segunda-feira, 21 de abril de 2014





O EXEMPLO QUE VEIO DA GRÉCIA

A Grécia é um país milenar, berço da civilização ocidental, mas nem por isso ocupa um lugar de destaque no cenário europeu, do qual é certamente um dos primos mais pobres.
Recentemente, o país se viu envolvido em uma crise sem precedentes, da qual ainda está tentando se livrar com a ajuda da Comunidade Europeia e dos Estados Unidos.
País sem recursos, a quem foi dada a chave do cofre quando entrou na Eurozona, a Grécia transformou a fragilidade do dracma no poderio do euro, mas foi administrada de uma forma pífia por políticos e administradores que não enxergavam muitos palmos adiante do nariz, o que precipitou o problema.
Uma das marcas do desastre foi a realização da Olimpíada de Atenas em 2004, que serviu para celebrar os primeiros Jogos realizados na mesma cidade 108 anos antes, ou seja, em 1896. 
A corrupção, o superfaturamento, o atraso nas obras e a fartura de dinheiro público à disposição dos organizadores inflacionaram os preços, reduziram a qualidade do projeto e impediram um bom planejamento técnico e econômico, provocando um gasto de cerca de 9 bilhões de euros.
Pior: o legado que as construções deixaram para os cidadãos gregos é praticamente nulo, pois grande parte dos prédios, instalações e entornos se encontra totalmente deteriorada.
Com certeza, esta loucura de bancar gente rica foi uma das principais responsáveis pela derrocada que se seguiu nas áreas de sobrevivência da população.
O Brasil está vivendo uma aventura semelhante.
Apenas para a Copa do Mundo, o país está investindo cerca de 25 bilhões de reais (que poderá chegar a 30, o que equivaleria aos mesmos 9 bilhões de euros da Grécia), dos quais 82% são provenientes dos estados e dos municípios e apenas 18% são bancados pela iniciativa particular.
Em 2016 o país vai sediar os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, o que pode até representar um avanço significativo em termos de imagem, além das vantagens provenientes do ponto de vista do turismo, mas o custo será altíssimo.
A previsão de gastos até o momento é de 36,7 bilhões de reais, aí incluídos uma série de benefícios que deverão ficar como legado à comunidade, como obras de metrô, vias para ônibus, melhorias no meio ambiente e na infraestrutura da cidade, mas isso só será conferido daqui a uma dezena de anos.
De acordo com os organizadores dos Jogos do Rio, 60% da verba é proveniente dos cofres públicos e 40% da atividade particular. A conferir.
O grande problema é a falta de credibilidade dessa gente, pois depois de gastarem 4 bilhões de reais com o Pan 2007 (10 vezes mais do que a estimativa inicial) não deixaram como legado praticamente nada, inclusive a Vila Olímpica, que foi transformada em residências populares mas está caindo aos pedaços, e o Engenhão, que foi doado para o Botafogo e no momento se encontra abandonado, enquanto o poder público se concentra em gastar mais 1,2 bilhão na construção de um novo Maracanã.
Uma das exigências do Comitê Olímpico Internacional para 2016 seria a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía da Guanabara, mas peixes mortos e lixo nada orgânico continuam flutuando nas águas, o que pode transferir as provas aquáticas ao ar livre para outros locais, pois já não existe tempo hábil para a devida recuperação ambiental. 
Acrescente-se a isso a possibilidade de greves em serviços essenciais, superlotação de aeroportos, manifestações nas cidades sede e a indigência nos serviços de telefonia e transmissão de dados, e nos veremos de frente com uma espécie de caos que teremos que administrar, independentemente da qualidade ou dos resultados dos jogos da Copa do Mundo ou da Olimpíada em si.      
                                                                                                                                                                                               

Nenhum comentário: