sábado, 12 de janeiro de 2019






DE POMBOS, CÃES E PECADORES
(Augusto Pellegrini)

Os pombos que passeiam pela praça da Matriz
São tratados com carinho e levam uma vida feliz
Dona Eugênia, cuidadora da igreja e seus afins
Todo dia os alimenta com quirera e amendoim
Mas quando pressentem coisas que lhe parecem o contrário
Se sentem incomodados, voam para o campanário
Lá, eles se sentem seguros vendo a praça pelo alto
Olhando o feio e o bonito, o prevenido e o incauto

O cão, que também vagueia em busca do que comer
Fica prestando atenção nas pessoas e no vai-e-vem
Sempre resta alguma coisa que sobrou de um alimento
Que sacia a sua fome e ajuda no seu sustento
Mas, percebendo a chegada de alguém de má catadura
Sem qualquer perda de tempo vai pro outro lado da rua
Colocando-se ao resguardo de fatos indesejáveis
Ficando em estado de alerta para outras necessidades

O homem vem para a praça e caminha para a igreja
Onde buscará conforto e uma bênção benfazeja
Vai expiar seus pecados por meio de contrição
E elevar o pensamento enquanto ouve o sermão
Mas, percebendo ao seu lado alguém que lhe inspira medo
Muda depressa de ideia e vai pra casa mais cedo
Hoje em dia, nem na igreja pode-se sentir seguro
Por isso, o homem se evade para o outro lado do muro

Como os pombos e os cães vadios precisam de proteção
Também o pio e o pecador vão em busca do perdão
Todos querem o alimento, físico ou espiritual
Para ultrapassar barreiras neste mundo desigual
Todos precisam de Eugênias, que de ajudar  nunca esquece
Cada qual busca um abrigo como mais bem lhe apetece
Eu procuro meu refúgio na mais quente companhia
De alguém que possa me dar paz, segurança e alegria

Dezembro 2018


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