram a bandeira contra a censura e pela liberdade de expressão durante a época da ditadura militar. Não menciono Roberto Carlos neste pacote porque este sempre foi um alienado oportunista.
Estes senhores acompanharam o parecer do Rei da Juventude e buscam proibir na justiça qualquer biografia que não tenha a autorização do biografado.
De acordo com o biógrafo e cronista Ruy Castro, biografias autorizadas, se consideradas em conjunto, mascaram a verdade, adulteram o espírito real de uma época e transformam história em mentira literária.
O que conhecemos da história do mundo, do ser humano e das suas idiossincrasias sociais muito se deve ao que conhecemos dos personagens que fizeram a história – artistas, políticos, filósofos, conquistadores - cujas biografias não autorizadas nos dão a dimensão exata da sua participação na evolução do mundo.
Se Alexandre, Napoleão, Hitler, Einstein ou Charlie Chaplin tivessem escrito suas próprias histórias nós conheceríamos apenas uma parte das suas vidas.
O segundo parágrafo deste artigo fala sobre Luiz Felipe Scolari, técnico da nossa seleção. Este senhor é o mesmo que pediu dispensa da seleção brasileira após a conquista da Copa de 2002 para treinar Portugal em 2003. Lembre-se que Portugal poderia vir a ser adversário do Brasil na Copa de 2006, o que não aconteceu por mero detalhe.
Além disso, Felipão convenceu o brasileiro Deco (e depois Pepe, em 2007) a se nacionalizarem portugueses, e jamais passou pela sua cabeça que qualquer um deles pudesse ser taxado de antipatriota ou inimigo do Brasil.
É portanto bastante estranho e lamentável que Felipão, com este passado recente,  faça a montagem dessa encenação teatral – talvez para fazer média com os patrões da CBF – denunciando Diego Costa por ter se nacionalizado espanhol e “virado as costas para o seu país”.
Felipão convocou Diego para a Copa das Confederações, mas não lhe deu a menor chance e deixou bem claro que o jogador estava fora dos seus futuros planos. Esta pretensa convocação para os amistosos contra Honduras e Chile foi apenas um factoide necessário para desestabilizar o atleta, exaltar a CBF e criar um clima antagônico contra a Espanha.
Não se sabe se a seleção brasileira consegue inocular nos seus treinadores o vírus da arrogância e da falta de respeito ou se eles são escolhidos para o cargo exatamente por possuírem este perfil.

 

 

Um comentário:

Joselito disse...

A censura somente nos faz mal e se hoje nada sabemos sobre Tiradentes isso é graças à censura que se impôs a ele. Quanto ao futebol não foi só o Felipão que cometeu barbaridade nesse assunto, um tal diretor da CBF também falou o que não devia. Mas só o Felipão praticou o faça o que eu digo mas não faça o que eu faço!