quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

 


AS CORES DO SWING
          (Livro de Augusto Pellegrini)

CAPÍTULO 21 - O NEO-SWING

A febre do swing foi altíssima, e durou cerca de trinta anos. Depois, ela foi naturalmente diminuindo e cedendo lugar a outros modismos, numa prova inequívoca de que a arte musical se renova a cada instante, na eterna busca do ser humano por novidades.

Quando o swing se acalmou durante os anos 1950, a dança frenética do lindy hop deixou de fazer parte dos salões e se transferiu para os palcos ou para as películas cinematográficas na forma de um balé coordenado e dirigido por experts.

O show business se apresentava nas vozes de Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Nat King Cole, Tony Bennett, Ella Fitzgerald, Rosemary Clooney e Doris Day. A música western-country – um gênero marcado por um comportamento não dançante – mantinha a sua tradição com Willie Nelson, Jimmie Rodgers, Hank Williams e Kenny Rogers. Enquanto isso, no final da década, a chamada música da juventude, como o rock de Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Little Richard, abria espaço para o cantor requebrar e se sacudir à vontade, mas diminuía o ímpeto do público em termos de dança.

Neste aspecto, dentro da explosão do rock and roll, a dança se transferia da plateia para o palco. Os artistas mesclavam adequadamente o canto com a dança, e o público, apesar de agir como se estivesse em transe, se limitava a gritar e espernear com muita emotividade e pouca coordenação.

Por outro lado, com o passar dos anos, o rock também foi se intelectualizando à sua maneira e pouco a pouco se transformando numa música underground, marginal, o que obviamente desestimulava a dança. Afinal, havia toda uma mensagem a ser compreendida, o que exigia um comportamento engajado e alguma sobriedade nas atitudes, mesmo partindo daqueles que eram tidos como alienados e inconsequentes e mantinham drogas e alucinógenos no seu cardápio.

Desde meados dos anos 1950 até os anos 1990, o swing tradicional chegou a ser considerado um estilo em extinção, e teve que resistir bravamente aos novos costumes e às novas tendências da música popular americana. O estilo era cultivado apenas por alguns poucos entusiastas, na sua maioria senhores sessentões que continuavam sentindo pulsar nas veias o frêmito causado pelas grandes orquestras. Além deles, existiam os colecionadores de raridades e os pesquisadores, misturados a muitos “neo saudosistas” que apesar de não terem convivido com o swing gostavam dele do mesmo jeito.

Paralelamente, alguns aficionados pela dança gostavam de mostrar em público a sua porção lindy hop, exercendo uma forte atitude corporal e gestual – não ao som do swing, mas das músicas pop que possuíam algum parentesco com o blues e o rhythm & blues.

Durante os anos 1970, os salões – que no passado haviam brilhado com as big bands e os dançarinos de lindy hop – se transformaram em feéricas e psicodélicas casas noturnas denominadas “discoteques” ou “disco clubs”’ onde pontificava a música mecânica transmitida por possantes alto-falantes multifônicos, decoradas pelo pisca-pisca intermitente de uma iluminação que contagiava, embora na verdade mal iluminasse o ambiente.

Os frequentadores dessas casas noturnas dançavam ao som de Harold Melvin & The Blue Notes, The Three Degrees, The O’Jays, The Ebony’s Swamp Dogg, The Fourmost, Chuck Carbo, e até da soul music de Billy Paul, Marvin Gaye e Barry White.

Outra mania “pop-dançante” surgira no início dos anos 1960 com grupos que executavam um tipo de “rock esportivo”, mais apropriado para servir como fundo musical de manobras de surfistas do que para concertos ou discotecas. Faziam parte da relação de surf-rockers os grupos instrumentais Dick Dale & the Deltones, The Bel-Airs, Eddie & the Showmen, The Torquays, Duane Eddy, e as mais tradicionais The Ventures e a banda inglesa The Shadows, todos líderes de paradas de sucessos.

Também estavam em voga o rock-a-billy romântico de Neil Sedaka, o romantismo juvenil de Paul Anka e um cantor negro já mencionado alguns capítulos atrás, risonho e ligeiramente acima do peso e que usava o cabelo cheio de gomalina, chamado Chubby Checker (um apelido que significa algo como “o gorducho que veste xadrez” para o nome artístico de Ernest Evans).

Chubby Checker introduziu na hit-parade o novo ritmo chamado “twist”, que foi baseado, como já vimos, na música “The Twist”, na qual o dançarino se contorcia para fazer jus ao nome.

Embora distante das acrobacias do lindy hop, o twist (e também o hully-gully e outros derivados) ia de encontro aos anseios dos dançarinos de salão.

E ao contrário dos esguios e elegantes lindyhoppers marcados historicamente pelas cultuadas imagens de Frankie Manning e Norma Miller, o rechonchudo Chubby Checker costumava usar terno escuro ou um conjunto calça e paletó nada fashion, decorado por uma gravata fora de propósito, tudo definitivamente antiestético.

A música de Chubby Checker e de seus seguidores fez história, atravessando a América e se espalhando pelo mundo, embora alvo das críticas e da ira dos conservadores. Já próximo aos 80 anos, Checker aposentou o terno brega, mas continua se apresentando regularmente, e a música “The Twist” recebeu o prêmio como o maior sucesso da Billboard entre os anos de 1958 e 2008.

Repetindo o que havia acontecido quarenta anos antes com o swing, e mais tarde com os requebrados eróticos de Elvis “The Pelvis” Presley, o twist foi acidamente condenado por líderes religiosos e outros moralistas, que consideravam a música “uma demonstração de promiscuidade racial”.

Na opinião destes paladinos, que culpavam os negros pela existência do twist, “aquilo era uma música cuja dança estimulava precocemente o apelo sexual dos adolescentes, por causa dos seus movimentos corporais obscenos”.

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