segunda-feira, 17 de março de 2014


 
 
 
 
O DOSSIÊ VÔLEI 

Existem mais mutretas entre o céu e a terra do que supõe a nossa ingenuidade. A praga do enriquecimento ilícito toma conta de todos os segmentos da sociedade, como um vírus que se espalha descontroladamente. E, de escândalo em escândalo, assim caminha a humanidade.
O jornalista Lucio de Castro, da ESPN Brasil, que além de comentar as minúcias de uma partida de futebol também faz o tipo de jornalismo investigativo, foi fundo nos bastidores do voleibol brasileiro, esporte considerado o segundo favorito do torcedor, depois do futebol.
O que ele descobriu faz eco ao que, com certeza, acontece com outros esportes e com muitas organizações criadas para promover algum tipo de atividade, esportiva ou não.
Tempos atrás já tivemos uma sequência de denúncias sobre o judô, o taekwondo, o atletismo, o basquetebol e próprio Comitê Olímpico, sem contar o futebol, de múltiplas falcatruas que remontam a época de João Havelange e Ricardo Teixeira, passando pela atual salada de desmandos com o dinheiro público no advento da Copa do Mundo.
No voleibol não poderia ser diferente.
Nas últimas semanas o repórter revelou que em 2013 o superintendente geral da Confederação Brasileira de Voleibol, Marcos Pina, embolsou indevidamente a quantia de 10 milhões de reais em nome da firma SMP – Logística e Serviços Ltda., fundada em sociedade com a mulher, com capital registrado de 10 mil reais.
O pagamento foi feito a título de uma suposta comissão pela SMP pela intermediação do contrato de patrocínio com o Banco do Brasil, coisa que o banco não faz por causa do seu estatuto. Pressionado pelo presidente, Marcos Pina pediu demissão do cargo.
Nesta semana, mais um escândalo: Fábio André Dias Azevedo, dirigente da CBV e braço direito de Ary Graça Filho, presidente da FIVB-Federação Internacional de Voleibol, também faturou 10 milhões em nome da empresa S4G Gestão de Negócios, também a título de comissão.
Ambos os contratos destacavam a “notória especialização” das empresas que intermediaram o negócio, muito embora elas tivessem sido constituídas às vésperas da assinatura do contrato e nunca tivessem participado de qualquer outro negócio.
A história é antiga. Em 1997 a colunista de vôlei Cida Santos, da Folha de São Paulo, já anunciava irregularidades no contrato entre a CBV e o Banco do Brasil pelo mau uso da verba de patrocínio, tendo o deputado federal Augusto Carvalho (PPS-DF) solicitado ao Tribunal de Contas que investigasse o caso.
Na época, o Banco do Brasil passou a exigir da CBV um relatório minucioso sobre o uso da verba de patrocínio, mas a coisa acabou dando em nada.
Há uma intensa indignação por parte de atletas e profissionais do vôlei, que pedem uma investigação rigorosa e uma punição exemplar dos envolvidos.
À parte o clamor popular, de que este tipo de verba poderia ter sido utilizada para fins mais prementes como saúde, saneamento e educação, entendo que o dinheiro deveria ter sido direcionado para o esporte, pois esta era a sua finalidade.
Vinte milhões de reais não é muito para a construção de casas, escolas, hospitais e estradas nem para fortalecer a segurança do cidadão, mas se efetivamente destinados ao esporte teriam proporcionado assistência e treinamento a jovens atletas, melhor organização de torneios, condições mais dignas de trabalho para técnicos, preparadores físicos e auxiliares que vivem de esmola com baixos salários pagos por outros patrocinadores e – por que não? – uma preparação de qualidade para enfrentarmos os Jogos Olímpicos daqui a dois anos.
E o dinheiro? Vai ser devolvido?

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