sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 


AS CORES DO SWING
            (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 21 - O NEO-SWING
            (continuação)

Enquanto a tendência do rock era cada vez mais a de se tornar uma música de radicais contestadores, o twist e os seus primos pop caminhavam no sentido oposto, com uma preocupação meramente lúdica.

O twist acabou ficando pelo caminho, até por não possuir uma qualidade musical mais consistente, mas deixou patente aos olhos de todos a necessidade da dança e da expressão corporal, que foi atendida através das pequenas dance houses da década de 1970 e dos dance halls que vieram a seguir substituindo a música ao vivo pelo som dos DJs. Este fenômeno se espalhou por todo o mundo, dura até os dias de hoje e não tem data para acabar.

A música norte-americana tomava, na época, diversos caminhos. O blues se mantinha inatingível, embora com o poder de alcance limitado aos puristas e roqueiros mais sofisticados, mas abriu caminho para a chamada “black music” que viria a ser artística e comercialmente explorada pela gravadora Motown. Com o passar dos anos, houve a popularização de diferentes novidades vocais com tendências jazzísticas como The Singers Unlimited, The Manhattan Transfer, e Lambert, Hendricks & The Ross Ensemble, de cantores como Bobby McFerrin, Linda Rondstad e Joe Jackson, e dos cantores-pianistas Harry Connick Jr. e Michael Feinstein, só para citar uns poucos.

O movimento punk explodiu e ganhou status, mas a tônica da época eram as discotecas e o surgimento de grupos como Bee Gees, Village People, ABBA, The Manhattans, Simon & Garfunkel, The Carpenters, Creedence Clearwater Revival, Queen e cantores como Michael Jackson, Gloria Gaynor, Marvin Gaye, Carole King, Aretha Franklin, Roberta Flack, Billy Joel e Elton John.

Aquele momento, porém, também indicava uma forte tendência de modernização dos estilos musicais mais antigos, e alguns críticos começaram a chamar o movimento de “a indústria americana da nostalgia”, como se tudo não passasse de uma volta ao passado.

Foi neste clima, em pleno apogeu das casas de techno e hip-hop, que a década de 1990 apresentou outra novidade: os swingsters.

Os “swingsters era uma geração de jovens cheios de animação que buscavam retomar o prazer de dançar os hits de Benny Goodman ou Louis Jordan dentro da ótica do lindy hop, adicionando à melodia original efeitos eletrônicos. O som, além de manter a pulsação do velho swing, recheava a música com novos efeitos e com um beat moderno, rápido e contundente, ao qual eles denominaram “jump-jiving”.

Com os swingsters nasceu um estilo musical alegre e extrovertido que era ao mesmo tempo futurista e retrô, chamado de “neo-swing”, congregando músicos com os instrumentos acústicos de uma big band, mas também produzindo sons mecânicos e eletrônicos. No caso das apresentações ao vivo, a música era um convite para que o público revivesse a febre dos antigos salões.

Ao lado do “neo-swing” surgiu o “swing revival”, que procurava na medida do possível manter as características do swing original.

Musicalmente, neo-swing é uma mistura maluca que coloca no mesmo recipiente o jazz, o swing, o blues, o rock-a-billy, o rock e os diversos ritmos da dance music, e tudo é geralmente executado com intenso vigor, unindo metais estridentes a um som “high-tech” e mantendo uma frequência de beat alucinante. O swing revival contém os mesmos ingredientes, mas pode também transportar o público para uma atmosfera manhosa regada a muito blues.

Em vez do palco estático, que fora a tônica do passado com as orquestras lideradas pelos grandes bandleaders, estas bandas do século vinte e um se exibem ao vivo de uma forma absolutamente dinâmica, com base num som sampleado ou não. A apresentação das bandas é geralmente apoiada por imagens em telões estrategicamente distribuídos pela casa, complementado por um som surrounding e por delirantes efeitos luminosos.

As bandas de neo-swing e de swing revival começaram a se multiplicar, com muito swing e muito happening, uma festa para os olhos e para os ouvidos – The Big Bad Voodoo Daddy, The Cherry Poppin’ Daddies, The Royal Crown Revue, The Squirrel Nut Zippers, Lavay Smith & Her Red Hot Skillet Lickers, The Brian Setzer Orchestra e Ingrid Lucia & The Flying Neutrinos – muitas batizadas com nomes estranhos ou que podem dar margem a uma dupla interpretação. Estas bandas fazem um grande sucesso com a sua mensagem ao mesmo tempo vintage e moderna, frenética e atualizada, com um line-up voltado para as big bands e com um andamento geralmente mais empolgante do que o das orquestras de swing do passado.

Estas orquestras têm se notabilizado por excursões feitas ao redor do mundo, e têm muito material registrado desde o início da febre revival, que aconteceu no final dos anos 1980. Todas estas bandas possuem um intenso apelo visual, de modo que é muito mais gratificante assistir aos seus shows ao vivo ou em vídeos do que simplesmente ouvir suas gravações sonoras.

A maioria delas faz referência a estilos e ritmos que surgiram bem depois do swing e que incrementaram a pulsação da música americana – rock-a-billy, rock, punk, hip-hop, jump-blues, ska – e também manifestações mais antigas como o blues, a country music, o mambo, a salsa e o calypso. Com exceção das músicas já consagradas pelo cancioneiro americano, as letras são de uma maneira geral ligeiramente impróprias.

Uma das características destas bandas é e presença de um cantor performático, a exemplo do que acontece nas bandas de rock, conduzindo os músicos como um maestro, com sua movimentação de palco, seus efeitos de dança e suas caras e bocas.

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