sexta-feira, 10 de março de 2017




LAMENTÁVEL


O futebol do Rio de Janeiro tenta sobreviver num estado onde as mazelas se acumulam, tornando cada dia mais difícil a vida dos cidadãos e das instituições.
Como diz o ditado popular, muito faz quem não atrapalha, mas este bom senso parece passar ao largo das considerações do Ministério Público Estadual, que aparentemente sem outras preocupações mais sérias resolveu interferir nos jogos finais da Taça Guanabara, “em nome da segurança”, no que, aliás, é imitado pelos seus congêneres de outros estados.
Eu me pergunto que segurança é essa que permite a existência de um estado criminoso paralelo que, entre outras coisas, se acha no direito de proibir pessoas de adentrar certas áreas e até de matá-las quando assim o decidem.
O Ministério Público e a Segurança Pública melhor fariam se se dedicassem ao problema da criminalidade que assola um estado já assolado por uma administração bandida que desvia o dinheiro público para a sua farra particular, deixando funcionários e instituições à mercê do Deus querer.
Mas o Ministério Público prefere “garantir a integridade do torcedor” ao exigir torcida única nos clássicos, ou pior ainda, ao exigir clássicos realizados com os portões fechados.
Esta implicância com o futebol é incompreensível numa terra onde a bandidagem corre solta lá no morro e aqui no asfalto, como diria um sambista das antigas.
Se o problema for apenas mostrar serviço, é muito mais fácil controlar 30 mil pessoas dentro ou nos arredores dos estádios num domingo à tarde do que milhões de pessoas espalhadas pelos diversos pontos da cidade em uma semana de Carnaval.
Uma briga de torcedores é prontamente divulgada pela televisão e será objeto de intenso noticiário nas páginas dos jornais dos dias seguintes, mas as centenas de ocorrências nos dias de folia passam batidas, o que deve levar o Ministério Público a tratar o futebol estrategicamente como uma guerra e deixar o Carnaval para o reino da fantasia.    
Estupidamente, eles fingem não entender que os clubes precisam dos torcedores para que o entretenimento esportivo seja um sucesso e para que os patrocinadores sintam que estão colocando o seu dinheiro numa mercadoria que vale a pena.
Os clubes têm que arcar com despesas altíssimas com a manutenção de um plantel cujos salários estão muito acima dos que são pagos em qualquer outro tipo de empresa, além dos custos com os centros de treinamento, departamento médico, viagens e concentrações.
A falta de um palco adequado para a realização dos jogos mais importantes já é um problema, porque o Estádio do Maracanã, uma espécie de herança sem dono, ainda não tem condições de abrigar jogos devido a irregularidades encontradas.
O único clube no Rio que tem um estádio à altura é o Botafogo, que herdou o Engenhão – hoje Estádio Nilton Santos – do espólio dos Jogos Pan-Americanos de 2007. O estádio pode abrigar cerca de 47 mil pessoas e fica relativamente perto do centro do Rio, algo como 13 km.
Com a impossibilidade de uso do Engenhão, que exige a autorização do Botafogo, resta encarar 125 km até Volta Redonda e jogar no Estádio Raulino de Oliveira onde cabem 18 mil. As eternas desavenças entre os clubes, em especial o Flamengo, com o Vasco da Gama impedem a utilização do vetusto Estádio de São Januário, construído em 1927, onde poderiam se acomodar mais de 20 mil torcedores.           
Mas não é só de Ministério Público que vive a insanidade do futebol brasileiro.
O técnico da seleção, Aldenor Norberto Bachi, que todos conhecem por Tite, tem por exigência profissional a tarefa de assistir a diversos jogos entre os grandes clubes do Brasil a fim de observar jogadores e manter um arquivo de selecionáveis.
O senhor Bachi foi flagrado assistindo ao jogo Corinthians x Santos na arena Corinthians, no camarote do Corinthians, festejando alegremente o gol corintiano como um torcedor comum.
Mas ele não é um torcedor comum e assim procedendo quebra um protocolo, rasga a liturgia e perde a credibilidade com os torcedores dos outros clubes.
Lamentável.
    


(Artigo publicado no caderno de esportes do jornal O Imparcial de 10/03/2017)


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