sábado, 4 de fevereiro de 2017





O POLÍTICO - II

Desde menino sonhava. O poder queria
a todo custo,
havendo ou não realidade, a liderança pedia,
achava justo.
Conseguiu-a com dinheiro – pai ricaço, industrial,
berço de ouro.
Seu prestígio cimentava – luz e glória! – tal e qual
o pressuposto.

Quem era mendigo ou feio, sem sociedade,
não interessava.
A humanidade era pra ele a fina casta que sempre fora
sofisticada.
Na juventude não teve amigo ou companheiro
que fosse pobre;
o instinto sempre conta: a vida, com mais dinheiro,
se faz mais nobre.

Sem exames rigorosos ingressou na faculdade
de advogados.
De janota prepotente a jurista consagrado
foi transportado.
Em pleno baile de gala, luzes e cristais brilhando,
traje a rigor,
recebeu os parabéns industriais desta vez
na voz do governador.

Aquela pequena indústria crescera encontrando um meio
de sonegar
e hoje era parte integrante da segurança
nacional.
Que o povo pedisse água, passasse fome,
e ele com isso?
Se o pai lhe mostrara a arte de ver de frente
só o bonito?

E veio então a gloriosa, emocionante corrida
eleitoral,
pois onde a reconhecida capacidade
de advogar?
E foi eleito, fez lei, discursos e homenagens
ao pai famoso
que lhe deixara de herança a sua outra bagagem,
a de mentiroso.

Fez mais mal que a peste negra, que a peste branca,
que a peste,
tanto mal que a própria peste não viu um jeito
de ser-lhe fértil!
Fez gatunagens, subornos, negócios inconfessáveis,
com sede ao pote
Foi inimigo da  pátria, pois suas terras e águas
vendeu a lote.

1988










Nenhum comentário: