quinta-feira, 7 de junho de 2018


Republicando...



Memórias

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei velhas fotografias.
O avô no campo, o primo muito sério,
a irmã sorrindo o riso de menina,
qual o retrato lá no cemitério.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei o álbum da família.
O tio Joaquim vestido de soldado,
a tia Alzira junto com as vizinhas,
o gato Anselmo sobre o almofadado.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei velhos recortes.
A guerra, o tango, a receita de torta,
a oração feita para Santo Onofre
que esteve fixa por detrás da porta.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei o meu passado.
O boletim, a promoção de curso,
o convite à missa de formatura
a pulseira de prata que pendia ao pulso.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei cupim e traças.
Papel rasgado em meio a mofo e entulho,
lápis sem ponta, caneta sem carga,
relógio envolto num papel de embrulho.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei o meu destino.
Rapaz idoso com a minha idade,
senhor moleque, louco ajuizado,
antigo e velho, mas com mocidade.

Rebuscando o fundo da gaveta,
encontrei o fundo da gaveta.
Nada mais óbvio, mais simples, mais rude
do que uma folha de madeira escura e plana,
cheirosa e fria, como um ataúde.


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