quarta-feira, 7 de outubro de 2020

 



AS CORES DO SWING
           (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 15 - O EFEITO WALL STREET

A chegada dos primeiros colonizadores nos Estados Unidos se deu em 1607.

Eles vieram das Ilhas Britânicas, buscando a parte nordeste do continente, pois o lado sul já estava sendo ocupado por conquistadores espanhóis que haviam subido das ilhas do Caribe, e pelos franceses, que desembarcaram nas praias do Golfo do México, especificamente as que seriam anos depois a costa marítima da Louisiana, do Mississipi e do Alabama.

Os navegantes ingleses chegaram ao Novo Mundo para escapar de perseguições religiosas na Europa, e tinham em mente não apenas conquistar o novo território, mas nele se instalar e paralelamente iniciar a sua colonização com base na cultura e nas tradições trazidas da Inglaterra. Eles estavam dispostos a desbravar um espaço desconhecido que se adivinhava próspero e promissor, embora tivessem noção das vicissitudes que teriam pela frente.

Estes aventureiros temerários vieram a bordo do veleiro Godspeed e aportaram numa praia deserta do continente americano, no local onde futuramente seria o estado da Virginia. Eles eram denominados Pilgrins, ou seja, Peregrinos, e nada mais eram do que um grupo de puritanos dissidentes, fundamentalistas cristãos pertencentes a uma casta religiosa pragmática que baseava as suas leis sociais nos preceitos mais rígidos do Velho Testamento.

As convicções religiosas e moralistas dos Pilgrins eram estruturadas na família, no trabalho, no louvor a Deus e na busca frenética pela riqueza. Para conseguirem os seus objetivos, os forasteiros tiveram que travar uma batalha cruenta contra todas as adversidades que a mudança radical no seu estilo de vida lhes impunha, como a fome, o clima, os nativos hostis, as primeiras brigas internas pelo comando e as doenças desconhecidas do novo continente.

Com muita perseverança, e sem coragem para enfrentar uma viagem de volta e ter que encarar os adversários religiosos que haviam deixado para trás ou sofrer com o descrédito dos seus compatriotas, os Pilgrins tiveram que superar todos os desafios e iniciaram uma colonização baseada na agricultura, na pesca e na comercialização dos seus produtos.

Treze anos depois chegava ao novo continente o navio Mayflower, transportando uma leva de cerca de cem novos Peregrinos, que desembarcaram no litoral do atual estado de Massachusets, numa praia que eles denominaram de Plymouth, em homenagem à cidade inglesa de Plymouth, local da partida. Com o passar do tempo, a Plymouth americana se transformou no território de colonização mais importante do futuro país, dominando toda a região que eles batizaram de New England (Nova Inglaterra), e que futuramente iria abrigar os estados de New Hampshire, Maine, Vermont, Massachusets, Rhode Island e Connecticut.

Este colonizador era idêntico àquele que aportara na Virginia, com raízes tipicamente anglo-saxônicas, exibindo a mesma crença cristã exacerbada, muita austeridade no que dizia respeito a assuntos familiares e uma ambição desmedida no futuro.

Parece um pouco estranho voltar tanto assim no tempo e pesquisar as raízes da história dos Estados Unidos quando a intenção deste livro é desbravar tão somente a história do swing, mas estas observações são importantes para que possamos compreender a formação e os valores dos descendentes destes colonizadores no final do século dezenove e uma série de ações sócio-políticas que foram desenvolvidas com o tempo.

De uma maneira geral, o Estado americano sempre procurou exercer um controle rigoroso sobre o comportamento do cidadão norte-americano, tendo como base a moral e os bons costumes, a ponto de em 1851 ser sancionada a primeira lei proibindo a fabricação, guarda e consumo de bebidas alcoólicas, promulgada no estado do Maine. Esta lei foi adotada, posteriormente, por mais trinta e um estados da Federação através de uma determinação rígida, com visíveis traços vitorianos.

Em 1919, portanto quase setenta anos depois, o Congresso americano fez passar uma emenda constitucional conhecida como Emenda 18, pela qual era ratificada a proibição da fabricação e venda de bebidas alcoólicas em três quartos dos estados da Federação. Esta lei passou a ser oficialmente aplicada em janeiro de 1920, e definia em meio por cento o teor alcoólico máximo permitido em qualquer bebida, fosse ela o gim, a cerveja, o vinho, os coquetéis, o uísque fabricado pelas destilarias ou o simples licor caseiro da vovó.

Apesar do regime democrático, a economia do país era controlada com mão de ferro pelos descendentes daqueles protestantes anglo-saxões que agora dominavam o governo principalmente através do partido republicano. Estimava-se que mais da metade de toda a fortuna dos Estados Unidos estivesse nas mãos de uns poucos privilegiados que detinham o comando.

O controle sobre a venda de bebidas alcoólicas já era aplicado desde o início da Primeira Guerra Mundial em alguns pontos considerados militarmente estratégicos ou por motivos ofensivos aos preceitos morais. A princípio a proibição foi considerada uma necessidade, digamos patriótica, de preservar a unidade e o bom comportamento dos soldados americanos que haviam sido convocados em virtude do conflito, e a aplicação da medida havia sido inicialmente prevista apenas para soldados em uniforme e confinada às proximidades onde se concentravam as forças armadas.

 Devido a esta proximidade, diversos bairros boêmios que abrigavam cabarés e bares onde os soldados e os seus superiores se divertiam em meio a muita música, bebida e mulheres, foram então fechados.

Com o fim da guerra e a promulgação da lei, a restrição passou a ser geral, até porque naquele momento ninguém poderia prever os rumos que a nova ordem política, social e econômica tomaria no mundo nem as consequências que isto poderia trazer para os Estados Unidos. Assim, por via das dúvidas, aplicar uma legislação de força parecia ser a melhor forma de preservar a unidade nacional e manter o fortalecimento da sociedade.

Estranhamente, o estado de beligerância acabou conduzindo em pouquíssimo tempo os Estados Unidos a um inesperado milagre econômico, chegando ao seu ápice no início dos anos 1920. Por ser artificial, porém, este milagre não durou muito tempo, e acabou ruindo com a quebra da venerável New York Stock Exchange, a Bolsa de Valores de Nova York, em 1929.

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