quarta-feira, 16 de março de 2022

 

                                                Joe Pass

O IMPROVISO NO JAZZ
(Augusto Pellegrini)
 

(Parte 3) 

No jazz isto não acontece, pelo simples fato de que o intérprete jazzista, por mais que memorize certas improvisações, sempre adicionará ou omitirá algum detalhe, levando em consideração o seu “mood” no momento da execução, a interação com os outros instrumentos e a sua criatividade pessoal.

Isto porque o jazz baseia a sua sonoridade em uma peculiaridade que o diferencia dos outros gêneros musicais, tendo como base dois elementos importantes que não existiam na música erudita e não estão presentes em boa parte das músicas modernas: as blue notes (algumas notas diminuídas na escala diatônica tradicional, conferindo à interpretação uma nova escala) e o off-beat (inversão na batida convencional, provocando uma acentuação rítmica não convencional).

Estas são algumas características do jazz, e o músico que não se identifica com elas jamais produzirá o verdadeiro jazz.

O jazz precisa ter também um balanço todo especial, que conhecemos por swing. Além do mais, ele também necessita de espontaneidade, vitalidade e de um correlacionamento entre os executantes que dispensa, embora não exclua, uma regência ou partituras escritas.

Finalmente, o jazz necessita de um fraseado e de uma sonoridade que espelhem a individualidade de cada músico, quer nos solos quer nas intervenções em conjunto.

O músico de jazz precisa possuir estas características, isto é, ter muita alma e muito “feeling”. Isto significa ter uma sensibilidade aguçada que extrapola o puro e simples conhecimento técnico na execução do instrumento ou na interpretação vocal. E é esse swing, essa interação e essa sensibilidade que propiciam o improviso do músico.

O jazzista deve “sentir” cada passagem da melodia de uma maneira muito particular e expressar o seu sentimento em termos de música obedecendo não apenas o que lhe diz o seu instinto, mas também o que determina a concepção do verdadeiro jazz.

O estilo conhecido como “swing” ou o jazz das “big bands”, que possuem como uma das características a formação de naipes de instrumentos que produzem sons harmônicos dotados de blue notes e de off-beats, têm como base arranjos escritos em partituras, o que evita sons desencontrados de instrumentos do mesmo naipe e valoriza a linha harmônica dos instrumentos quando executados em conjunto. No entanto, os solos individuais permitem que os músicos desenvolvam os seus improvisos dentro de um determinado número de compassos que lhes forem designados, mesmo obedecendo ao que foi estabelecido pelo arranjador.

Os temas construídos para o jazz tradicional e para o bebop também obedecem a linhas melódicas rígidas, mas os solos individuais se libertam da rigidez do tema e dão luz aos improvisos.

  

          

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