segunda-feira, 12 de janeiro de 2015







HÁ SINCERIDADE NISSO? 

(ARTIGO PUBLICADO NO CADERNO “SUPER ESPORTES” DO JORNAL “O IMPARCIAL” DE 12/01/2015) 

Em 1952, estreava no Teatro Recreio, centro do Rio de Janeiro, um novo espetáculo musical que levava o nome de “Há Sinceridade Nisso?”.
O Brasil, cuja sede de governo era o Rio de Janeiro, era governado na época pelo presidente Getúlio Vargas – que iria se suicidar dois anos depois – e o clamor popular mostrava uma certa insatisfação, do que se aproveitava a oposição política com o auxilio de alguns jornais e comunidades artísticas para exercer suas críticas mordazes e nem sempre sutis.
“Há Sinceridade Nisso?”, produzido por Roberto Ruiz, era um espetáculo burlesco do gênero teatro de revista, e como tal mostrava uma colcha de retalhos incluindo mulheres sedutoras vestindo maiôs e biquinis reluzentes e reduzidos, ricos cenários, um corpo de bailarinas executando coreografias ao som de grandes orquestras, cantores e cantores da moda e sketches teatrais que não mediam palavras para dizer o que os autores do texto pensavam.
Com o tempo, o teatro de revista propôs uma abertura mais ampla para o público e abriu espaço para um tipo de cinema conhecido como “chanchada”, cujo humor escrachado era mais contido.
“Há Sinceridade Nisso?” era uma sátira em torno das promessas, dos pronunciamentos e das atitudes dos políticos e da sociedade da época, e retratava o comportamento brincalhão e descompromissado do carioca.
Mesmo sem significar exatamente a mesma coisa, cabe nos tempos modernos essa mesma indagação quando deparamos com as manobras nos clubes e nas federações para perpetuar este ou aquele no poder.
Suspeita-se que não haja sinceridade alguma nos gestos dos dirigentes esportivos quando eles dizem que estão preocupados em melhorar a imagem e a qualidade do esporte no país.
Candidato único ao cargo de presidente da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, Marco Polo Del Nero foi eleito por 44 dos 47 votantes e começa seu mandato em abril deste ano. O atual presidente, José Maria Marin será o seu primeiro vice-presidente por ser o vice mais velho. A eleição foi garantida após a aprovação das contas da entidade (o que nem chegou a acontecer, nem para dar um pouco mais de seriedade ao processo de transmissão de cargo).
Esta pressa no processo tem a ver com prazos a serem cumpridos de acordo com os regimentos internos, que inclusive estabelecem um tempo para que Del Nero faça a transmissão do cargo que ocupa como presidente da Federação Paulista de Futebol.
Como Del Nero assumirá a presidência da CBF, a partir de abril o atual vice da FPF – Reinaldo Carneiro de Barros – assume em São Paulo, e tudo fica em casa.
A disputa pela CBF previa lances mais emocionantes com a chegada de uma chapa de oposição a Del Nero-Marin formada pelo ex-presidente corintiano Andrés Sanchez e pelo presidente da Federação Gaúcha Francisco Noveletto, mas a coisa não evoluiu pela dificuldade de articulação dos dois, que não reúnem muitos simpatizantes dentro do círculo fechado dos presidentes de clubes e federações.
Na sua sabedoria burlesca, o teatro de revistas, uma espécie de Pasquim ou de Charlie Hebdo das artes cênicas, está fazendo falta nos dias atuais. Foi substituído impropriamente por alguns programas humorísticos de televisão, pois o seu caráter de diversão para um público adulto e fechado lhe permitia dizer as coisas mais às claras, à guisa de crítica satírica.
Talvez essas manobras dos nossos cartolas e as suas atitudes nem sempre transparentes justificassem a apresentação de um outro musical – “Tem Gato Na Tuba” – encenado pela Companhia Walter Pinto em 1948.    

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