sábado, 16 de outubro de 2021

 


EU E A MÚSICA

YEAH, THE BLUES!
Augusto Pellegrini

(o Brasil no circuito mundial dos festivais)

Parte 3

Foi nesse clima, em maio de 1990, que aconteceu o Segundo Festival de Blues no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (o Primeiro Festival havia acontecido em Ribeirão Preto-SP, na Cava do Bosque, no ano anterior).

O festival teve a produção da LUKR Eventos, comandada por Roberto Cocenza. Também fazia parte da equipe meu amigo e parceiro Renato Winkler que, parodiando Vinicius, viajou muitas canções comigo, e havia interpretado o mestre violonista no curta-metragem “A Busca E A Fuga”, mencionada no capítulo de “Eu e a Música” dedicado a Dick Farney.

Renato e eu tivemos uma curta mas profícua história musical que havia começado em Serra Negra-SP, onde nos conhecemos em meados dos anos 1960. Começamos a compor juntos, e na maioria das nossas composições eu fazia a letra e ele colocava a música, ou eu colocava a letra numa melodia já feita, ou um pouco de cada coisa...

Renato possui uma harmonia diferente do convencional e passa para o ouvinte uma cadência bucólica. Ele é também um poeta de rara inspiração nas suas pinceladas cheias de um neologismo sagaz e de rimas no modelo haicai. É numerólogo nas horas vagas, tendo inclusive publicado um livro a respeito chamado “Guia Oracular – A Chave Do Poder Adivinhatório”.

Em termos de música, ao meu lado, foram doze composições ao longo de quatro anos, de 1970 a 1974, muitas delas regadas a muito vermute tinto com gelo, antes de a parceria ser interrompida pelo meu ingresso numa escola de samba, como mencionado no capítulo de “Eu e a Música” dedicado a Adoniran, e pela minha partida para São Luís-MA.

Em 1990 eu já morava em São Luís, mas Renato insistiu para que eu fosse assistir ao Festival de Blues em São Paulo e para tanto me enviou uma credencial de imprensa, dessas que a gente pendura no pescoço vinte e quatro horas por dia – “Pellegrini Augusto – Radio Mirante FM – São Luís-MA” – posto que eu era – e ainda sou – radialista especializado em jazz (e dizem que em blues, com o que não concordo).

O festival transcorreu de uma forma empolgante e reuniu no mesmo espaço músicos antológicos como Magic Slim, Bo Diddley, Buddy Guy, Junior Wells, Koko Taylor, John Hammond, The Blues Machine, Big Daddy Kinsey & The Kinsey Report e os blueseiros locais André Christóvam, Blues Etílicos e a Brasilian Blues All Stars, composta por Ed Motta, Flavio Guimarães e Roberto Frejat.

A grande vantagem de possuir uma credencial é poder ser uma sombra presente nas entrelinhas do espetáculo, nos bastidores, nos camarins e no hotel onde a trupe se hospedava, local onde via de regra acontecia alguma jam session para confraternizar o blues, além da possibilidade de entrevistas nem sempre exclusivas, mas sempre muito especiais, e a descoberta maravilhosa de que por trás dos artistas consagrados se escondem seres humanos cheios de história para contar.

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