terça-feira, 17 de julho de 2018





YEAH, THE BLUES!
(o Brasil no circuito mundial dos festivais)
Parte 1

Desde o final dos anos 1980, o Brasil tem se tornado um lugar bastante concorrido para a realização de festivais de rock, jazz e blues.
Mas nem sempre foi assim.
Demorou algum tempo para que o público brasileiro viesse fazer parte do roteiro dos megafestivais de música.
Naquela época os festivais de rock faziam comercialmente mais sentido do que os seus congêneres de jazz, pois tinham como suporte de mídia alguns bem sucedidos encontros internacionais produzidos e trabalhados mundo afora pelo show business.
É claro que isto não significa que o jazz não estivesse acontecendo no cenário mundial, mas parecia mais acertado apostar num movimento mais performático, como as bandas, os astros do rock e os seus grandes espetáculos de luz e cor, do que numa música que privilegiava mais os ouvidos e a sensibilidade.
O rock possuía um apelo mais popular, talvez por ter surgido mais recentemente. Afinal, o velho jazz foi apresentado ao mundo no início do século vinte, cinquenta anos antes que Chuck Berry afinasse a sua guitarra e produzisse o fenômeno que na época foi conhecido como rock-a-billy – uma mistura de country music com rhythm & blues, derivando para o rock and roll com a posterior intromissão do boogie-woogie.
A modernidade do rock era portanto mais propícia para agregar o público mais jovem, que não se importava em deixar o conforto de lado para se divertir como bem entendesse.  
Desde o seu nascimento, o rock teve uma boa penetração na mídia e era divulgado, embora ainda que timidamente, em programas radiofônicos e festinhas de família onde no final da década de 1950 Bill Haley disputava espaço com Cely Campello e Carlos Gonzaga.
E isto não definitivamente acontecia com o jazz e com o blues.

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O Brasil da Era do Swing tinha programas radiofônicos de jazz com as grandes orquestras tocando ao vivo pela Voz da América, mas isto acabou com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a mudança da mentalidade da juventude que começava a se tornar rebelde.
Por se constituírem num público menor e mais maduro, e por consumirem uma música mais sofisticada, jazzófilos e bluesófilos passaram então a viver num quase esquecimento, vendo-se obrigados a ouvir os seus estilos prediletos em casa por meio de gravações discográficas e a acompanhar de longe as trajetórias dos festivais de jazz mais famosos – Monterey (EUA), New York (EUA), Newport (EUA), Montreux (Suiça), JVC (França), Blue Note (Bélgica), North Sea (Holanda) e mais uma centena de outros – através de reportagens de colunas especializadas de jornais ou revistas, ou então por meio de discos long-play, cujas contracapas e encartes nos davam a noção do que se passava por lá, tudo documentado com as devidas fotos. Os discos muitas vezes traziam músicas gravadas ao vivo, o que adicionava uma emoção a mais ao ouvinte.
E a gente só sonhava, ainda que acordado.
De acordo com pesquisas não muito oficiais, o interesse que o jazz e o blues despertavam nos apreciadores de música era muito pequeno para se pensar num evento de largo consumo. Essa barreira, no entanto, foi finalmente  ultrapassada graças a alguns produtores arrojados que apostaram na inteligência do público e tiveram o apoio de patrocinadores fortes para tornar a ideia viável.

SEGUE

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