quarta-feira, 17 de dezembro de 2014





UM VELHO JORNAL DE ESPORTES  

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 15 e 16/12/2014) 

Qual é o mistério que transforma clubes vencedores, acostumados a brigar por títulos e seguidos por milhões de torcedores fanáticos, em meros cumpridores de tabelas de campeonatos?
Por que motivo clubes de grande tradição, que chegaram a disputar e ganhar torneios e campeonatos importantes, de repente começam a definhar e passam a viver apenas de história?
Nesses casos, a queda parece uma doença insidiosa que começa devagar – um tropeço aqui, um rebaixamento acolá – e quando o clube toma consciência já está lutando pela sobrevivência.
No momento, pelo menos três clubes brasileiros estão nesta corda bamba: Botafogo, Palmeiras e Vasco da Gama, pela ordem do problema.
Talvez pudessem ser incluídos nesta lista o Bahia e o Santa Cruz, pelos relevantes serviços prestados ao futebol no século passado, mas vamos ficar nos três mais tradicionais.
O Botafogo, pela sua situação de insolvência, pela nova queda para a Série B e pela possibilidade remota de montar um time competitivo para trazê-lo de volta à divisão de elite, está prestes a se tornar um novo America do Rio de Janeiro, cuja façanha histórica foi a conquista de 7 títulos de campeão carioca (o último em 1960) e um Torneio dos Campeões em 1982.
Há 32 anos o Ameriquinha não ganha um título relevante e hoje amarga a Série D do Brasileirão. Se o Botafogo não abrir os olhos, também chega lá.
O Palmeiras é outro que precisa se cuidar. O clube foi rebaixado duas vezes nos últimos 12 anos – este ano escapou por um triz – e tem que se renovar para fazer jus ao seu centenário e ao seu moderníssimo Allianz Parque. A reformulação parece que está em curso, e a primeira tarefa do presidente reeleito e da nova diretoria é montar um time para brigar pelo menos até a décima posição no ano que vem, e por uma campanha digna no Campeonato Paulista, o que já seria uma vitória.
O Vasco também está mal das pernas, mas o seu retorno à Série A e a volta do polêmico caudilho Eurico Miranda poderão dar o gás necessário para que o time se recupere. A torcida confia desconfiando.
Outros clubes que algum dia chegaram a causar um certo impacto (Portuguesa, Guarani-SP, São Caetano, Ceará, Paysandu – e agora também o Vitória) estão em um patamar abaixo do nível de importância do futebol brasileiro.
E olhe que não estou me referindo apenas ao que acontece no Brasil, pois este desgaste é um fato corriqueiro que ocorre em todo o mundo, ou seja, no exterior a coisa não é muito diferente.
O grande Torino da década de 1940, base da seleção italiana que era favorita para ganhar a Copa do Mundo de 1950, morreu junto com os seus jogadores no acidente aéreo da Basílica de Superga em 1949, nos arredores de Turim. Isso aconteceu há sessenta e cinco anos e desde então o clube nunca mais foi vencedor, embora ainda seja o quinto maior campeão nacional.  
Mas a Inglaterra talvez seja a campeã dos ídolos decadentes.
Clubes como Nothingham Forest, Leeds United, Sheffield Wednesday e Blackburn Rovers, que já tiveram seus dias de glória praticamente sumiram. No momento o lendário Liverpool está balançando e precisa urgentemente se consolidar se não quiser ter mesmo destino.
Alguns esquadrões europeus que chegaram a ser referência no passado – Estrela Vermelha (antiga Iugoslávia, atualmente Sérvia), Austria Viena e Honved (Hungria) – não são mais citados.
O torcedor até aceita que o seu time tenha um jejum de títulos e alguma queda na produção, mas não se conforma ao vê-lo desaparecer lentamente a ponto de se tornar apenas uma página amarelada de um velho jornal de esportes.    

 

 

 

 

 

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