terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 

                                  Foto: John Mc Laughlin e Chick Corea


AS CORES DO SWING
            (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 21 - O NEO SWING
            (final)

Por trás da inventividade do neo-swing e das bandas que mesclam techno e swing sem o menor pudor existe um embrião muito forte, concebido no início dos anos 1970: as “rock big bands”.

Num determinado ponto da história do jazz, durante os anos 1970, começou a inevitável fusão do jazz com o rock.

Esta fusão teve várias e diferentes direções.

Uma delas penetrava diretamente no mundo dos instrumentos eletrônicos ou sintetizados. A semelhança com o rock era conceitual, e se limitava à parte da melodia e dos arranjos. Ao contrário do que normalmente acontece com o rock, este tipo de jazz-rock não previa um cantor.

O núcleo desta música possuía elementos estruturais do jazz, com fortes pinceladas de rock.

Este estilo, denominado “fusion”, utilizava instrumentos eletrificados e originou grandes intérpretes, como Jean-Luc Ponty, Chick Corea, John McLaughlin, Weather Report, Jeff Beck e Pat Metheny, e modificou a trajetória de alguns jazzistas como Miles Davis, Herbie Hancock, Larry Coryell e Stanley Clarke.

A outra direção apontava para um rock que abdicava do seu som ácido e agrupava sob o mesmo denominador comum instrumentos eletrônicos e acústicos convencionais, produzindo um som forte e vigoroso, e criando uma harmonia peculiar sem comprometer a musicalidade.

Adicionou-se a voz áspera e cortante do vocalista, que era revestida de blues, mas transmitia um bocado de agressividade, o que dava à música um tom de rebeldia, que é uma parte integrante da essência do rock.

Neste caso, o núcleo da música possuía elementos estruturais do rock, com fortes pinceladas de jazz.

As rock big bands foram uma consequência direta desta forma de fusão, e conseguiram unir dois públicos que caminhavam em direções opostas, por professarem filosofias diferentes, embora baseadas na mesma origem – o blues.

As principais bandas responsáveis por este fenômeno foram Blood, Sweat & Tears, comandada pelo cantor David Clayton-Thomas; a Chicago, que possuía uma pegada mais pop, liderada pelo cantor Peter Cetera; a Dreams, mais jazzista, liderada pelo baterista Billy Cobham e pelo trompetista Randy Brecker; Pink Floyd e seu rock psicodélico: ou ainda Frank Zappa e Soft Machine, que economizaram nos metais, mas mantiveram o mesmo padrão.

Com as rock big bands ficou garantida uma continuidade no desenvolvimento do jazz orquestrado, onde big bands aparentemente convencionais começaram a utilizar as tendências e os elementos do rock and roll e da música popular contemporânea da época.

A passagem das rock bands para as bandas de neo-swing foi apenas uma questão de tempo, pois ambas possuíam a mesma proposta e eram cultivadas pelo mesmo tipo de público.

Para aqueles saudosistas que já haviam se conformado em lamentar a morte do swing, o neo-swing trouxe uma injeção de estímulo e uma sensação de volta ao passado. Pode não ser a mesma coisa ter ouvido Count Basie nos bons tempos de Kansas City e ouvi-lo agora com uma roupagem diferente, mas tudo não passa de uma questão de costume.

Com o tempo, os novos ouvidos e os seus humores irão se rendendo aos poucos à novidade, e a descoberta de um novo riff ou de uma menção estilizada de uma passagem que havia se tornado inesquecível poderá tranformar um saudosista teimoso num novo swingster convicto.

Para os ainda renitentes sempre restará o recurso de se trancar no quarto, usar a sua aparelhagem de som ou programar uma música com a orquestra da sua preferência, fechar os olhos e se transportar para o mundo mágico dos salões. Ou procurar num vídeo ou num registro do youtube alguma coisa que possa fazê-los retornar no tempo. Ou ainda então ingressar no admirável mundo novo do swing revival.

É sempre possível sonhar, pois como dizia Duke Ellington, a música não é mais do que um sonho.

 

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