quinta-feira, 18 de outubro de 2018






HOTEL BUENA VISTA
(Excerto)

O corredor era imenso, e lá havia mais espelhos do que aparentava haver. Parecia também que o teto era mais alto, até onde a vista não conseguia alcançar.
Lá no fundo do corredor, quase a perder de vista, uma governanta se movia lentamente empurrando um carrinho cheio de fronhas e lençóis, e a sua imagem se multiplicava pelas paredes espelhadas, se movendo como num caleidoscópio.
Federico Pulga estava estático, mas o corredor parecia se mover e as portas se sucediam, embora a numeração dos quartos permanecesse sempre a mesma – 316 – e a semiobscuridade não permitisse que os detalhes fossem vistos com clareza.
Vultos saíam das sombras e entravam pelas portas, dando a impressão que atravessavam silenciosamente as paredes. Apesar de o piso estar forrado por um carpete espesso, Federico podia ouvir passos atrás de si, mas ao girar nos calcanhares ele via simplesmente a sua imagem multiplicada pelos espelhos.
O corredor estava abafado, mas uma lufada de vento frio se fez presente às suas costas e de repente já era possível ouvir o barulho da chuva que continuava ininterrupta como se uma abertura tivesse sido feita na parede da extremidade do corredor. As luzes fracas piscaram algumas vezes como se a energia elétrica estivesse entrando em colapso.
Federico viu então um homem se aproximar. O estranho era alto e circunspecto e tinha os cabelos prateados em desalinho. Estava impecavelmente trajado a rigor.
No exato momento em que Federico estava para cruzar com o estranho as luzes se apagaram definitivamente e o ruído da chuva e a força do vento também cessaram de repente.
Ato contínuo, o som de um piano se fez ouvir, deixando no meio da escuridão uma melodia que Federico não conseguia identificar.
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Ao chegar à aporta do ser apartamento, ele olhou para ambos os lados do corredor. À sua esquerda, apenas algumas lâmpadas mortiças que se refletiam nos espelhos e se diluíam no vermelho do revestimento. À sua direita, o corredor se afunilando e desembocando nas escadas.
Federico entrou no quarto, ansioso e desperto, mas sentiu que precisava dormir. Apagou a luz e meteu-se debaixo das cobertas para aguardar o sono com os olhos fechados. Decidiu que, acontecesse o que acontecesse, ele só sairia da cama quando amanhecesse o dia.
Após um período de vigília, ele finalmente adormeceu, sem sonhos marcantes nem visões que denunciassem os fantasmas do hotel, até que o alvorecer trouxesse um pouco de claridade.
 

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