quarta-feira, 7 de junho de 2017




INSISTÊNCIA

Por que você insiste para que eu feche a porta?
Eu sei que é tarde, mas a noite preservou o calor
Que à tarde o sol intenso quase nos incendiou
Pode ser noite, mas cálida sensação é o que importa
Em contraposição com o seu mau humor

Por que você insiste para que eu feche a boca?
Se eu gosto de falar, a sós, comigo mesmo
Na falta de um interlocutor que me compreenda
E faça eco à minha vã conversa louca
Feita de notas musicais, como um solfejo

Por que você insiste para que eu não ouça?
Se tudo o que desejo é ter o ouvido aberto
Para saber o que de mim fala este vento
O gotejar da água que que na poça empoça
E o farfalhar das folhas que estão por perto  

Por que você insiste que eu abandone o vinho?
Se é ele que me faz noturna companhia
Enquanto aguardo em vão por aquele sorriso
E aquele olhar sereno pra aquecer meu ninho
Tornando esta mansão um pouco menos sombria

Por que você insiste que eu não sinta a noite
E a sua companhia amiga e benfazeja?
Se isto parece agora ser tudo o que me resta
Para tentar fugir da dor do seu açoite
Que é neste instante o que minh’alma almeja

A porta, a boca, o vinho, a noite ausente
Me fazem companhia, ao lado da sua ausência
Quem sabe a manhã venha e traga novidades
Você sorrindo lindo e desbragadamente
Me olhando com ternura... e sem tanta insistência

Jun 2017

 



     



Nenhum comentário: