segunda-feira, 17 de novembro de 2014





O FUTEBOL NA ROTA DO CRIME 

 (ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 17/11/2014) 

“A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida” é uma tirada filosófica do dramaturgo, poeta, pensador e escritor irlandês Oscar Wilde feita em 1889, e pode ser analisada sob diferentes ângulos.
Hoje em dia convencionou-se dizer apenas que “a arte imita a vida”, que pode ser a antítese de Wilde, mas é a ideia que melhor se aplica à realidade.
No caso do artigo Gol de Placa, como lidamos com um tipo especial de arte (ou entretenimento, se assim o preferirem), podemos dizer que o futebol está imitando os fatos políticos e econômicos que se sucedem no país, felizmente ainda sem a mesma contundência.
Um pacote de denuncias, negações, gravações e depoimentos toma conta da vida mundana com uma frequência dinâmica, quase diária, gerando a cada investida mais denuncias, negações, gravações e depoimentos, e levando às barras da justiça figuras do mais alto escalão da República e do coração financeiro do Brasil.
Nunca antes na história deste país tantos políticos e figurões de colarinhos imaculados foram presos, algemados, cassados, expostos à humilhação e à execração pública, nunca os ministros do Supremo Tribunal tiverem que desvendar tanta sujeira e nunca caríssimos advogados daqui e dali tiveram tanto trabalho.
E o futebol, como se contaminado por um vírus invisível aos olhos, mas sensível à percepção, entra também na rota policial – denuncias, negações, gravações e depoimentos – acrescentando mais um capítulo que culmina com a exumação dos restos mortais da Portuguesa de Desportos, sepultada há duas semanas com a promessa de ressuscitar na terceira divisão em março do ano que vem.
Vale a pena lembrar resumidamente os fatos ocorridos na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013.
Dependendo dos resultados, um destes clubes – Portuguesa, Fluminense ou Flamengo – seria despachado para a Série B, fazendo companhia para o Náutico, a Ponte Preta e o Vasco da Gama.
O Fluminense havia vencido o Bahia em Salvador, mas não se livrou do rebaixamento porque a Portuguesa havia empatado com o Grêmio e manteve uma pontuação superior ao tricolor carioca.
Só um milagre poderia reverter a situação, e o milagre aconteceu: por ter escalado um jogador irregular, a Lusa perdeu quatro pontos e livrou a cara não só do Fluminense como também do Flamengo, que também havia perdido quatro pontos pelo mesmo motivo. 
Foi levantada na época uma hipótese fantasiosa de que a Portuguesa – ou alguém profundamente identificado com o clube – havia “vendido a vaga” por uma quantia de dinheiro que faria Judas morrer de inveja com as suas míseras trinta moedas.
A Lusa caiu, o presidente Manoel da Lupa caiu, o advogado do clube caiu, a Lusa caiu de novo, e de repente, no mar revolto das acusações surge um fato novo: uma investigação profunda e silenciosa feita pelo Ministério Público indica que o ex-presidente e alguns ex-dirigentes da Portuguesa receberam dinheiro para escalar propositalmente o meia Héverton, que estava irregular. O órgão procura desvendar agora quem pagou – e quanto – para que o clube fosse punido e rebaixado.
De acordo com o órgão federal que investiga o caso, os valores da transação podem variar entre 4 a 20 milhões de reais, e os principais suspeitos do pagamento seriam pessoas ligadas ao Flamengo e ao Fluminense, que se beneficiaram com a irregularidade cometida pela Lusa.
A investigação inclui a quebra de sigilo bancário de funcionários e ex-funcionários da Portuguesa, o que ajudaria a rastrear a origem do dinheiro.
Da Petrobras ao Canindé, existe muita gente que precisa prestar contas das suas ações, muita cadeia com a porta aberta e muita lei a ser cumprida.

 

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