sexta-feira, 8 de abril de 2016









O BRASIL DE TODOS OS TEMPOS


O jornal italiano Corriere dello Sport publicou numa das suas matérias frias da semana uma reportagem a respeito da “melhor seleção brasileira de todos os tempos”.
Apesar da aparente inutilidade da pesquisa, é sempre interessante saber como os outros analisam o nosso futebol, ou pelo menos qual é a opinião deles a respeito dos nossos velhos e novos jogadores.
Não sei de maiores detalhes, como quem votou e quantos votaram, mas é certo que os votantes, por não serem torcedores brasileiros e por não terem residência no Brasil devem ter usado da maior isenção possível, quer opinando pelo conhecimento real do jogador, quer pelo conhecimento adquirido através da história.
A seleção escolhida foi Gilmar; Djalma Santos, Tiago Silva e Roberto Carlos; Falcão e Didi; Zico e Pelé; Garrincha, Vavá e Ronaldo, isto é, um inusitado 3-2-2-3, onde muita gente ataca e pouca gente marca.
Mas escolha é escolha e não há muito que discutir. Podemos, no entanto, analisar os critérios usados ou alguma incoerência dos votantes.
Em primeiro lugar, notamos uma preferência por jogadores que até os mais velhos jornalistas italianos somente viram jogar pela televisão ou pelo cinema, caso de Gilmar, Djalma Santos, Didi e Vavá, craques de longínquos cinquenta ou sessenta anos atrás.
Depois, agora dentro de um raciocínio mais lógico, foram escolhidos jogadores que fizeram sucesso na própria Itália, como Falcão (Roma, 1980-1985), Zico (Udinese, 1983-1985), Ronaldo (Internazionale, 1997-2002 e Milan, 2007-2008), Roberto Carlos (Internazionale, 1995-1996), e mais recentemente Tiago Silva (Milan, 2009-2012).
Há também os que atuaram em outros países da Europa, portanto mais próximos da rotina italiana, ou seja, Didi (Real Madrid-Espanha, 1959-1960) ou mesmo Vavá (Atlético Madrid-Espanha, 1958-1961), mas estes aparentemente ficam mesmo por conta do desempenho na Copa de 1958, disputada na Suécia.
Possivelmente jurados brasileiros nas mesmas condições de experiência e idade dos italianos colocariam Mauro, Ricardo Rocha ou Aldair no lugar de Tiago Silva, até por conta do seu mau desempenho na recente Copa de 2014 (lembrando que Aldair foi destaque na Roma de 1990 até 2003 e ainda jogou no Genoa entre 2003 e 2004).
Chama a atenção também a escolha de Vavá num ataque que poderia contar com Leônidas, Romário ou até mesmo Neymar (se “convocaram” Tiago Silva, que está em atividade e até curtindo um certo ostracismo, porque não o atacante do Barcelona, candidato certo a Melhor do Ano em 2016?).
Nas laterais os italianos preferiram a volúpia de Djalma Santos e Roberto Carlos à arte refinada de Carlos Alberto e Nilton Santos, mas até aí tudo bem. 
Para os mais saudosistas, talvez Zizinho tomasse o lugar de Didi na armação das jogadas, mas seria demais esperar que os jornalistas italianos recuassem a sua pesquisa e o seu conhecimento até 1950!
Finalizando pelo goleiro, Gilmar me parece uma excelente escolha, sempre respeitando a trajetória de Taffarel. 
O que sobra de positivo na lista italiana e na minha contestação é que ao longo do tempo o Brasil sempre mostrou um futebol eminentemente ofensivo, a ponto de vermos com naturalidade sete jogadores (oito, se incluirmos Roberto Carlos) com a vocação de jogar no ataque em busca do gol.
Nada mais desalentador quando analisamos estes atacantes – e uma eventual relação de “reservas” artilheiros, como Ademir de Menezes, Jair Rosa Pinto, Tostão, Careca, Ronaldinho Gaúcho e mais alguém que o leitor queira incluir – e comparamos com a safra atual, insegura e atrapalhada.
O mesmo acontece com o meio de campo criativo e ofensivo. Os italianos se lembraram de Falcão e Didi, eu me lembrei de Zizinho, mas vale a pena colocar entre os “reservas” os craques Bauer, Zito, Clodoaldo, Gerson e Rivellino, antes de o futebol se brutuculizar com Mauro Silva, Dunga, Emerson e demais seguidores, dos quais Luiz Gustavo e Fernandinho são duas versões mal-acabadas.    


(artigo publicado no caderno Super Esportes do jornal O Imparcial de 08/04/2016)


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