sexta-feira, 7 de outubro de 2022

 


PÁGINAS ESCOLHIDAS

De um livro de contos ainda não publicado
(Augusto Pellegrini)

 DESVENTURAS DE UM FIM DE TARDE

Parmênio, bêbado como um peru de véspera de Natal, não viu o poste com a placa na calçada da praia – meio invisível no lusco-fusco das seis da tarde – e quase se rachou ao meio.
A placa advertia os banhistas sobre o perigo da maré alta no local, pois sua baixa repentina podia carregar mar adentro algum banhista descuidado, sugando o aventureiro com muita força para o centro do oceano.

Irritado com o trompaço no poste da placa, Parmênio começou a lhe dirigir impropérios e parece que ficou ainda mais irritado com a sua mudez, pra não dizer desfaçatez.
Zé Maria, em solidariedade ao companheiro, cismou que a placa estava no lugar errado, pois, raciocinava ele, ali não havia banhistas em perigo. A placa devia ter sido colocada na areia, não na calçada. Ato contínuo, deu um belo safanão com a mão na chapa de metal que, provavelmente indignada com a sua atitude, provocou-lhe um corte no dedo.

Parmênio e Zé Maria se zangaram ainda mais e começaram então a agredir o poste a pontapés como se estivessem enfrentando um adversário numa briga de rua.
A cada chute uma dor, e a cada dor a raiva aumentando.
À distância, o garçom do Bar do Ernesto e o próprio Ernesto a tudo assistiam impassíveis, e viram quando a viatura da polícia chegou e dois meganhas truculentos pegaram os dois amigos com a facilidade de quem carrega uma trouxa de roupa e os jogaram no banco de trás.

Sem mais delongas, o carro partiu em disparada, os pneus gemendo em uníssono com os gemidos dos dois senhores embriagados, que finalmente se deram conta da encrenca em que se haviam metido e começaram a sentir os hematomas e os cortes causados por tão rocambolesco episódio.
Doíam-lhes as mãos, os pés e a consciência. 

 

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