terça-feira, 2 de novembro de 2021

 


EU E A MÚSICA

ESSE TAL DE ROCK AND ROLL

Um abraço no Gilberto Mineiro – Parte II

Era sábado, e naquele dia, graças às artimanhas do diligente produtor, estava sendo realizado no Equator não uma festa de reggae, como seria de se supor, mas um festival de rock como a gente sonhava, com diversas bandas locais se apresentando, algumas mais ativas e experientes e outras ainda com o rótulo de garage bands, contando com a presença de um público jovem bastante participativo.

As garage bands eram formadas por jovens adolescentes que se reuniam nas suas casas depois das aulas e não tinham um grande conhecimento musical teórico nem qualquer ambição profissional, embora alguns deles tivessem seguido a carreira da música, mesmo se paralela a alguma outra atividade acadêmica.

Menos participativos do que o público jovem, alguns homens e mulheres maduros que assistiam ao festival davam a impressão de que lá estavam apenas por conta dos seus pimpolhos que soltavam provavelmente seus primeiros gorjeios em público, mostrando aos presentes aquela guitarra e aquele baixo recém-adquiridos, sem as marcas ou os riscos causados pelo uso. 

Aparentemente os meninos se divertiam mais durante o acerto do som das guitarras e do “um-dois-sssommmm” ao microfone do que quando se punham realmente a tocar.
As apresentações haviam começado às quatro da tarde misturando alguns trabalhos autorais esforçados com alguns covers bem ensaiados, e a expectativa era a de que mais gente chegasse durante o transcorrer dos shows, sendo previsto o seu gran finale apenas lá para as dez da noite.

O Equator Rock Festival foi mais um evento produzido por Gilberto Mineiro, radialista e produtor musical com uma vida dedicada ao rock, que tinha a seu encargo um programa semanal de rádio que mantém até hoje, embora com outro nome e em outra emissora. Mais tarde ele passaria também a trabalhar com música alternativa, drum & bass, som do mangue, acid jazz, world music, nova MPB e outras coisas do gênero.

Gilberto Mineiro é o que se pode chamar de uma cabeça pensante, inteligente e provocador seja na música ou fora dela, embora geralmente procure canalizar as suas discussões para o campo da qualidade musical, sendo implacável com aquilo que ele considera de baixo nível. Com ele, sempre temos a garantia se uma boa conversa.

Como apreciador do velho e bom rock and roll eu também lá estava, totalmente envolvido por aquele recital de guitarra, baixo e bateria no meio de jovens cabeludos, a maioria trajando preto, alguns portando correntes e outros adereços punk, outros dançando as suas gingas e cabeçadas, mas tudo dentro de muita alegria e – pasmem! – muita paz e ordem, ao contrário do que certamente temiam os pais e acompanhantes, e também os donos de bar mal avisados.

Aquilo foi o início de uma nova era.

Hoje em dia, as bandas de rock maranhense saíram da toca e se apresentam em diversos bares, pubs, restaurantes e casas noturnas, praias e praças, puro em qualquer dos seus estilos ou na forma de blues, e ao contrário de que temiam os proprietários dos locais, a distorção das guitarras e o frenesi da bateria seguem atraindo público de todos os matizes.
Graças à teimosia de bandas pioneiras como Digital 4, Daphne, Alcmena, Whydia, Camisa de Força e Paul Time, e mais tarde Página 57, The Mads, Pandha S.A. e tantas outras, e graças ao trabalho de produção e divulgação de Gilberto, o rock passou a ser participante da cena musical da cidade.

Enquanto eu acompanhava o entusiasmado balanço de uma das bandas daquele Equator Rock Festival, um jovem com não mais do que quatorze anos me observava, curioso.
Trajando roupas sem qualquer espalhafato e sem nenhuma parafernália que denunciasse sua apreciação pelo que estava acontecendo no local, ele tomou coragem e fez a pergunta que o estava intrigando, dada a minha idade avançada para aquelas estripulias: “Mas, tio, você gosta mesmo disso?!...”

Eu respondi com toda a sinceridade histórica que o momento merecia: “Meu filho, quando ‘isso’ começou a acontecer, eu tinha mais ou menos a sua idade. E nunca mais parei de ouvir e de gostar...”

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