segunda-feira, 18 de agosto de 2014






O FUTEBOL BRASILEIRO EM BAIXA – PARTE III

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 18/08/2014)

Nos dois últimos artigos, analisamos alguns dos fatores que estão levando o futebol brasileiro a um baixo nível de consumo interno e a um inacreditável descrédito internacional.
No geral, faltou um componente a ser analisado e que diz respeito diretamente aos organizadores do futebol no Brasil, que vão desde a CBF, as Federações Estaduais, os clubes e até a emissora que banca a maior parte do dinheiro dos clubes.
Este componente esbarra em duas perguntas simples, mas apropriadas.
Por que os jogos dos certames da segunda e terceira divisões da Inglaterra e da Alemanha levam mais torcedores aos estádios do que a grande maioria das partidas da nossa Série A? Será que o povo brasileiro ainda gosta de futebol?
A primeira pergunta é mais fácil de ser respondida: o público inglês e alemão é maior porque lá os torneios são mais bem organizados, a maior parte dos ingressos é vendida com antecedência por um preço pré-fixado e quem quiser ir ao estádio comprando seu ingresso na hora pagará um preço justo para o espetáculo. A violência foi também praticamente banida e as distâncias entre as cidades são mais curtas.
Além disso, as condições que os estádios oferecem no que diz respeito à segurança do torcedor, à sua proximidade com terminais de transporte urbano e à ausência de oportunistas que incomodam se oferecendo para cuidar do seu veículo e de cambistas querendo lhe empurrar alguns ingressos – muitas vezes falsificados! – são uma motivação para quem quer passar uma tarde de lazer assistindo ao vivo a uma partida de futebol.
A segunda pergunta ainda precisa ser respondida.
Por mais que o torcedor brasileiro aprecie um bom jogo de futebol, ele encontra alguns obstáculos que pouco a pouco fazem com que ele se afaste dos estádios.
O primeiro obstáculo é exatamente a carência de um bom espetáculo pela ausência atual de um futebol vistoso e produtivo. Salvo honrosas exceções, os jogos que temos visto ultimamente são terrivelmente ruins.
Os jogadores, de um modo geral, se especializaram em dar chutões, errar passes e fazer jogadas bisonhas, e os nossos técnicos abusam de um esquema de defensivo, feio e travado, tentando a sorte nos contra-ataques ou num erro do adversário. Com isso, há um grande nivelamento entre as equipes que deveriam ser grandes e as equipes medíocres.
Para piorar, o horário dos jogos espanta o torcedor, pois partidas são disputadas tarde da noite em estádios mal localizados, inibindo a presença de público pelo problema de transporte e principalmente pela violência urbana e pela insegurança angustiosa a que o torcedor está exposto.
Na verdade, o torcedor está sujeito a dois tipos de violência, a oficializada, que grassa pelas cidades na forma de assaltos, sequestros-relâmpago e latrocínios, e a oportunista – torcedores que espancam torcedores adversários com paus, pedras, rojões, pedaços de ferro, soco inglês, e todo o arsenal que você possa imaginar, normalmente patrocinados pelas torcidas organizadas que por sua vez são patrocinadas polos próprios clubes.  
Finalmente, por causa da inexistência de uma política de preços, os clubes majoram os ingressos a níveis insuportáveis. Ir ao campo de futebol nos dias de hoje se tornou um divertimento muito caro, pois incluindo o ingresso e as despesas periféricas, como estacionamento, gorjetas, e uma ou duas cervejas, o torcedor não gastará menos de 150 reais, o que limita a sua presença nos estádios a no máximo uma vez por mês. Se ele levar o filho ou mais alguém da família a despesa multiplica.
Pode ser que o brasileiro continue gostando de futebol, mas os donos do espetáculo estão tornando o seu prazer cada vez mais impossível.
Sorte das emissoras de TV por assinatura e seus pacotes “pay-per-view” que oferecem transmissões repletas de câmeras e recursos, fazendo com que o futebol dos estádios passe a ser um lazer do passado.  

 

 

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