sexta-feira, 22 de abril de 2016








AS SÉRIES INVICTAS


Uma das coisas que alimentam a rivalidade do futebol é a estatística.
O torcedor busca na história detalhes e feitos que possam diferenciar o seu clube dos demais, mesmo quando o fato gerador da polêmica tenha acontecido há muito tempo.
Aí vale tudo: quantidade de títulos regionais, nacionais e internacionais, maiores goleadas, times inesquecíveis, jejum de vitórias, e por aí vai.
Uma das marcas mais importantes que costumam gerar discussões e zoações é a tal da série invicta. Basta um time esticar uma invencibilidade que comece a incomodar os rivais para que todo mundo fique secando e tentando tirar uma casquinha.
Uma série invicta faz o torcedor relembrar dias de glória mesmo se o seu time no momento estiver passando por, digamos, dificuldades sazonais, e faz o torcedor recitar escalações inteiras de um passado de orgulho.
De acordo com as pesquisas realizadas, o recorde brasileiro das séries invictas de clubes pertence ao Botafogo e ao Flamengo, empatados com uma sequência de 52 jogos; o alvinegro permaneceu invicto entre 1977 e 1978, e o rubro-negro entre 1978 e 1979.
O Botafogo da série invicta contava com um esquadrão do qual faziam parte o goleiro Zé Carlos e os jogadores Renê, Osmar, Rodrigues Neto, Mendonça, Dé, Manfrini e Paulo Cesar Caju.
O Flamengo tinha na sua formação o goleiro Cantarele e os jogadores Leandro, Junior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Claudio Adão e Julio Cesar. 
Na sequência dos jogos invictos aparece a surpreendente Desportiva-ES (51 jogos entre 1967 e 1968). Seu jogador mais conhecido foi Humberto Monteiro, campeão brasileiro pelo Atlético Mineiro em 1971.
Depois aparecem Bahia, de Léo Oliveira, Sena e Dadá Maravilha (48 jogos em 1982), Grêmio, de Luiz Carvalho e Foguinho (48 jogos entre 1931 e 1933), Santa Cruz, de Carlos Alberto Barbosa, Paranhos, Givanildo e Lula (48 jogos entre 1978 e 1979) e São Paulo, de Valdir Peres, Nelsinho Batista, Gilberto, Chicão, Muricy, Serginho e Pedro Rocha (46 jogos em 1975).
Como uma invencibilidade é marcada por vitórias e empates, uma sequência apenas de vitórias (caso do Palmeiras de 1996, 21 jogos de um time que tinha Velloso, Cafu, Kleber, Muller, Luizão, Djalminha e Rivaldo) é uma marca bastante respeitável.
O jornal A Gazeta Esportiva instituiu em 1939 a Taça dos Invictos (que em 1970 seria denominada Taça Tomás Mazzoni) apenas para os clubes paulistas. Devido à luta pelos direitos da marca do troféu entre a Federação Paulista e o jornal, a taça foi tendo sua importância diminuída e depois de oito edições foi parar na justiça.
Como a Gazeta Esportiva é um jornal local e a Federação não demonstra muito interesse em glamurizar o troféu, não existe muita celeuma a seu respeito. Pode-se dizer, no entanto, que o Palmeiras (então Palestra Itália) foi o seu primeiro detentor, com 22 jogos entre 1933 e 1934, que o São Paulo foi o seu maior recordista com 39 jogos entre 1974 e 1975 e que o Corinthians é o seu atual possuidor, com a marca de 28 jogos entre 2009 e 2010.
Entre as seleções, o Brasil sustenta, ao lado da Espanha, a maior série invicta incluindo amistosos e jogos oficiais, com 35 partidas sem perder.
A marca do Brasil durou dois anos, de dezembro de 1993 a janeiro de 1996, e a dos espanhóis dois anos e quatro meses, de fevereiro de 2007 a junho de 2009. A seguir vêm a Argentina com 31 jogos (1991 a 1993), a Hungria com 30 jogos (1950 a 1954) e a França, também com 30 (1994 a 1996).
No futebol internacional de clubes, o F.C. Steaua Bucuresti, da Romênia, possui um recorde difícil de ser batido, correspondendo a 104 jogos entre 1986 e 1989.
Atualmente, fazemos menção à incrível sequência de 39 jogos invictos do quase imbatível Barcelona, que teve sua série quebrada exatamente pelo maior rival, Real Madrid no início deste mês. O clube catalão mantinha a sua marca desde outubro de 2015 e depois da derrota virou um saco de pancadas, até que se recuperou nesta semana e sapecou 8x0 no Deportivo la Coruña, mostrando que não há mal que sempre dure e nem bem que nunca acabe.  

(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 22/04/2016)

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