quinta-feira, 22 de setembro de 2022

 


PÁGINAS ESCOLHIDAS

Do livro O BRUXO DE CONCEPCIÓN (2011)
(Augusto Pellegrini)

 HOTEL BUENA VISTA

O corredor era imenso, e lá havia mais espelhos do que aparentava haver.
Lá no fundo do corredor, quase a perder de vista, uma governanta se movia lentamente, empurrando um carrinho cheio de fronhas e lençóis, e a sua imagem se multiplicava nas paredes espelhadas, como num caleidoscópio.

Vultos saíam das sombras e entravam pelas portas, dando a impressão de que atravessavam silenciosamente as paredes. Apesar de o piso estar forrado com um espesso tapete, Federico podia ouvir passos atrás de si, mas ao girar nos calcanhares ele via simplesmente a sua imagem refletida nos espelhos.

O corredor estava abafado, mas uma lufada de vento se fez presente nas suas costas, e de repente surgiu o barulho da chuva que desabava lá fora como se uma abertura tivesse sido feita na parede da extremidade do corredor. As luzes fracas piscaram algumas vezes como se a energia elétrica estivesse entrando em colapso.
Federico então viu um homem se aproximar.

O estranho era alto e circunspecto, e tinha os cabelos prateados em desalinho e o olhar perdido no nada. Estava impecavelmente trajado a rigor.
No momento em que o homem estava para cruzar com Federico, as luzes se apagaram definitivamente, e o ruído da chuva e a força do vento também deixaram de existir.

De repente, o som melodioso de um piano tomou conta do silêncio e invadiu a quietude da madrugada.

(Federico hospedando sua imaginação num hotel-fantasma) 




 

 

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